As modalidades, as formas de aliciamento e de prevenção ao tráfico de pessoas foram temas de uma palestra para seis turmas do ensino médio da Escola Estadual Gonçalves Dias na manhã desta quarta-feira, 27, oferecida pelo Centro de Promoção às Vítimas de Tráfico de Pessoas do Programa de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania (CPVTP – PPDHC) da Assembleia Legislativa de Roraima (ALERR) em parceria com a Rede Um Grito Pela Vida, organização não governamental (ONG) internacional da Igreja Católica.
A iniciativa faz parte da programação especial – palestras, rodas de conversa, exibição de filmes – organizada pelo CPVTP nesta quarta, sexta, 29, e sábado, 30, em alusão ao Dia Mundial e Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, celebrado em 30 de julho.
Alunos de 14 a 18 anos assistiram ao documentário “Norte Desconhecido”, escutaram histórias impactantes de vítimas e foram inseridos no contexto geográfico – fronteira com a Guiana e a Venezuela – que coloca Roraima como um dos corredores do crime no país.
“A escola Gonçalves Dias tem o público-alvo do tráfico de pessoas que é o jovem do ensino médio, então aqui o que trazemos é uma palestra para chocar mesmo os adolescentes para que eles possam se proteger”, afirmou o coordenador do CPVTP, Glauber Batista.
Vulnerabilidades
Silenciosa e difícil de ser identificada, e ainda pouco divulgada, é a exploração de vulnerabilidades, principalmente socioeconômicas, que alimentam esse mercado de violação dos direitos humanos, que tem a exploração sexual, a remoção de órgãos e a adoção ilegal como alguns dos tipos mais comuns.
Durante a palestra, Felipe Ramos, enfermeiro do CPVTP, alertou que o tráfico atrai vítimas vulneráveis facilmente, porque vende “oportunidades” de uma vida melhor.
“Imagine que você tem um sonho em ser modelo, cantora, por exemplo. E chega um determinado grupo e diz que você tem todo o perfil. Então, eles jogam a isca da oportunidade de a pessoa ser modelo, e ela ‘cai’. Por isso que quando a gente fala sobre tráfico de pessoas, raramente se escutam relatos de que a pessoa foi raptada, e sim que vai por conta própria”, pontuou.
Justamente por causa da propensão dos mais jovens de serem vítimas, Michelli Carvalho, professora de português, garante que o assunto continuará a ser explorado em sala de aula. “Como o palestrante falou: as pessoas são traficadas atraídas por aquilo que elas almejam alcançar e muitos dos alunos têm sonhos de saírem daqui, de exercerem profissões ou de estudarem fora. É um assunto extremamente pertinente do qual a Língua Portuguesa pode se apropriar, principalmente na parte de produção textual e de pesquisas sobre cada uma dessas variações do tráfico de pessoa”, garantiu.
Rayan Victor Santos, 17 anos, estudante do 3º ano do ensino médio, ficou surpreso ao descobrir que mora numa das rotas de tráfico. Para ele, faltam informação e divulgação da dimensão do problema no Estado. “Aqui não é comum falar sobre isso. Eu já ouvi falar de São Paulo, do Amazonas. Minha mãe falou que aqui começaram a acontecer essas coisas, mas não é informado, ainda está escondido, por debaixo dos panos”, declarou.
Valdenrique Macedo, gestor da escola, espera que a semente plantada pela palestra e as aulas futuras tornem os alunos divulgadores dos perigos do tráfico de pessoas. “Essa é uma oportunidade única. Até então a gente não sabia muito informações sobre o tráfico em Roraima. Que os nossos alunos sejam multiplicadores nas suas casas e onde eles estiverem inseridos”.
Panfletagem
Nesta quarta, pela tarde, o Centro de Promoção às Vítimas de Tráfico de Pessoas do Programa de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania CPVTP – PPDHC) fez panfletagem informativa para quem circulava no Terminal Rodoviário Internacional José Amador de Oliveira, na avenida das Guianas, 1523, bairro 13 de Setembro.
Programação:
29/07 – 9h: roda de conversa sobre o filme “7 Prisioneiros” na Paróquia de Nossa Senhora Consolata;
30/07 – 17h30: ação do Dia Mundial e Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas na Praça das Águas com panfletagem.
Dia de luta
O Dia Mundial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas foi instituído pela Assembleia Geral da ONU (Organizações das Nações Unidas) em 2013. No Brasil, a data entrou no calendário nacional em 2016, pela Lei nº 13.344/2016, importante marco regulatório que atua na prevenção, repressão e assistência às vítimas do crime.
Política pública
O recrutamento, transporte ou alojamento de pessoas, por meio de ameaça ou uso da força para fins de trabalho análogo à escravidão, exploração sexual, remoção de órgãos e adoção ilegal são alguns tipos mais comuns do tráfico de pessoas.
Desde 2016, a Assembleia Legislativa trata o tema como política pública por meio do Programa de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania, presidido pela deputada Lenir Rodrigues (Cidadania), que abarca o Centro de Promoção às Vítimas de Tráfico de Pessoas; os projetos Educar é Prevenir, Prevenção sem Fronteiras e Mira Ellos, e é pioneira nas ações de prevenção.
Canais de denúncia
Para denunciar casos de tráfico de pessoas, contrabando de migrantes, tráfico de mulheres e outros crimes semelhantes, disque 100. O serviço dos Direitos Humanos funciona 24 horas por dia e é gratuito.
Suellen Gurgel