Lideranças discutem temas sensíveis às comunidades e buscam soluções junto ao Poder Legislativo

Alcoolismo, saúde mental, política partidária e importância das associações foram alguns dos temas abordados. – Fotos: Jader Souza

O Programa de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania (PDDHC) da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) reuniu na tarde desta sexta-feira, 8, no Plenário Valério Caldas de Magalhães, mais de 50 lideranças indígenas de diferentes regiões durante o 1º Encontro de Lideranças Indígenas na Atualidade.

O evento, que reuniu 23 comunidades, 1º e 2º tuxauas, professores, coordenações de mulheres e jovens, teve como finalidade analisar a importância e o papel das lideranças indígenas no contexto atual, e quais as consequências do mundo moderno para esses líderes na sociedade.

“O encontro é o pontapé para novas ações. Essa foi uma solicitação das comunidades indígenas, para que realizássemos um trabalho junto às lideranças, mostrando a importância de ser líder numa comunidade. Vamos ouvi-las nesse encontro e depois realizar os módulos de acordo com as propostas definidas neste evento”, explicou a diretora do Centro de Apoio e Assuntos Indígenas do PDDHC, Socorro Santos.

O encontro foi dividido em cinco módulos, os quais foram amplamente discutidos: “Papel das Lideranças no Contexto Atual”; “Representatividade das Lideranças nas Comunidades Indígenas x Alcoolismo”; “Política Partidária e o Papel das Lideranças Indígenas”; “Saúde Mental Indígena: é Preciso Cuidar” e “A importância das Associações e Cooperativas Indígenas”.

A próxima etapa, explicou a diretora, vai levar capacitações em módulos para as comunidades. “Elas trouxeram alguns temas, como alcoolismo, saúde mental, haja vista que muitos jovens estão cometendo suicídio na comunidade. Querem que sejam trabalhados esses temas junto aos jovens e às lideranças mais antigas. Com os jovens, sobre visão atual, com o uso da internet, e o segundo, com os conhecimentos tradicionais. Como esses líderes podem liderar usando tanto o conhecimento tradicional quanto a tecnologia”, detalhou.

Para Socorro, discutir esse assunto é um grande passo para encontrar o equilíbrio. “A Assembleia está de parabéns ao ouvir os indígenas, e após esse encontro vamos levar uma capacitação por módulos às comunidades”, acrescentou.

A deputada Lenir Rodrigues (Cidadania), presidente do PDDHC, disse que o encontro permitirá nortear ações para o Centro de Apoio e Assuntos Indígenas do programa. “Vai subsidiar o Centro com informações porque é importante termos essas bases para propor políticas públicas. Com essa troca de informações e vivências, poderemos elaborar ações mais efetivas para as comunidades. Hoje a Assembleia só faz alguma atividade nas comunidades quando as lideranças requerem”, explicou.

A conselheira indígena Sandra Salustiano, da Comunidade do Pium, município de Alto Alegre, região do Tabaio, aproveitou o evento para entregar uma carta-denúncia sobre a violação de todos os direitos constitucionais dos povos indígenas, praticada, segundo eles, por um produtor que desenvolve a monocultora no local.

“Viemos solicitar apoio aos nossos governantes. Esse produtor invadiu a nossa terra sagrada, terra que na época da demarcação não foi demarcada por uma questão institucional. Mas esse tempo todo conservamos porque é uma área onde nasce o igarapé principal da comunidade e rica em plantas medicinais. Esse é um comportamento de grilagem, além disso ele cercou a área, colocou drones, queimou dois barracões sagrados e seis casas, colocou câmeras para nos monitorar, uma verdadeira invasão de privacidade”, destacou.

O professor Severino Cruz, da Comunidade Taba Lascada, região do Cantá, a 26 quilômetros de Boa Vista, disse que o encontro traz assuntos importantes, como alcoolismo, que é uma realidade nas comunidades.

“Esse diálogo é importante porque as comunidades estão vivendo um momento diferente, são vários aspectos diferentes. Um tema de grande relevância é o alcoolismo e a tecnologia. São temas complexos para as antigas lideranças, as quais tiveram uma história construída de forma diferente. Várias coisas entraram na comunidade de forma bem rápida e nós, lideranças, não acompanhamos”, disse.

Marilena Freitas

 

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