Ciclo da violência: Chame realiza palestra no município do Cantá

Colaboradores do CREAS assistiram ainda uma dramatização sobre o ciclo de violência doméstica. – Fotos: Alfredo Maia

A Procuradoria Especial da Mulher por meio do Centro Humanitário de Apoio à Mulher (Chame) realizou na manhã desta sexta-feira, 1º, no Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS) do município do Cantá, a 38 km de Boa Vista, uma palestra para os colaboradores que lidam no dia a dia com atendimentos às mulheres vítimas de violência doméstica naquela região. O convite feito pela instituição reforça a luta contra violência de gênero.

Marcilene Mello

A psicóloga do Chame, Marcilene Mello, disse que a ida da equipe ao Cantá é uma união de forças no combate à violência contra a mulher. “Esse evento, que ainda faz parte do Agosto Lilás, é uma alusão à Lei Maria da Penha, e é de extrema importância a presença do Chame expandindo as suas palestras, levando informações para todas as mulheres e a sociedade em geral”, disse.

O trabalho do Chame iniciou com uma dramatização sobre o ciclo da violência doméstica. A apresentação foi dividida em três cenas: primeiro, um casal apaixonado; em seguida começam as brigas verbais, trocas de ofensas, que evoluem para a violência física, culminando na separação; no terceiro ato, a tentativa de reconciliação por parte do marido, fase denominada como chantagem emocional, onde as mulheres acreditam neste recomeçar e retomam o relacionamento. No caso da dramatização, a mulher não acreditou nas promessas e deu um basta, pondo um fim no casamento.

Durante a palestra, a equipe multidisciplinar do Chame explicou como funcionam os atendimentos, que começam com o acolhimento da vítima, a escuta feita por todos os profissionais, que orientam e encaminham para a rede de proteção.

“Essas palestras são importantes para conscientizar, porque muitas mulheres, mesmo nos dias de hoje, não têm noção de que elas estão dentro dos seus lares sofrendo violência. Isso acontece porque muitas entendem violência somente como violência física, que geram hematomas. Elas não têm ideia de que podem estar sofrendo violência sexual, psicológica, moral, patrimonial e a cibernética. Vamos mostrar quais são os tipos de violência para que elas conheçam realmente e saibam se proteger e buscar ajuda”, reforçou Marcilene.

A secretária de Assistência Social do município do Cantá, Maria da Guia Sousa Mendes, disse que convidou o Chame por ser uma instituição de referência no Estado. “Vamos levar conhecimento às mulheres, mostrando o zelo, esse cuidado que tanto o Creas quanto o Chame possui. Buscamos essa parceria com pela seriedade, o trabalho que é feito no Estado”, explicou Maria, ao ressaltar que muitas mulheres ainda têm medo de denunciar, e que em média, o Creas tem acompanhado 18 atendimentos de mulheres que comentaram sobre possíveis violências.

Priscila Ferreira

No decorrer do evento, as próprias colaboradoras relataram já terem sido vítimas dos parceiros. Esse é o caso da assistente social Priscila Ferreira. Então, Priscila, que acredita que o depoimento dela ajudará outras mulheres.

“Relato o que eu vivi para ajudar outras mulheres a não se anular, como eu fui anulada por 22 anos. Essa palestra é importantíssima porque tem muitas mulheres que ficam perdidas dentro de casa, pensando que não existe uma proteção e quando a gente chega no Chame ou na Casa da Mulher Brasileira, sente-se importante, acolhida, protegida, amada”, disse.

Recém-libertada das garras do parceiro agressor, Priscila conta que ela renasceu para a vida. “Há um ano e meio me libertei. Mudou minha convivência com a família, e a forma como eu me via. Passei a me amar, a me valorizar, a me ver como mulher, como mãe, pois estava perdida naquele mundo lá atrás. Eu me anulei. Hoje eu sou importante, me amo mais, vivo maravilhosamente bem e consigo enxergar a felicidade que eu não via antes”, contou.

Josimar Batista

O advogado do Centro Reflexivo Reconstruir, que atende homens agressores, Josimar Batista, disse que essas palestras são importantes para os homens porque eles costumam achar que quem causa toda a violência é a mulher.

“Eles acham que só revidam a violência. Eles precisam entender que a ação cometida foi dele contra a mulher. Por isso temos que dialogar com esse homem para que internalize que tem que sair desse ciclo da violência porque ele é violento. Não tem essa desculpa de que é a mulher que deixa ele violento. A ação dele, por si só, é a violência”, explicou, ao ressaltar que atualmente o Reconstruir atende 37 homens.

O Reconstruir se reúne com os agressores todas as terças-feiras, das 8h às 10h, e das 14h às 16h, e discute assuntos variados.

Acolhimento e orientação

A Procuradoria Especial da Mulher funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, nos seguintes endereços: Avenida Santos Dumont, 1470, bairro Aparecida, em Boa Vista, e na Rua Senador Hélio Campos, sem número, BR-174, no município de Rorainópolis. O atendimento também é feito pelo ZapChame (95 – 98402-0502), durante 24 horas, inclusive aos domingos e feriados.

Marilena Freitas

 

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