Dados do Neac (Núcleo de Estatística e Análise Criminal) da PCRR (Polícia Civil de Roraima) apontam três registros envolvendo o tráfico de pessoas nos últimos três anos em Roraima. O baixo índice pode ter como causa, conforme a diretora do DPE (Departamento de Polícia Especializada), delegada Elivania Aguiar, a subnotificação, ou seja, a falta de denúncias na Polícia Civil.
De acordo com os registros do Neac, em 2021, apenas um registro de ocorrência envolvendo o tráfico de pessoas foi feito em Roraima, especificamente no município de Rorainópolis. Trata-se de um homem de 23 anos, brasileiro, e a causa identificada para o fato foi de que a vítima havia sido cooptada para trabalho em condições análogas à de escravidão.
Em 2022, foram dois registros em Boa Vista no âmbito da PCRR. Nestes casos, as vítimas foram identificadas como sendo duas mulheres, sendo uma delas venezuelana recém-nascida, para fins de adoção ilegal. A outra foi uma adolescente de 13 anos, para a exploração sexual.
Neste ano de 2023 não houve registros na Polícia Civil de Roraima deste tipo de crime.
De acordo com a diretora do DPE, a ONU (Organização das Nações Unidas) define tráfico de pessoas como “o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo-se à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração”.
Ainda de acordo com a organização, estima-se que o crime movimente, por ano, 32 bilhões de dólares em todo o mundo, e que 85% deste valor provém da exploração sexual.
Para a diretora do DPE, essa contradição entre os dados locais e os mundiais pode ser explicada por dois motivos.
“O tráfico internacional e interestadual é investigado pela Polícia Federal. Por isso o registro do tráfico de pessoas em Roraima é muito baixo. Além disso, temos uma peculiaridade, que é a fronteira com a Venezuela, Guiana e Amazonas, e isso leva a grande parte da apuração destes crimes para a Polícia Federal”, relatou.
Outra situação relatada por Elivania Aguiar é a subnotificação dos casos.
“Na verdade, a maioria das vítimas deste tipo de crime tem muito medo de denunciar. Mesmo quando recebem ajuda para sair desse contexto do tráfico de pessoas, elas se recusam a registrar a ocorrência por medo das pessoas que fizeram isso matarem elas ou alguém da família, já que os criminosos também cometem inúmeras ameaças”, afirmou.
A denúncia sobre esse tipo de crime, conforme a delegada, é importante e deve ser feita.
“A polícia não medirá esforços para resguardar a identidade e a vida daqueles que foram vítimas do tráfico de pessoas ou que querem denunciar o crime. O conhecimento real destes crimes é a única forma de combate e enfrentamento, por isso nós incentivamos, clamamos para que as vítimas denunciem de fato o tráfico de pessoas”, avaliou Elivânia Aguiar.
Jéssica Laurie