De 2017 a 2021, conforme dados do Sistema de Notificação e Agravo da Saúde, em Boa Vista foram registrados 15.310 atendimentos antirrábicos nas unidades de saúde. Em comparação aos casos confirmados de dengue, no mesmo período, foram 1.631, diferença de 939%.
Os números foram apresentados, ano a ano, pelo deputado Marcinho Belota (PRTB) em discurso na tribuna da Assembleia Legislativa de Roraima nesta quinta-feira, 9. A intenção do parlamentar foi chamar a atenção para a causa animal que atinge diretamente a saúde pública.
Ao comparar os atendimentos antirrábicos aos casos confirmados da dengue, Belota afirmou que para a segunda doença há campanhas de prevenção. “Da dengue, todos falam, mas quando a gente fala de animal, tem que mostrar a realidade”, disse.
O parlamentar compartilhou um mapa com a classificação de risco por agressões de cães e gatos na capital. Dividido em cores, ele enfatizou o vermelho como bairros com mais incidentes, localizados, principalmente, nas zonas Oeste e Sul.
O deputado ressaltou a importância de cada parlamentar defender pautas específicas. “Muito se fala do índio, da segurança, da internet que é falha, das estradas, mas não se fala da causa animal, que é uma questão de saúde pública”. Ele pediu apoio dos demais parlamentares para esta bandeira.
Belota aproveitou para citar ações em andamento, como a chegada de “castramóveis” para castração gratuita de animais e um trailer para atender os moradores de rua com banho e higienização pessoal. “Sem nenhum centavo de dinheiro público, com apoio de parceiros, conquistamos dois carros”, disse.
Colegas de Parlamento aproveitaram os tempos de aparte para manifestar apoio à situação animal. A deputada Aurelina Medeiros (PP), autora de matérias legislativas voltadas à temática, pediu o cumprimento das leis vigentes e sugeriu aos Poderes Executivos (estadual e municipal) espaços adequados de recolhimento animal e o estabelecimento de penalidades para quem maltratar ou abandonar animais.
Marcinho Belota falou ainda sobre críticas que recebe pelo trabalho de resgate de animais em situação de rua. Os deputados Dr. Meton (MDB) e Lucas Souza (Pros) o defenderam. “Precisamos de medidas de controle animal, é urgente para evitar o aumento de zoonoses”, frisou Meton.
Ao pegar o mapa disponibilizado por Belota, o deputado Rárison Barbosa (PMB) se surpreendeu ao ver que o bairro onde reside está na área vermelha de incidentes com cachorros. “Acho que só na minha rua tem uns cem cachorros, muitos deles têm dono, mas muitas dessas pessoas não têm compromisso”. Ele compartilhou a experiência de sofrer um acidente de trânsito causado por animais na rua.
Como delegado de Polícia Civil, o deputado Jorge Everton (União) recordou ocorrências contra animais. Citou como exemplo um caso de Mucajaí em que um homem agrediu a mulher e matou o cachorro. “Não sabíamos qual era o sangue da esposa e qual era o do animal”, lamentou. “Temos uma necessidade sanitária de cuidar das pessoas e os animais são essenciais”.
O deputado Dr. Cláudio Cirurgião (União) explicou que a raiva, doença transmitida pela mordida do cachorro infectado, é perigosa. “É um problema de saúde pública. A raiva tem mortalidade de 100%, a chance de cura é praticamente nula. Ela causa encefalite, uma inflamação grave no cérebro. Quando você milita nesta causa de recolher os animais, combate as zoonoses e protege a população”.
A deputada Angela Águida Portella (PP) parabenizou a forma como Marcinho Belota embasou o primeiro discurso na tribuna da Assembleia Legislativa. Para ela, a maneira como o colega de Parlamento trata o assunto mostra que, além de compaixão, as pessoas precisam ter a responsabilidade. “Existem outras zoonoses também e precisamos entender que a pessoa que sofre acidente de moto, de bicicleta, tem custo alto para o governo com cirurgia, internação, traumas ortopédicos mais demorados. É preciso compreender a gravidade da situação”.
Yasmin Guedes