Oito militares da PMRR (Polícia Militar) e do CBMRR (Corpo de Bombeiros) e dois pilotos da empresa Voare Táxi Aéreo foram recepcionados como heróis na tarde deste sábado, 13, na chegada da missão que resgatou o corpo do piloto Liés Carvalho, de 67 anos, morto em acidente aéreo, no dia 3 de fevereiro, na Terra Indígena Yanomami, região do município de Mucajaí.
Após sete dias de trabalho, enfrentando umidade, frio, dificuldade de locomoção, hostilidades naturais características da inóspita região e cansaço, eles chegaram a Boa Vista por volta das 15 horas e foram recebidos por autoridades militares, entre elas, os secretários chefe e adjunto da Casa Militar, coronel Elson Paiva e coronel Ilmar Soares, e os comandantes e subcomandantes da Polícia Militar, coronel Francisco Xavier e coronel Miramilton de Souza, e do Corpo de Bombeiros Militar, coronel Jean Cláudio e coronel Anderson Carvalho.
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Francisco Xavier, destacou o trabalho da equipe e a grandiosidade da tarefa.
“Infelizmente não tivemos o resultado principal obtido que seria o resgate da vítima com vida. No entanto, nossos militares lograram êxito, conseguiram resgatar o corpo, voltaram com vida, enfrentaram uma série de dificuldades, porque estavam num ambiente de muitas hostilidades naturais. Graças a Deus e ao esforço desses policiais e bombeiros militares, hoje eles estão dando condições para que os familiares do piloto possam finalmente velar e prestar as homenagens”, afirmou.
Uma jornada difícil e corajosa
Os policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) da PM iniciaram a missão no dia 5 de fevereiro, foram os primeiros a alcançar o topo da serra, visualizaram a aeronave e encontraram na terça-feira, dia 9, o corpo do piloto.
“Tarefa mais complexa da minha vida. Recebemos a missão na sexta-feira à noite. Chegamos ao local, área de difícil acesso e de mata, e conseguimos encontrar o avião e a vítima que infelizmente estava sem vida. Foram percorridos 32 quilômetros, subida e descida, de uma área muito difícil, mas graças a Deus estamos bem e prontos para servir a sociedade”, disse o tenente da Polícia Militar, Marcos Holanda.
Preparados para permanecer menos tempo na região, os policiais militares tiveram de mastigar folhas de mato para se hidratar e se alimentar até a chegada ao local onde estava o monomotor.
Quando os militares do Corpo de Bombeiros os encontraram, eles se alimentavam de produtos sem cozimento, aproveitando os mantimentos que estavam na aeronave e seriam levados para as equipes de saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y).
A equipe dos bombeiros saiu de Boa Vista no domingo, 7. Os militares foram deixados por uma aeronave num local com mais ou menos 1.500 metros de altitude. Na segunda-feira, 8, iniciaram a jornada rumo ao topo da Serra, onde a equipe do Gate já estava.
Eles chegaram ao cume na terça-feira, 9, e realizaram a retirada do corpo do piloto da aeronave e ficaram aguardando um avião que faria o traslado, mas isto não ocorreu. No final da quarta-feira, 10, as equipes foram informadas de que não havia possibilidade de resgate aéreo. Os militares teriam de descer com o corpo.
Com maca improvisada, feita com a chapa do motor do avião, os oito militares, quatro deles carregando o corpo, dois na frente fazendo a navegação e dois atrás na segurança, desceram a serra por dois dias até chegarem, na tarde de sexta-feira, dia 12, a um local onde seria possível o resgate aéreo.
“Por volta das seis horas deste sábado, foi realizado o resgate do corpo do comandante Liés Carvalho. Depois, a aeronave trouxe os componentes da Guarnição, quatro militares do Corpo de Bombeiros e quatro militares da PM”, explicou o sargento do Corpo de Bombeiros, Júlio Godoi.
Ele ressaltou a dificuldade da missão. “Somos treinados para realizar esse tipo de missão, porém encontramos algo de magnitude diferente”.
Sobre a colaboração com a equipe da Polícia Militar, trabalho exaltado também pelas demais autoridades, o sargento ressaltou “dividimos alimentos, saco de dormir, rede, enfrentamos frio e umidade, agregamos”.
Cronologia dos fatos
O monomotor Cesnna 206, prefixo PT KVW, da empresa Voare Táxi Aéreo, decolou de um aeródromo no município do Cantá, por volta das 11 horas do dia 3 de fevereiro, com destino à Terra Indígena Yanomami e previsão de voo de pouco mais de uma hora, e perdeu contato com a base de controle.
A aeronave transportava insumos das equipes de saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y), desapareceu enquanto sobrevoava a região de Surucucu e foi localizada no início da tarde do dia 4, no topo de uma montanha, entre a Serra da Estrutura e a comunidade Uxiu, em Mucajaí.
O corpo do piloto Liés Carvalho, de 67 anos, foi encontrado pela equipe de busca na tarde da última terça-feira, dia 9, e trazido para Boa Vista neste sábado.