A redação dos resultados e discussão das comunicações científicas tem alguns aspectos singulares que precisam ser conhecidos para que possa ser feita adequadamente. O primeiro é relativo ao fato de que essa redação, em grande parte, é a descrição do conteúdo de figuras e outros esquemas diagramáticos. Esses recursos são utilizados porque têm a capacidade de sintetizar sem muita perda ou sem perdas significativas daquilo que se encontrou na realidade. Quando o cientista coloca uma figura em seu estudo, essa figura representa a síntese, uma espécie de fotografia, de sua descoberta. Por essa razão, toda seção de resultados precisa de esquemas visuais, lógicos e/ou matemáticos. O segundo aspecto é relativo à robustez ou ousadia das descobertas. Quanto mais ousada ou inusitada for, mais fortes e em maior abundância devem ser as comprovações, o que implica em uso de recursos mais sofisticados e em maior número das figuras e esquemas sintetizadores da realidade. Isso cumpre a praxe entre as comunidades científicas de que afirmativas extraordinárias exigem comprovações da mesma magnitude. E o terceiro é que nunca, absolutamente nunca se deve ir além do que os fatos, os dados, permitem. É aqui, como veremos, que se deve utilizar esquemas interpretativos válidos. Vejamos como essa parte das comunicações científicas é redigida.
Cada resultado deve ser a resposta a uma questão norteadora ou hipótese específica. Se houver cinco questões ou hipóteses, essa seção deve conter cinco subseções. Para cada resposta ou hipótese, deve-se apresentar pelo menos uma evidência que demonstre a resposta obtida ou o resultado do teste alcançado. Essas evidências podem ser apresentadas em forma de quadros, tabelas, gráficos, fotografias, equações e muitas outras formas. Apesar da variedade, a regra que comumente os grandes cientistas utilizam é a de escrever, na parte de cima de cada figura, pelo menos um parágrafo mostrando o conteúdo daquela evidência apresentada. Se for uma tabela, descreve-se o que o que queremos que o leitor veja nas linhas e colunas; se for uma equação, a relação entre as variáveis independentes e seus impactos sobre a variável dependente; e assim por diante. Na parte de baixo da evidência apresentada deve-se dizer o que aqueles conteúdos querem dizer. Aqui, portanto, devem ser descritos os esquemas lógicos que dão sentido àqueles conteúdos e que representam, em última análise, a descoberta, a resposta à questão norteadora ou o resultado da hipótese formulada. Geralmente são escritos pelo menos dois parágrafos com esse intuito. Se se optar, pelo menos mais um parágrafo deve ser adicionado comparando aquele resultado empírico com o que prevê a arquitetura teórica do estudo.
Como é feita a redação? Regra geral, todo parágrafo tem que começar com a descoberta. Essa descoberta precisa ser uma oração completa, com sujeito e predicado claros, em no máximo duas linhas. Em seguida, começa-se a descrever o conteúdo da evidência, nos casos dos parágrafos acima da figura, ou a apresentar a lógica da descoberta, da resposta encontrada ou do resultado do teste de hipótese. Em termos lógicos, esse esquema de redação tem o seguinte esquema: afirma e comprova, para a apresentação dos conteúdos, e afirma e explica, para o caso da apresentação da descoberta. O mesmo procedimento deve ser seguido para a comparação dos resultados empíricos com a previsão da arquitetura teórica: afirma-se o que tem em comum ou em desacordo e em seguida explica-se.
Apresentar os resultados, portanto, é mostrar por escrito o que foi encontrado na realidade. Isso é feito descrevendo-se as peças encontradas (conteúdo das figuras), colocando-se em evidência os aspectos que devem ser considerados pelos leitores para que entendam com adequação a lógica que vai ser apresentada em seguida. Esse procedimento, escrito na parte de cima das evidências, é afirmativo e descritivo. A apresentação dos resultados continua na parte de baixo das evidência com o sentido, a lógica que está por trás daquelas peças descritas na parte de cima das figuras. Aqui o esquema é afirmativo e explicativo. A última parte da apresentação dos resultados é a comparação da lógica descoberta com a arquitetura teórica do estudo. Aqui a lógica é afirmativa e interpretativa. Interpretar é apresentar a compatibilização da descoberta empírica com a arquitetura teórica. Noutras palavras, é mostrar de que forma aquela descoberta se encaixa no quadro teórico de referência.
E o que é discussão dos resultados, afinal? É a junção das descobertas parciais, aquelas apresentadas em cada subseção, e apresentação de um esquema lógico que está por trás dela e que dá sentido a elas. É aqui que entra a pergunta de pesquisa e o objetivo geral do estudo. Quando as questões norteadoras são devidamente formuladas, integram um todo que é justamente a questão central de pesquisa. Questões norteadoras são partes e a questão central é o todo. Aqui, então, explica-se a integração das descobertas parciais para a composição da descoberta global. Discutir os resultados é apresentar a grande descoberta e sua contribuição para a ciência. Recomenda-se que a redação comece com a apresentação da grande descoberta e em seguida o acoplamento de cada resultado parcial no contexto da resposta à pergunta ou hipótese central. E tudo finaliza com a demonstração de como a descoberta contribui para a ciência, que é a finalidade de todo estudo científico, naturalmente.
Diferentemente do que se pode imaginar, a apresentação e discussão dos resultados não consiste na tentativa de destruição de estudos que ferem as lógicas descobertas no nosso estudo e tampouco o endeusamento dos que estão com elas afinados. Isso não é ciência. Se o método científico foi devidamente aplicado, todo os resultados são válidos, quer a gente fique ou não ofendido com as descobertas. Aliás, a ciência não ofende ninguém porque ela se atém aos dados e esquemas lógicos contidos neles. A apresentação dos resultados é o ponto culminante da investigação onde demonstramos a efetiva colaboração do nosso estudo para o estoque de conhecimentos científicos.
(*) Daniel Nascimento-e-Silva, PhD, Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)