Diante de uma nova onda criativa, eis que surge para a sociedade roraimense, o espetáculo “Rasga Mortalha” do jovem diretor Hander Frank, a propósito o premiado artista também reúne em seu portfólio prêmio no festival de Quadrilhas Juninas do Boa Vista Junina, além de participações em inúmeros festivais e campeonatos em nível nacional.
O espetáculo “Rasga Mortalha” reúne entre os seus artistas as mais inovadoras interpretações de atores que arrancam do público aplausos incontidos, pelas criativas expressões das performances de seus personagens, nova geração de atrizes e atores múltiplos em sua jornada, encantadores em sua atuações, e nos improvisos um alto nível de resolução de atos, sem perder em momento algum a captação da atenção do público expectador ao desenvolvimento dos personagens durante todo o enredo.
Dentro da genialidade fantástica do diretor, os personagens encantam pela sua incorporação de elementos da cultura local ao espetáculo teatral, bem como os efeitos dos costumes e hábitos das comunidades ribeirinhas viventes da Amazônia Setentrional marcarem consideravelmente a linguagem, os trejeitos, e os movimentos corpóreos, fruto da observação e estudo pelos atores e atrizes na elaboração característica dos sujeitos relatados nas cenas da peça teatral genuína do Roraima.
Nesse contexto, surgem os causos e contos amazônicos, que se entrelaçam com as místicas e mitologias da região amazônica, enveredando pela originalidade do roteiro e que dialoga com as questões mais profundas das vivências dos povos amazônidas.
Outro ponto alto de sua produção, refere-se à autenticidade de seu figurino, que ao difundir expressões mitológicas remetem-nos aos consagrados escritos históricos em consonância aos mais diversos traçados da tessitura das formas estéticas dos povos da Amazônia. A imagem mescla a simbologia de elementos da urbanidade interiorizada pelas dificuldades do acesso do povo às modernas vestimentas nas cidades metropolitanas. A dialética é iminente visto os enormes efeitos propositivos da crítica social necessárias para reflexão da sociedade, a fim de perceberem a importância dos povos amazônicos para a cultura nacional e os efeitos benéficos da produção de base comunitária para produção de alimento a sustentar o consumo das cidades urbanas.
Algo que encanta eu sua produção é justamente uma de suas críticas sociais, o acesso à tecnologia dos povoamentos ribeirinhos, diferentemente em seu espetáculo assume espaço singular, pois reproduz tecnologicamente as ambientações dos cenários, pensados a partir da perspectiva dos povos viventes da Amazônia, suas palafitas e modestos lares, atribuindo visualidade rica, sinergia de leituras visuais aos mais variados contextos da realidade da vida do homem e da mulher no interior da Amazônia.
A tecnicidade de seu espetáculo, assume especial destaque, pois dos próprios figurinos emergem efeitos de iluminações, projetando transições fascinantes, bem como a própria dimensão dos efeitos fundem-se de forma mágica aos personagens, culminando em pura criatividade e simbologias de suas performances.
Toda a estrutura criativa montada em instalações artísticas, comprovam a riqueza poética da obra teatral, pois comprova a importância de conservação das comunidades tradicionais, a fim de manter em pé não apenas as tradições locais, mas a garantia de se perceber a Amazônia Profunda negada pela ganância do homem da modernidade, que excluem os moradores afastados das metrópoles, que sem pudor algum desprezam a existência e importância de vivências humanísticas, equilibradas e sem comprometer o meio ambiente, pois a presença de seres responsáveis, e cujo sentimento de pertencimento evitam a deterioração da biodiversidade, ameaçada a partir de uma lógica nefasta de destruição da floresta, e consequentemente de toda a sinergia conquistada nas relação sociedade e natureza existentes na Amazônia.
A condução de toda a trajetória do roteiro é em especial vivida pelos personagens no Extremo Norte do Brasil, na comunidade ficcional do Uariri, Amazônia Setentrional Roraima, para remeter a compreensão da sociedade urbana para com todas as comunidades tradicionais que estabelecem maneiras recíprocas de respeito, maturidade frente aos desafios ambientais, e pela cooperação das comunidades tradicionais à erradicação das desigualdades sociais existentes, e do próprio combate à fome a partir de ações estruturantes eficazes como a valorização da produção de base comunitária, a agricultura familiar, como garantia da própria prática de comercialização saudável dos produtos excedentes da floresta para os cidadãos e cidadãs das cidades metrópoles do Brasil.
(*) Shigeaki Alves – jornalista