Quando uma mulher é vítima de violência doméstica os traumas se multiplicam e toda a família fica adoecida, necessitando de acompanhamento. Os filhos são os que mais sofrem. Para melhor atender essas mulheres, o Chame (Centro Humanitário de Apoio à Mulher) criou uma brinquedoteca para acolher as crianças no momento em que as mães estão sendo atendidas pela equipe de multiprofissionais.
Luciane Melo, psicóloga do Chame, explicou que a finalidade da brinquedoteca é receber as crianças em situação de vulnerabilidade junto com as mães que buscam ajuda na instituição de amparo à mulher violentada. Esse cuidado com a criança permite que a mãe seja ouvida com tranquilidade na Sala de Escuta.
“É um espaço aconchegante, onde a criança estará sob supervisão e monitoramento. Além de ser cuidada, estará sob observação profissionalizada, pois qualquer coisa que as monitoras identificam passam para a equipe multidisciplinar. Essa criança precisa ser amparada porque ela está dentro de um lar abusivo e também é afetada, precisando desse olhar profissionalizado”, disse.
A lógica, conforme detalhou, é de que toda criança fica bem dentro de um ambiente quando o local proporciona interatividade de acordo com a faixa etária. “Tudo aquilo que se faz para chamar a atenção da criança, vai tirá-la daquele foco, dos traumas que vem vivenciando em família. Aqui, ela é acolhida, e, se for identificada alguma coisa, encaminhamos para a Vara da Infância e Juventude”, explicou.
Na mesma lógica está o Núcleo de Proteção da Criança, que mantêm o Espaço Acalento. Segundo a diretora de Polícia Especializada, Elivane Aguiar, o espaço surgiu em 2020 com a campanha de arrecadação de brinquedos.
“Este ano fizemos uma nova campanha de doação de brinquedos e revitalizamos o espaço para receber nossas crianças de forma mais humanizada e acolhedora. Atuamos principalmente na investigação de crimes sexuais e maus-tratos. A ideia é que ela se sinta acolhida antes de ser atendida pela autoridade policial”, afirmou, ao ressaltar que a campanha é permanente e quem quiser doar brinquedo, fique à vontade para deixar no Núcleo de Proteção da Criança.
E o resultado da brinquedoteca em um ambiente policial tem um diferencial, como conta a diretora. “É visível a diferença de deixar uma criança sentada, aguardando numa cadeira, sem ter o que fazer, e deixar a criança aguardando atendimento em um local onde há brinquedos, ideal para a idade dela. Isso a deixa mais à vontade, tranquiliza-a, como se não estivesse em um ambiente policial. Isso é extremamente positivo para os delegados porque, quando ela vai ser ouvida, já está tranquila. Às vezes até leva um brinquedo, o que é permitido”, disse Elivane.
A Juci Alves, cuidadora das crianças na brinquedoteca do Chame, disse que é preciso estar preparada para receber essas crianças, como, por exemplo, chamá-las pelo nome. “É muito gratificante receber, acolher essas crianças. Elas chegam tão fragilizadas quanto as mães, e precisam de carinho. Às vezes chegam aqui chorando, mas na medida que vamos apresentando os brinquedos eles vão ficando à vontade, mais tranquilas”, contou.
Marilena Freitas