Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que no Brasil existem cerca de 30 milhões de animais abandonados. Desse total, aproximadamente 20 milhões são cães e 10 milhões, gatos. Em grandes centros urbanos, a OMS aponta que para cada cinco habitantes há um cachorro. Destes, 10% estão abandonados.
O assunto tem sido uma preocupação constante para os profissionais da área. E neste Dia Mundial da Medicina Veterinária, 29 de abril, especialistas discutem o assunto apontando que uma maior conscientização da sociedade seria uma contribuição importante para dar luz a essa questão e ajudaria a iniciar um processo de mudança sobre o problema.
A professora do Centro Universitário Estácio da Amazônia, Raíssa Venâncio Coutinho, observa que a presença de animais errantes causa desconforto de várias formas para a população. “Proliferação de doenças, inclusive zoonoses, ocorrência de acidentes como atropelamentos, condições de sofrimento em que esses animais acabam vivendo, aumento da população destes que se reproduzem sem controle”, enumera, lembrando que ao conscientizar a todos que se tratam de vidas e que precisam ser cuidados.
“Além de ser um problema que esses animais não têm culpa e não entendem, eles são seres vivos que sofrem e precisam de cuidados, proteção e amor igual a nós humanos, pois além de tudo, não podem se defender sozinhos”, explica.
Para ela, uma campanha de conscientização em ambientes institucionais, por exemplo, como escolas, repartições, órgãos públicos e privados seria o ideal para iniciar esse processo. “A ideia é explicar qual, de fato, é o papel de um tutor e a importância de evitar cruzas sem controle, que depois culminarão no abandono desses animais na rua, além do aumento populacional”, completa.
A médica veterinária acredita ainda que a castração é considerada uma medida importante para diminuir o número de animais abandonados pela cidade. “As campanhas de castrações ajudariam no controle populacional, mas sem o cuidado posterior, a fim de evitar novos abandonos, o problema irá continuar”, observa.
Outro assunto que precisa ser massificado é quanto à tutela responsável. “Os tutores têm como obrigação o cuidado de fato desses animais, em situações de doença e intercorrências clínicas possíveis, não abandonando os animais à mercê em situações que os desagradam, apenas para se livrar como se fossem objetos descartáveis”, ressalta.
Para o professor Caio Fernandes Silva, também da Estácio, complementa o poder público também precisa instituir medidas no sentido de cumprir sua responsabilidade nesse contexto. “É responsabilidade do Estado a criação e execução de políticas públicas voltadas a essas problemáticas, assim como para conscientização da população. Entretanto, para que essas medidas ocorram de maneira adequada, é de suma importância a incorporação de profissionais tecnicamente preparados para desempenhar esse papel, como veterinários, biólogos, e outros que construam uma equipe interdisciplinar que atuem nas diversas áreas inerentes a situação dos animais errantes” observa.
Por fim, o professor reforça que a preocupação da Medicina Veterinária sobre o tema possui um olhar de três vertentes, o animal, o ser humano e o ambiente, que juntas formam “uma saúde única”. “Dessa forma, qualquer tipo de manejo inerente a animais errantes tem que passar por esse prisma, entendendo a relevância das partes na manutenção de um equilíbrio. Além disso, apesar do problema e a necessidade de ações corretivas imediatas, as medidas preventivas devem ser destacadas para atenuar situações futuras”, completa.
Alexsandra Sampaio