O resumo é a última peça da redação científica a ficar pronta. À primeira vista, parece muito simples o procedimento redacional porque quanto mais perfeita, mais singelo o resumo parece. Tanto é assim que muitas vezes até os leigos conseguem entender o panorama geral de uma investigação científica apenas com a leitura dessa peça. Quando isso acontece, o resumo cumpriu o seu papel. Contudo, inacreditavelmente, é muito difícil encontrar um resumo bem feito, a não ser nas revistas científicas de grife, como eu chamo àquelas muito disputadas para publicações – mas que, muitas vezes, também praticam taxas de publicação inacreditavelmente caras. Só para efeito de curiosidade, a famosa Nature cobra cerca de 9.500 euros por um artigo, o que dá incríveis R$ 50.160,00 no câmbio de hoje. Para pagar tão caro, praticamente todo resumo que se encontra ali é quase perfeito. E praticamente todos eles o são. Como a inovação e o aperfeiçoamento são coisas corriqueiras em quase todos os procedimentos das comunidades científicas de ponta, agora também foram inventados os gráficos-resumo, também exigidos por revistas de elite. Eles são maravilhosos, precisos, com capacidade informacional muito superior aos simples resumo. Mas aqui não vamos tratar deles.
Novamente, como tudo na ciência e no universo tecnológico, também no resumo há um esquema lógico que precisa ser compreendido tanto para planejar e redigir quanto para ler e entender essa peça inicial das comunicações científicas. Como são exigidos também para os ensaios teóricos, também vamos apresentar o esquema lógico dos resumos aplicados a eles. Mas vamos começar pelos artigos teórico-empíricos, que o povo chama de artigos científicos. A lógica é simples: alguma coisa está acontecendo na realidade prática ou na teoria que precisa de explicação, sintetizada em torno de uma pergunta (ou ensaio de resposta, que é chamado de hipótese). Toda explicação é gerada seguindo determinadas etapas e faz descobertas bem específicas. Essas descobertas específicas, quando agrupadas ou ordenadas, compõem a explicação procurada, que é sintetizada em forma de resposta à pergunta ou hipótese formulada. E tudo termina com a demarcação exata da contribuição da explicação gerada para a ciência. Em síntese, um resumo completo apresenta a) o contexto teórico de uma situação problemática, b) objetivo da investigação, c) etapas do método utilizado para gerar as respostas, d) lista de respostas/descobertas da pesquisa, e) conclusão e f) contribuição para a ciência. Tudo isso em no máximo 150 ou 200 palavras, que é um texto menor que este parágrafo.
Não se faz pesquisa científica para explicar uma situação da realidade. Ainda que a ciência comece com uma situação real problemática, essa situação precisa ser contextualizada teoricamente. Por exemplo, a constatação do aumento da miséria em uma determinada comunidade é um fato real que, por si só, não gera conhecimento científico. Ele precisa ser situado teoricamente, encoberto por alguma teoria. Teorias do desenvolvimento podem cumprir esse papel, assim como as teorias das agências, teorias econômicas, teorias de gestão e por aí vai. Esse é o primeiro desafio da redação do resumo: contextualizar teórica e empiricamente uma situação que carece de explicação. De preferência, que isso seja feito em no máximo três linhas ou 30 palavras.
Em seguida vem o objetivo da investigação. Essa parte é a mais curta dentre todas as outras. De preferência, não deve ultrapassar duas linhas ou 20 palavras. Aqui o desafio é a exatidão de onde o cientista e seus colaboradores pretenderam chegar. É fundamental que se note que todo objetivo é sempre uma pergunta invertida. Por exemplo: a pergunta “Quais são os principais atrativos turísticos de Manaus?” pode gerar o objetivo “Descrever os principais atrativos turísticos de Manaus”.
Depois vem o método. Mais precisamente, as principais etapas percorridas para a geração de cada resultado do estudo. A forma mais recomendada para fazer isso é a técnica da listagem. Por exemplo: “As etapas do método foram a)……, b)……, c)…. e n….”. Em alguns casos, essa parte pode ser feita em forma de um esquema lógico que parte das questões norteadoras, passa pela especificação da população e amostragem, instrumentos de coleta e organização dos dados, técnicas de geração dos resultados e técnicas de interpretação desses mesmos resultados, que são duas coisas distintas. É essencial que o leitor consiga entender como os resultados foram produzidos. Quatro linhas ou 50 palavras é o máximo recomendável.
Logo em seguida devem ser colocados os resultados. Novamente, a preferência é a listagem das descobertas, que correspondem às respostas às questões norteadoras ou resultados dos testes de hipóteses específicas. Aqui, quando bem feito, é como se o cientista dissesse “descobrimos isso”. Não pode ultrapassar quatro linhas ou 50 palavras.
Finalizam o resumo a conclusão, que é a resposta à pergunta (objetivo) formulada, e que não pode ultrapassar 20 palavras ou duas linhas; e a contribuição para a ciência, que é a consequência natural da conclusão, com o máximo de 30 palavras ou três linhas.
O resumo dos ensaios teóricos não têm metodologia e nem contribuição para a ciência. Mas precisam apresentar a contextualização, objetivo geral e logo em seguida os argumentos. É isso mesmo: ensaio teórico não apresentam resultados. Resultados são exclusivos de estudos científicos, e por isso têm um método. E têm também uma conclusão, que é exatamente aquilo que o autor quer que o leitor entenda, aprenda (ou se convença, que é muito comum também). Em síntese, o resumo de ensaios tem a) contextualização, b) objetivo, c) lista de argumentos e d) conclusão.
(*) Daniel Nascimento-e-Silva, PhD, Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)