BR-174: Comissão de Obras da ALE-RR inspeciona condições da rodovia sentido Pacaraima

Piores trechos, de Boa Vista à Pacaraima, vão da ponte do rio Cauamé até a ponte do rio Uraricoera, e os últimos 15 km até a sede do município. – Fotos: Eduardo Andrade

‘Com ou sem emoção?’ Muitas pessoas são surpreendidas com essa pergunta antes de embarcar em um passeio turístico. Quem se aventura pela BR-174, sentido Norte, em direção ao município de Pacaraima (fronteira com a Venezuela), não tem escolha e enfrenta uma verdadeira gincana de obstáculos. Para propor soluções concretas quanto à trafegabilidade da rodovia, a Comissão de Viação, Transportes e Obras da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), percorreu os mais de 218 km entre Boa Vista e a cidade fronteiriça, nesta sexta-feira, 17.

Deputado Renato Silva

“O nosso objetivo é cobrar e fiscalizar as estradas e as obras. Se possível, vamos à Brasília falar com o Ministério de Infraestrutura, pois o norte do Brasil está esquecido. Como representantes da população não podemos deixar de estar aqui”, afirmou Renato Silva, presidente da comissão.

Segundo Silva, é para melhorar a vida de cidadãos como o caminhoneiro Tiago Almeida Gomes que o parlamento trabalha. Há quatro anos, Gomes transporta mercadorias pela estrada. “Aqui é preciso muita cautela, pois é difícil de dirigir e o caminhão sofre muito”, contou.

Enquanto o caminhão de Gomes trepidava e levantava poeira em direção à capital, o taxista intermunicipal, Mario Silva, desabafava sobre os impactos da má condição do percurso. “Estrada não ajuda ninguém, nós quebramos o carro toda hora. Antes, fazia o percurso em 2h30. Agora, são 3h30”, apontou.

Mario Silva

Norte

Um sol implacável cortava o céu, quando a comitiva deixou Boa Vista em direção à Pacaraima. Os primeiros 40 km da viagem ocorreram sem sobressaltos. É da ponte do rio Cauamé até a ponte do rio Uraricoera, distância de aproximadamente de 25 km, compreendido entre o Km 556 ao Km 581 da BR-174, que a paisagem do lavrado é encoberta pela poeira barrenta da rodovia esburacada.

Buracos, pedras soltas, barreiras naturais, erosão do solo e obras inacabadas dão lugar ao asfalto e compõem um cenário que testa a suspensão dos veículos e a paciência dos viajantes.

Porém, se engana quem pensa que as condições precárias são reflexos da falta de orçamento para a manutenção desse trecho. Em 2018, o Executivo e o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte) assinaram um convênio de R$ 141 milhões para revitalizar 125 km até a entrada da Pedra Pintada. Quase 5 anos depois, apenas 45 km foram concluídos, com custo de R$ 47 milhões. Raimundo Maia, diretor do Departamento de Infraestrutura Terrestre da Seinf (Secretaria de Infraestrutura) do estado, acompanhou a vistoria parlamentar e explicou o motivo da demora.

Raimundo Maia

“Essa obra compreende o trecho da restauração da BR-174, lote 2.1, que são 120 km da Ponte Cauamé até a vicinal Pedra Pintada, a obra foi abandonada, pois a empresa rescindiu o contrato, por conta de vários problemas, de reprogramação de obras. Por causa disso, o governo nos autorizou a fazer serviços emergenciais nesse trecho em aberto. A empresa que tinha ganho a licitação e fazia a obra foi multada e já passou pelo processo de rescisão do contrato. Estamos em contato junto ao Dnit, atualizando preços, para contratar uma nova empresa”, esclareceu.

Para a deputada Catarina Guerra (União), membro da Comissão de Viação, é importante acompanhar de perto os problemas enfrentados pela população junto às instituições que podem solucioná-los. “Nós viemos aqui hoje e foi muito importante constatar com a Seinf o que foi feito ou não nesses 125 km”, constatou.

Neto Loureiro

Neto Loureiro (PMB), também membro da comissão, lembrou que somente os primeiros 125 km entre Boa Vista e Pacaraima são de responsabilidade do Estado por causa do convênio. “Precisamos dizer que a BR-174 é de responsabilidade do Governo Federal. Nós fomos até o estado do Amazonas fazer o percurso da BR-174, e vimos uma situação crítica a partir da reserva indígena. E agora estamos aqui no sentido Pacaraima, onde a gente pode observar que esse consórcio com o governo do Estado não foi concluído pela rescisão do contrato existente”, disse.

Quando as cadeias de serras do município de Pacaraima apontam no horizonte, enchendo os olhos dos viajantes que passam pelas comunidades indígenas que ladeiam a rodovia, o final da excursão se aproxima. É o pior trecho, em que não há mais resquício de asfalto e os motoristas enfrentam precipícios (verticais e horizontais) à beira da estrada.

“Onde ficam as serras, mais ou menos, a 5 km de Pacaraima é o que dá mais insegurança, por causa das laterais da serra. Tem também a questão do inverno que vai fazer ser ainda mais perigoso. É uma ladeira sem contenção alguma, sem asfalto”, avaliou Silva.

As obras de recuperação na região das serras, sob a tutela do DNIT, estão paradas, por solicitação do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), para acompanhamento de sítio arqueológico.

Vistoria de Norte a Sul

Desde o início do mês, a comissão inspeciona a BR-174, após denúncias de cidadãos nas redes sociais. Semana passada, a comitiva cruzou os mais de 750 km da rodovia, sentido Sul, de Boa Vista a Manaus, única rota terrestre a conectar Roraima com o restante do país.

O resultado foi compartilhado numa sessão ordinária na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), na terça-feira, 14, e com autoridades locais, como o senador Eduardo Braga (MDB).

A equipe técnica da Comissão do Laboratório de Engenharia do Ministério Público de Contas de Roraima (MPC-RR), coordenada pelo engenheiro Sidney Minholi, estiveram presentes nos dos trajetos. Durante o percurso foram avaliados, segundo os parâmetros do Instituto Brasileiro de Obras Públicas, três itens na estrada: o número de buracos, a sinalização horizontal e vertical e a falta de limpeza nas imediações.

Além de evitar acidentes, a fiscalização, de acordo com Minholi, protege o erário. “Fizemos um relatório técnico visual, para saber se a obra está sendo executada ou não. Vamos apresentá-lo na Assembleia Legislativa. Pois, esses contratos geralmente têm valores maiores e precisam ser analisados. Até porque, se você faz uma obra e não faz a manutenção, o prejuízo é muito maior depois”, apontou.

Essa é a mesma opinião da vice-presidente da comissão, Angela Águida Portella (PP). “Nossa preocupação é que o trabalho que foi feito, na base, está se perdendo por causa da erosão. Há o desperdício dos recursos públicos, e também o perigo ocasionado pela erosão, pois a estrada fica intrafegável. Não é só uma questão econômica mais também social”, disse a parlamentar.

Renato Silva adianta que o resultado da ‘caravana norte-sul’ será entregue a todos os entes públicos. “O MPC está junto nessa jornada. Eles vão fazer um relatório técnico, assim como a comissão. Nesta segunda-feira, 20, iremos entregar esses relatórios técnicos a todas as autoridades federais, senadores, governador, ao presidente e deputados da Assembleia”, concluiu.

Suellen Gurgel

 

 

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