Aulas do programa Empoderando Refugiadas têm início em Boa Vista

ACNUR, Pacto Global e ONU Mulheres promovem formação de refugiadas venezuelanas para que possam ser contratadas por empresas e realocadas para diferentes cidades já no fim de agosto. – Fotos: ©ACNUR/Camila Geraldo

Mulheres refugiadas e migrantes que vivem em abrigos da Operação Acolhida em Boa Vista (RR), estão em sala de aula para se prepararem para oportunidades de emprego formal no mercado de trabalho brasileiro. Trata-se do programa Empoderando Refugiadas, iniciativa conjunta da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Pacto Global da ONU no Brasil e ONU Mulheres, que vai oferecer 100 vagas de formação em sua 7ª edição, formando turmas até o fim de 2022. Esta edição do Empoderando Refugiadas conta com o patrocínio master de Lojas Renner SA e apoio de Iguatemi.

A primeira turma de 2022, composta por 20 integrantes, começou as aulas do curso Atendimento e Vendas: Ferramentas e Estratégias no dia 1º de agosto. Ministrada pelo Serviço Nacional do Comércio (Senac) de Roraima, a formação inclui ainda temas específicos voltados à adaptação da população refugiada no país, como legislação trabalhista brasileira, cultura brasileira e desenvolvimento de competências socioemocionais.

Virginia tem 24 anos e é uma das participantes desta edição. Ela vive em um dos abrigos com seu esposo e filhos que, segundo ela, são os motivos para sua dedicação no curso. “Eu gosto das aulas porque aprendo, principalmente, mais sobre mim. A metodologia é muito dinâmica – nos lembra muitas coisas que durante o caminho para cá esquecemos, mas que podem ser importantes para o mercado laboral. Minha prioridade agora é o futuro dos meus três filhos. Faço isso para eles, mais do que para mim”, ressalta.

Companheira de classe de Virginia, Leona também está animada em fazer parte da iniciativa. “Faz tempo que escuto falar sobre o Empoderando Refugiadas pelas mulheres dos abrigos. Estava esperando ansiosa minha oportunidade, pois o curso é maravilhoso. A professora tem se mostrado ótima e tenho expectativas de que aprenda ferramentas e capacidades para aperfeiçoar meus conhecimentos profissionais. No curso estamos aprendendo todas juntas e o apoio mútuo contribui para nossa recolocação em uma nova vaga”, comenta Leona.

Após a formação de quatro semanas, as participantes terão a possibilidade de realizar entrevistas de trabalho com empresas interessadas em contratá-las. Caso sejam aprovadas no processo seletivo, serão interiorizadas voluntariamente, junto de suas famílias, para as cidades onde as empresas estão localizadas. Estas fases do projeto são executadas em parceria com a Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI Brasil) e Operação Acolhida, que realizam a logística de envio e recepção da família à nova localidade.

“O emprego tem uma influência poderosa na capacidade de uma pessoa participar de maneira igualitária na sociedade de acolhimento e desenvolver redes de apoio social. Assim, o Empoderando Refugiadas é um exemplo concreto sobre como cada um pode fazer sua parte para juntos construir futuros melhores para as pessoas forçadas a se deslocar por conflitos e graves violações de direitos humanos, aproveitando a resiliência da própria comunidade refugiada e as destrezas que as pessoas trazem consigo”, afirma Federico Martinez, representante interino do ACNUR.

“É uma iniciativa interagencial desenvolvida junto ao setor privado e já consolidada como uma metodologia exitosa para garantir uma formação de qualidade de profissionais venezuelanas, conciliando seus conhecimentos e experiências com as oportunidades de empresas que enxergam nas mulheres refugiadas um grande diferencial competitivo e de resultados efetivos para seus negócios e possibilidades de integração socioeconômica”, completa Martinez.

“As mulheres refugiadas e migrantes apresentam demandas e necessidades específicas desde o processo de deslocamento até a fase de adaptação e inserção nas novas localidades. Muitas delas chegam com crianças pequenas e sem uma rede de apoio para se capacitarem para o mercado de trabalho local e até mesmo para ingressarem no mercado formal de trabalho. Iniciativas como o Empoderando Refugiadas mostram que é possível olhar para essas demandas e criar oportunidades que ofereçam condições dignas para que essas mulheres sejam integradas social e economicamente no Brasil”, completa a representante da ONU Mulheres no Brasil, Anastasia Divinskaya.

Além de fomentar o acesso de mulheres refugiadas e migrantes ao mercado de trabalho brasileiro, o projeto Empoderando Refugiadas também prepara o setor privado para o processo de inclusão destas pessoas em seus quadros de colaboradores. As empresas que decidem contratar mulheres refugiadas participam de workshops, mentorias e acompanhamentos das agências da ONU para que possam não somente contratar a pessoa, mas acolher, incluir e desenvolver todo o potencial da profissional refugiada. Esse processo de preparação e amadurecimento das companhias se dá em parceria com o Fórum Empresas com Refugiados.

“Da mesma forma que preparamos a refugiada para atuar no mercado de trabalho brasileiro, fazemos com a empresa. Diretoria, lideranças e colaboradores precisam entender o contexto de vida destas pessoas para então apoiá-las. Quando a diversidade passa a ser valor e cultura da empresa, os resultados impactam o ambiente de trabalho e o negócio: as pessoas trabalham mais engajadas, permanecem mais tempo na empresa, levam diversidade e novos ativos ao mercado”, destaca Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil.

A iniciativa está comprometida e alinhada com a Agenda 2030 das Nações Unidas, em especial ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5, voltado à igualdade de gênero. O projeto preza pela diversidade de suas turmas, mesclando mulheres de diferentes nacionalidades, etnias, formações acadêmicas e perfis sociais. Desde 2020, o projeto forma turmas compostas por refugiadas com deficiências, doenças crônicas e/ou com necessidades especiais, além de incluir mulheres que possuem familiares com deficiências e são as únicas provedoras de renda da família. O projeto valoriza também interseccionalidades: refugiadas dos pilares geracionais (50+) e LGBTQI+.

Empresas interessadas em saber mais e se engajar com o projeto, seja pelo investimento em capacitação ou por meio da contratação de mulheres refugiadas, podem entrar em contato pelo email empoderandorefugiadas@pactoglobal.org.br.

Para mais informações sobre o projeto, acesse: acnur.org/portugues/empoderando-refugiadas.

 

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