Entre as 698 pessoas atendidas na segunda edição do ‘Meu Pai tem Nome’, no último sábado, 19, a história de Ricardo Silva Lopes comoveu a todos com o sentimento de alívio e felicidade. Ele conseguiu, por intermédio da Defensoria Pública de Roraima (DPE), reconhecer na certidão de Evelyn Yohanna, de 9 anos, a sua paternidade socioafetiva.
Segundo o pai afetivo, a menina foi uma benção em sua vida, ajudando-o a enfrentar as dores da morte de sua mãe. “Toda vez que eu olhava para ela, parecia que eu me via junto com a minha mãe. Sempre tive a vontade de que ela fosse reconhecida como minha filha. Não existe essa questão de que eu não seja o pai biológico, ela é a minha filha. Quero que ela tenha todos os direitos de um filho, pois será motivo de alívio e felicidade para mim”, relatou Ricardo, emocionado.
O projeto nacional é uma iniciativa do Conselho Nacional das Defensoras e Defensores Públicos-Gerais (Condege), em parceria com as Defensorias Públicas Estaduais e Distrital.
Caso de família
A mãe de Evelyn, Gracineia da Silva, conta que o pai biológico registrou a criança, porém não desenvolveu um vínculo emocional forte com ela, ao contrário de Ricardo. Gracineia foi namorada de Ricardo durante 5 anos e depois se distanciaram. Após o nascimento da menina, eles se reaproximaram e o vínculo paterno foi crescendo. Ele esteve presente durante toda a criação de Evelyn e, agora, finalmente, será registrado como pai juntamente ao pai biológico dela.
“Ricardo demonstrou interesse e afeição pela minha filha e eles compartilharam momentos especiais juntos, como passeios e idas a restaurantes. Sempre foi um pai de verdade para ela e a história deles simboliza a importância do apoio paternal, e como um pai não biológico pode ter um impacto significativo na vida de uma criança”, conta Gracineia.
Motivação para a ação
Gracineia soube do projeto ‘Meu Pai Tem Nome’ por meio de um anúncio de rádio, enquanto preparava o almoço. Logo depois, procurou os envolvidos com a documentação necessária para fazer parte do dia “D”. As ações e serviços da Defensoria também são transmitidos pelo Spotify e Deezer.
Ela e o pai não biológico já tinham conversado sobre fazer o registro com o sobrenome dele para que a criança pudesse viajar e explorar o mundo. A oportunidade de participar do projeto surgiu como a chance de oficializar essa intenção.
Gracineia conta que Evelyn está ansiosa e feliz por finalmente ter o sobrenome do pai não biológico. Ela ressaltou que o registro representa a realização da criança e a validação do papel importante que o pai socioafetivo desempenhou em sua vida. “A conexão entre eles é forte. A Evelyn sente um amor e cuidado genuínos por Ricardo”, finalizou.
On line
Os interessados e interessadas no reconhecimento paterno não se limitaram apenas aos atendimentos presenciais. Com o apoio da Câmara de Conciliação, cerca de 40 pessoas puderam entrar com a ação de paternidade por meio de videoconferência. Desse total de pessoas atendidas on-line, 15 casos são de pais que estão atualmente no sistema prisional e um vive no exterior, exatamente em Cuba.
A defensora pública responsável pelo projeto, Elceni Diogo, espera que a demanda digital seja finalizada hoje, apesar das dificuldades da internet. “Nós estamos adiantando os atendimentos on-line, pois eles geram maior dificuldade por conta da internet e da necessidade de gravação de vídeo. Queremos finalizar todos até o final do expediente de hoje”, esclareceu.
Servidor da DPE-RR participa da ação como tradutor
O atendimento on-line, muitas vezes, agiliza a resolução de pendências jurídicas quando a distância geográfica afasta as famílias. É o caso de um professor cubano que teve um relacionamento amoroso com uma aluna, brasileira, que foi estudar Medicina na Venezuela.
Ela engravidou e, nesse período, o contrato dele foi finalizado, sendo obrigado a voltar para Cuba. Posteriormente, ele também não conseguiu vir para o Brasil conhecer o filho, porém a mãe sempre falou do pai para a criança, hoje com sete anos, e eles mantêm contato por chamadas de vídeo.
A assistente social Adilma Melo realizou o atendimento da mãe da criança, colheu a documentação necessária e, por não ter fluência no idioma espanhol e perceber que o pai da criança não entende bem a língua portuguesa, solicitou a presença de um tradutor por se tratar de um tema delicado.
“Eu solicitei a presença do nosso colega, servidor da DPE-RR, chefe da Divisão de Serviços Gerais. Ele é argentino e está há 12 anos no Brasil. Eu fiquei insegura de realizar o atendimento sem um tradutor porque eu poderia falar uma coisa e ela poderia dizer outra. Um tema delicado como esse, uma palavra pode mudar tudo. Eles enviaram a documentação, preparamos o cadastro e, durante a conversa, eu falava e Martin fazia a tradução ”, concluiu.