Com o slogan “Não se prenda na ilusão, sua liberdade vale mais”, a Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), através do Programa de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania (PDDHC), deu início ao II Seminário de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, nesta quinta-feira, 27, no Plenário Valério Caldas de Magalhães.
Foram convidados para debater, ampliar o assunto e sensibilizar a rede de serviço, representantes de órgãos de combate ao tráfico de pessoas e ONG’s (Organizações não governamentais). O evento foi aberto ao público e transmitido pelo canal do Parlamento roraimense no YouTube (@Assembleiarr).
Durante a abertura do encontro, o superintendente de Programas Especiais da Casa Legislativa, Pablo Sérgio Bezerra, ressaltou que a problemática do tráfico humano é global, e que o Estado integra a rota criminal.
“É algo que, infelizmente, perpassa por quase todos os países, e, que muitas vezes, passa despercebido por conta dos poderios econômico, financeiro, político, e, às vezes, até religioso. Ele ultrapassa fronteiras. Então, cabe a nós, instituições públicas governamentais e não governamentais, unirmos forças, porque Roraima é um corredor do tráfico, e nossa população aumentou, principalmente, com a vinda dos migrantes. Uma população de extrema vulnerabilidade. Somos um Estado muito propício para essa prática criminosa”, salientou.
Atuante na causa desde a década de 1990, Socorro Santos, diretora do PDDHC e coordenadora do Comitê Estadual de Enfrentamento à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes, destacou a campanha “Coração Azul” e relembrou alguns casos de vítimas que perderam suas vidas e os agressores não foram levados à Justiça.
“Essa campanha vai nos alertar e trazer dignidade à essas pessoas. Esse é o nosso papel: fazer com que elas voltem para a sociedade, tenham uma vida íntegra e que possam seguir”, disse.
A roda de conversa abordou a necessidade da prevenção e de alertar a população de que o tráfico de pessoas, em suas diversas modalidades, é uma realidade. O bispo de Roraima, Dom Evaristo Pascoal, atribuiu o momento atual a fatos históricos, que ainda persistem, como o pensamento escravagista e comportamento mercantilista.
“Essa mentalidade, não termina com uma lei. Se o país não passar por um processo de ressignificação do sentido da vida e da liberdade de cada ser humano, as normas não vão resolver. Então, esse comportamento persiste como algo normal na mente de muitas pessoas, e é isso que tem que ser trabalhado na nossa sociedade”, avaliou.
A Silvia Reis é presidente do Conselho Estadual de LGBTQIAPN e se interessa pelas discussões do tema. Para ela, o público ao qual representa faz parte dos grupos suscetíveis a caírem em armadilhas criminosas.
“O nosso conselho trabalha com a rede de combate ao tráfico humano. Nós somos pessoas muito vulneráveis. Algumas são aliciadas para esse tipo de trabalho, devido às suas situações socioeconômicas baixas e ao próprio Estado, que está localizado em uma região de fronteiras. Conheço pessoas que foram traficadas e conseguiram fugir. É preciso discutir isso diariamente”, apontou.
Além das falas dos convidados, o evento seguiu com apresentações que abrangeram os tipos de crimes que o tráfico humano envolve, suas características e finalidade, bem como dados locais e nacionais de casos registrados. O direito de fala também foi estendido à plateia, que contribuiu com sugestões e ideias pertinentes ao tema.
Participaram ainda, o professor da UFRR, Dr. Flávio Corsini; Irmã Antônia Storti, da Rede Um Grito Pela Vida; a secretária interina extraordinária de Desenvolvimento Humano e Social Soraima Rodrigues; Clara Cunha, das Relações Institucionais da Organização Internacional para as Migrações (OIM); a secretária executiva da Cáritas Orilene Pinheiro; o delegado de Polícia Federal Thiago Pereira da Silva; a delegada de Polícia Civil Elivânia Aguiar e a policial rodoviária federal Veronica Cisz.
A programação do seminário seguiu durante a tarde desta quinta-feira, com apresentações, rodas de conversa e debates. Esta semana foram feitas ações alusivas à campanha “Coração Azul”, de sensibilização a população e solidariedade às vítimas de tráfico humano, além do chamamento ao enfrentamento do crime. Neste domingo (30), é celebrado o Dia Mundial de combate a este mal, instituído pela Assembleia Geral da ONU.
Suzanne Oliveira