Exposição em RR transforma objetos de refugiados em obras de arte

Intervenção artística é uma iniciativa da ONG Visão Mundial e contou com apoio do Coletivo de Arte Urbana PLAC. Obras de arte ficarão expostas no Pátio Roraima Shopping até 30 de junho. – Fotos: Josué Ferreira

“Quero que as pessoas o vejam como sobrevivente de uma nação rica que se tornou deprimida. Quero que fale por mim, conte a minha história. Que caminhe mais que eu. Não sei se eu vou caminhar mais, mas ele, sim, pode”. A declaração é de Núbia, venezuelana que migrou ao Brasil, ao se despedir do chapéu que mais gostava. O item carregado de recordações foi doado à ONG Visão Mundial para ser transformado em uma obra de arte.

A proposta da campanha, denominada “Camina Conmigo”, é falar de sonhos e oportunidades através da arte, refletir sobre o contexto migratório e combater a xenofobia. A exposição com 20 obras, todas feitas com objetos de migrantes e refugiados, foi aberta nesta segunda-feira, 20 de junho, em alusão ao Dia Internacional do Refugiado. As telas foram produzidas pelo Coletivo de Arte Urbana: “PLAC, os carimbadores malucos” e estão expostas no Pátio Roraima Shopping até o dia 30 de junho, das 10h às 22h.

“O que queremos é mostrar que cada pessoa que migra tem uma história, às vezes, baseada nas dificuldades, mas sempre em busca de um futuro melhor, de oportunidades, de sonhos. A Visão Mundial já desenvolve um trabalho no Brasil para que esses migrantes alcancem a sustentabilidade social e econômica, tão importante para quem deixa o seu país. E são esses sentimentos de garra, força de vontade, e esperança em dias melhores, que a exposição enaltece”, fala Bárbara Gil, coordenadora do projeto “Ven, Tú Puedes”, em Roraima.

‘Camina Conmigo’

Para coletar os objetos, a ONG foi até a cidade de Pacaraima, fronteira com a Venezuela, e trocou novos itens por aqueles selecionados pelos próprios migrantes. Além disso, coletou os depoimentos de parte dos migrantes e produziu um documentário lançado hoje pela organização. Depois, os objetos foram repassados a artistas brasileiros e venezuelanos do Coletivo de Arte Urbana: “PLAC, os carimbadores malucos”, que, através da história dos objetos, deram vida às obras de arte.

Leila Baptaglin, artista do coletivo e professora do curso de licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal de Roraima (UFRR), afirma que criar as obras a partir das histórias foi um grande desafio. Ela cita que, às vezes, as narrativas apresentadas junto com os objetos não são agradáveis, mas trazem sonhos, desejos, e ideias de melhorias.

“A proposta que a gente está colocando nas nossas obras é de mostrar esse perspectiva humana, de acreditar que dias melhores virão, de acreditar em possibilidades, de acreditar na humanidade, enquanto um processo de que todos nós somos seres humanos, todos nós merecemos estar humanamente em qualquer espaço que a gente se encontre”, declara a artista.

Entre os objetos coletados, que foram usados nas obras de arte, estão:peças de roupas como calças, bermuda, camiseta; sandálias; sapatos; colar; brincos e mochilas. Os artistas também pintaram dois painéis de 2,85m x 1,83 m, com elementos da migração. Um deles, por exemplo, mostra uma pessoa à espera de carona na estrada, com uma mochila, uma realidade de quem migra.

O artista venezuelano Fredi Escobar fala que criar as obras a partir dos objetos foi uma experiência nova, e destaca que as telas trazem perspectiva universal. Ou seja, que a migração é uma realidade a nível mundial, e não apenas de Roraima.

“O que transmite é que todos somos iguais. Não temos essa questão de uns são mais e outros são menos. Todos temos uma função específica, que querendo ou não, nos alimentamos dela e nos conectamos a partir dela. Então, para mim, foi essa conexão através da arte, transmitir também esse panorama do que vivemos atualmente”, disse o designer gráfico.

Ven, Tú Puedes

O projeto é uma resposta da Visão Mundial à crise migratória da Venezuela, que desenvolve ações em Roraima, Amazonas e São Paulo para ajudar migrantes e refugiados a se inserirem socioeconomicamente no Brasil. A iniciativa é financiada pelo governo dos Estados Unidos e beneficiou 40 mil pessoas no ano passado.

Entre os serviços oferecidos estão aulas de língua portuguesa, elaboração de currículos, apoio na emissão da carteira de trabalho digital, encaminhamento ao mercado de trabalho e acompanhamento de entrevistas. Além disso, a organização atua na sensibilização do setor privado, a fim de abrir vagas para esse público.

Visão Mundial

A World Vision, conhecida no Brasil como Visão Mundial, é uma organização humanitária dedicada a trabalhar com crianças, famílias e suas comunidades para atingir todo o seu potencial, combatendo as causas da pobreza e da injustiça. No Brasil desde 1975, atua por meio de programas e projetos nas áreas de proteção, educação, advocacy e emergência, priorizando crianças e adolescentes que vivem em situações de vulnerabilidades.

Josué Ferreira

 

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