O assassinato da indígena Melancia Yanomami, de 17 anos, ocorrido no ano de 2021 no município de Iracema, foi esclarecido pela PCRR (Polícia Civil de Roraima) nesta terça-feira, 13, após o cumprimento do mandado de prisão preventiva do principal suspeito do crime. O corpo da mulher foi enterrado em uma mata de difícil acesso na Vicinal III, do Projeto de Assentamento Ajarani, naquele município.
As investigações vinham sendo realizadas por agentes da Delegacia de Iracema, coordenados pelo delegado Adriano Santos. No dia 04 de maio de 2021, foi instaurado IP (Inquérito por Portaria) para apurar a informação, encaminhada pelo MPF (Ministério Público Federal), com base em um relatório da FPEYY (Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye’kwana) noticiando possíveis crimes de homicídio e estupro de vulneráveis, atribuídos a não indígenas.
“De imediato iniciamos as investigações e, ao longo dos trabalhos, efetuamos diversas diligências na área rural de Iracema. As investigações dão conta, inicialmente, de que duas jovens indígenas Yanomami foram mortas por se negarem a prática de sexo com um suspeito não indígena. A informação que temos é de que possivelmente elas teriam sido estupradas por ele e mortas. De uma delas, Melancia Yanomami, localizamos os restos mortais ainda em 2021, enterrados em uma cova, numa mata de difícil acesso, após várias buscas. A segunda, chamada por Lora Yanomami, as diligências ainda estão em andamento para podermos esclarecer as circunstâncias, vez que ainda não encontramos o corpo”, disse o delegado.
O principal suspeito dos crimes é o trabalhador rural L. J. R., de 50 anos, que teve sua prisão preventiva decretada pela Justiça e foi cumprida na tarde desta terça-feira.
“As investigações apontam que o homem é visto sempre ingerindo bebida alcóolica na região do Ajarani. Ele teria convivido maritalmente com a mãe da adolescente Melancia Yanomami e a teria matado, segundo as testemunhas, após ela se negar a praticar relações sexuais com ele. A mulher teria sido morta a pancadas e estrangulamento e, depois, enterrada na mata. Quanto a questão da violência sexual, não temos ainda indícios para comprovar. Quanto ao enterro dela na mata, estamos diligenciando se foi ele ou os próprios indígenas quem enterraram o corpo”, disse o delegado.
Uma equipe do ICPDA (Instituto de Criminalística Perito Dimas Almeida) realizou perícias no local onde os restos mortais da vítima foram encontrados. A ossada dela foi removida para Boa Vista por uma equipe do IML (Instituto de Medicina Legal).
“Efetuamos diversas diligências para localizarmos o suspeito, mas ele possui boas relações de amizades na área e sempre era avisado quando nossa equipe estava na região. Por isso, representamos por sua prisão preventiva, decretada pela Justiça e cumprida nesta terça-feira, destacou o delegado.
Em interrogatório, o acusado negou a prática dos dois crimes e apontou a autoria a terceiros. Ele tem passagens na Polícia, pelo município do Cantá, por tentativa de homicídio. Após ter seu mandado de prisão cumprido e formalizado em Iracema, ele será apresentado nesta quarta-feira (14), na Audiência de Custódia em Mucajaí.
O delegado Adriano Santos formalizou à FUNAI (Fundação Nacional do Índio), solicitando auxílio na localização de cinco indígenas Yanomami e o uso de intérprete para ouvi-los.
“As diligências terão continuidade para esclarecermos outros detalhes da morte de Melancia Yanomami, as circunstâncias da morte de Lora Yanomami e a tentativa de estupro de uma menina Yanomami de 10 anos”, finalizou o delegado.