Após dois meses seguidos de queda, o Índice de Confiança das Micros e Pequenas Empresas (IC-MPE) registrou alta em novembro, chegando a 92,8 pontos. O movimento é resultado do avanço da confiança nas empresas do setor da Indústria, motivado pelo escoamento dos estoques de produtos verificado no mês passado. O índice é calculado mensalmente a partir de dados avaliados pelo Sebrae e Fundação Getúlio Vargas. A variação, em novembro, foi de 0,6 ponto, o que não foi o suficiente, entretanto, para reverter as quedas de setembro e outubro.
Para o presidente do Sebrae, Décio Lima, o cenário de juros proibitivos praticados no país e o nível de endividamento dos consumidores ainda em patamar elevado, têm atuado como freio para a plena retomada do otimismo dos empreendedores. “Apesar da quarta redução seguida na taxa Selic, o fato é que os juros brasileiros ainda são os mais altos do mundo. Sem crédito, os donos de pequenos negócios não conseguem pensar em investir. Até porque uma parte significativa deles, principalmente os microempreendedores individuais, têm dívidas para pagar”, comenta Décio.
Ele lembra que o governo federal já anunciou a disposição de lançar, em breve, uma nota etapa do programa “Desenrola Brasil” voltado exclusivamente para os pequenos negócios.
“As pequenas empresas foram responsáveis, em 2023, por criar 70% de todos os empregos formais. Não podemos descuidar delas nesse momento em que a economia do país está pronta para dar um salto de crescimento”, acrescenta o presidente o Sebrae.
Indústria
O IC-MPE é a fusão dos três principais setores da economia – Comércio, Serviços e Indústria de Transformação. A alta, em novembro, foi exclusivamente motivada pelo aumento da confiança da Indústria, que vinha registrando quedas nos últimos quatro meses, enquanto os demais setores caminharam em sentido inverso. Com esse resultado, o setor volta a apresentar o maior nível entre os pesquisados, quadro que não acontecia desde julho desse ano.
A alta da confiança na Indústria foi observada nos dois horizontes temporais, com destaque para o momento corrente: Índice da Situação Atual das MPE da Indústria de Transformação (ISA-I-MPE) avançou 13,5 pontos, para 99,6 pontos, com todos os quesitos que o compõe acompanhando essa alta. Vale destacar o forte aumento do indicador de estoque, de 25,3 pontos, para 108,3 pontos. Esse indicador é utilizado de forma invertida, isto é, quanto maior o resultado do indicador, menores serão os níveis de estoque. O resultado então, indica um movimento de escoamento dos estoques no mês, proporcionado pelas sinalizações de 16,1% das empresas que estavam com estoque insuficiente, em novembro, contra 7,0%, em outubro; e 7,4% que estavam com estoque excessivo, contra 9,3%, na mesma janela de comparação.
O crescimento do Índice de Expectativas das MPE da Indústria de Transformação (IE-I-MPE), em novembro, foi de 5,2 pontos, para 96,7 pontos. O quesito volume de produção prevista teve forte participação no resultado, ao subir 10,2 pontos, para 99,9 pontos, e interrompendo quatro meses de queda.
Comércio
Pelo segundo mês seguido, a confiança das micro e pequenas empresas do setor Comércio (MPE-Comércio) recuou 2,3 pontos, para 86,3 pontos. A perda acumulada no bimestre findo em novembro é de 6,1 pontos. O Índice de Confiança do Comércio, divulgado pela FGV, acompanhou a trajetória descendente das MPE ao cair 2,7 pontos, para 86,5 pontos. Mesmo com o alívio da inflação, reduções das taxas de juro e do desemprego, a demanda dos consumidores segue fraca ou aquém do esperado para o fim do ano, gerando maior cautela por parte dos empresários. Por essa razão, o desânimo da confiança não é observado exclusivamente nas MPE, mas também nas médias e grandes empresas do setor.
A queda da MPE-Comércio foi observada nos dois cenários temporais. O Índice da Situação Atual das MPE do Comércio (ISA-C-MPE) recuou 1,4 ponto, para 89,8 pontos. Já o Índice de Expectativa das MPE do Comércio (IE-C-MPE) caiu em maior magnitude, em 2,9 pontos, para 83,5 pontos. A queda foi observada nos dois quesitos que o compõe, com destaque para o que o mede o volume de vendas para os próximos três meses, que caiu 3,6 pontos, para 81,0 pontos, acumulando um recuo bimestral de 9,0 pontos. Esse recuo foi influenciado pelas sinalizações de que as vendas no curto prazo diminuiriam de 4,4%, em outubro, para 8,1%, em novembro, contra uma quase estabilidade daquelas que sinalizaram que aumentariam (de 33,8%, para 33,9%, no mesmo período). Este ambiente de arrefecimento do setor é também refletido nos dois quesitos que medem emprego: a contratação de mão-de-obra nos últimos três meses e nos próximos três meses tiveram queda de 6,6 pontos, para 89,9 pontos, e 0,6 ponto, para 88,6 pontos, respectivamente.
Serviços
O Índice de Confiança dos Micros e Pequenos Empresários do setor de Serviços (MPE-Serviços) apresentou forte queda em novembro, revertendo a alta do mês anterior: cedeu 4,1 pontos, para 91,1 pontos, o menor nível desde abril de 2023 (89,7 pontos).
Em novembro, tanto o cenário da situação corrente, mas em especial, as expectativas de curto prazo contribuíram para a queda da MPE-Serviços. O Índice de Expectativas das MPE dos Serviços (IE-S-MPE) recuou 5,6 pontos, para 88,1 pontos e foi impactado igualmente pelos quesitos volume de demanda para os três meses seguintes e situação dos negócios para os próximos seis meses, que caíram 5,6 pontos, para 90,2 e 86,1 pontos, respectivamente.
O Índice da Situação Atual das MPE do setor de Serviços (ISA-S-MPE) recuou2,7 pontos, para 94,2 pontos, em novembro. Os dois quesitos que o compõe caíram, com destaque para volume de demanda atual, com queda de 4,2 pontos, para 92,8 pontos, em decorrência da alta de 4,0 p.p. nas sinalizações de que a demanda estava fraca no período, contra uma queda de 1,1 p.p. nas sinalizações fortes. O indicador que mede situação corrente dos negócios teve queda de 1,2 ponto, para 95,6 pontos. Os resultados mostram que as micro e pequenas empresas estão reticentes tanto no horizonte atual quanto no prospectivo.