A 1ª Fecind (Feira Estadual Indígena de Ciências) estreou na Quadra Poliesportiva do município de Uiramutã, marcando um novo capítulo na iniciação científica em comunidades indígenas de Roraima. A ação ocorreu no fim de semana.
Organizado pelo Governo de Roraima, por meio da Secretaria de Educação e Desporto, o evento teve mais de 60 trabalhos inscritos, sendo um instrumento fundamental de fomento aos trabalhos científicos desenvolvidos nas escolas indígenas, seja no âmbito estadual ou municipal de Roraima.
“Trata-se do primeiro evento científico para comunidades indígenas. Nós estamos inaugurando uma fase de valorização de trabalhos das escolas indígenas, com o apoio incondicional dos professores com saberes tradicionais”, disse a diretora do Ceforr (Centro Estadual de Formação dos Profissionais de Educação de Roraima), Stella Damas.
A Fecind é uma iniciativa em parceria com a Prefeitura de Uiramutã e o Sebrae-RR (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Além disso, ocorreu simultaneamente com a 4ª Feciu (Feira de Ciências de Uiramutã) que premiou escolas municipais da região.
“Para nós estarmos aqui, auxiliando e apoiando a educação, sobretudo a educação escolar indígena é uma grande satisfação, inclusive a iniciação científica envolve o empreendedorismo ao fazer ciência, envolvendo alunos e professores”, destacou a coordenadora de educação empreendedora do Sebrae-RR, Graciela Mussio.
Escolas dos municípios de Alto Alegre, Amajari, Boa Vista, Normandia, Pacaraima e o município anfitrião, Uiramutã, apresentaram trabalhos de pesquisa com conexão à cultura do lugar onde viviam com o tema “Etnossustentabilidade: Biodiversidade, culturas tradicionais e o desenvolvimento sustentável”. O evento contou com a participação de 386 pessoas, entre estudantes e professores orientadores.
O vice-prefeito de Uiramutã, Jeremias Lima, disse que o incentivo à educação é fundamental para o crescimento das comunidades: “É um momento importante para a troca de saberes do conhecimento científico e cultural através do intercâmbio entre os municípios, compartilhando desde a medicina tradicional, trajes e utensílios”, disse.
Durante o evento, diversos grupos culturais se apresentaram como os Filhos de Maruai, da comunidade Enseada, e o grupo Paraikoman da comunidade Serra do Sol, ambas do município de Uiramutã.
O secretário de Educação e Desporto, Nonato Mesquita destacou a importância do incentivo à iniciação científica. “Nossos alunos sempre nos surpreendem com os trabalhos apresentados nas feiras de ciências, e isso é muito bom, é um sinal de que a educação está avançando nas escolas estaduais e contam com o investimento do Governo do Estado, com aquisição de kits tecnológicos, material didático, dentre outros incentivos”, enfatizou.
Os projetos
Estudantes da Escola Estadual Indígena Eurico Mandulão, da comunidade Raimundão, em Alto Alegre, apresentaram projeto sobre a eficácia das plantas medicinais que muito foram utilizadas no período da Covid-19. Os tratamentos surtiram o efeito desejado na comunidade, que comprovou nenhum caso confirmado durante todo o período crítico da doença que afetou o mundo.
“Como os moradores não tinham acesso à farmácia, as plantas medicinais ganharam força, um exemplo é o gengibre e o jambu por agirem como excelentes anti-inflamatórios, que pode ser consumido naturalmente ou por meio de xarope”, explicou o estudante Neimar Peixoto.
Já os alunos da Escola Estadual Indígena São Sebastião do Cailã da Comunidade Indígena Água Fria do Uiramutã, conseguiram destilar a bebida tradicional Caxiri e descobrir o teor alcoólico do líquido. Pensando na saúde dos moradores, a intenção é mostrar que nem todos podem consumir a bebida por conter uma porcentagem elevada de álcool.
“É muito comum o consumo do Caxiri, inclusive por crianças. Até então são sabíamos o teor alcoólico e descobrimos que a bebida possui 20% de álcool em sua composição. Queremos aconselhar a população de que somente os adultos possam consumir”, disse o estudante do Ensino Médio, Vinicius Sales.
Premiação
Os vencedores da 1ª Fecind e 4ª Feciu foram premiados com troféus e medalhas, além de terem a oportunidade de participar da XIV MCTIA (Mostra de Ciências e Tecnologia do Instituto Açaí), que ocorre em novembro, em Belém do Pará. Além disso, o evento selecionou trabalhos que participarão da 30ª edição da Fecirr, que acontecerá nos dias 6 e 7 de dezembro, no Parque Anauá.
Conheça os vencedores da I Fecind:
Categoria | Escola Vencedora | Projeto
Educação Infantil | Creche Municipal Maria Augusta Esbell (Normandia) | A arte de criar brincando
Ensino Fundamental I | Escola Municipal Castro Alves (Normandia) | Corpo e Movimento: Educando para um trânsito mais seguro na sede e comunidades indigenas de Normandia
Ensino Fundamental II | Escola Estadual Indígena Presidente João Pessoa (Uiramutã) | A valorização da panela de barro como expressão da identidade cultural do Povo macuxi na Comunidade willimo
Ensino Médio | Escola Estadual Indígena Julio Pereira (Uiramutã) | Tanajura como alternativa sustentável e suplemento alimentar do passado, presente e futuro.
Sala Multifuncional | Escola Estadual Indígena Ko’Ko Isabel Macuxi (Uiramutã) | O cultivo e manuseio artesenal da da semente de jamarú da serra (lagenaria siceraria) como ferramenta pedagógica para a inclusão e valorização da Cultura indígena na Comunidade indígena Enseada, município de Uiramutã-RR
Educação de Jovens e Adultos | Escola Estadual Indígena Joaquim Jones José Ingaricó (Uiramutã) | Areruya e tranças, manifestações da cultura ingaricó
Layse Menezes