As Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort) atingem mais de três milhões de trabalhadores, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por terem relação direta com o tipo de ocupação desempenhada pelo profissional, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), agência multilateral da Organização das Nações Unidas (ONU), instituiu o 28 de fevereiro como o Dia Internacional de Combate e Atenção a esses males.
Nesta mesma esteira, a Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) aprovou a Lei 1583/2021, que cria o programa de prevenção às doenças ocupacionais do educador da rede pública de ensino, como problemas de coluna, alérgicos, oftalmológicos, de voz, Síndrome de Burnout e demais de cunho emocional.
Apesar de grande parte dos docentes adquirirem Dort, a síndrome também afeta outras categorias profissionais, como ocorreu com a gerente de farmácia, Rejane Uchôa. Há quatro anos atuando na função, ela conta que já vinha de um histórico de dores no punho direito “até então suportáveis”, que surgiram por conta de tarefas do dia a dia.
Ela relembra que as dores foram se intensificando, até que, há cerca de 15 dias, as impediram de fazer movimentos simples como amarrar os cabelos ou segurar uma caneta.
“A partir do momento que senti dor e cheguei chorando ao médico, fui atrás de tratamento, pois já não estava mais suportável. Na primeira consulta que o médico pediu para eu fazer um exercício e não consegui, foi identificado que era Dort e que precisava de fisioterapia, medicamento e acompanhamento para que não viesse a fazer cirurgia”, relatou.
A adaptação foi outro fator que a Rejane também teve que conciliar, já que ela é destra e tinha que usar a mão esquerda. “Parece que você não existe sem essa mão. A canhota vai só acompanhando. As coisas simples que a gente acha que vai conseguir, eu não conseguia por conta da dor e da inflamação nos nervos”, relembrou.
No momento, a gerente está afastada para concluir o tratamento. Agora, para que as dores não voltem, Rejane contou o que pretende fazer.
“Quando eu voltar, vou me policiar para executar os exercícios solicitados. Se eu precisar de ajuda, ao invés de fazer força, vou pedir o auxílio de alguém para que não aconteça novamente. Melhor eu pedir ajuda, do que não estar lá”, ressaltou.
A LER e a Dort geralmente afetam membros superiores (antebraço, punhos, mãos, dedos), causadas por movimentos repetitivos em excesso, como uso de computador e celular. De acordo com o fisioterapeuta Wagner Fagundes, entre os sintomas estão: formigamento, dor incapacitante e insensibilidade em algumas partes das mãos.
“O que mais ocasiona essas doenças ocupacionais, é a falta do período de repouso. Por mais que a pessoa trabalhe muito, ela precisa dormir bem, estar em descanso, para fazer o relaxamento muscular e liberar as estruturas que nós temos nesses membros e, geralmente, boa parte da população não leva a sério a questão do descanso” salientou o fisioterapeuta.
Segundo ele, o ambiente de trabalho “mal gerido” também pode contribuir para um futuro diagnóstico das doenças ocupacionais. “Além da sobrecarga de trabalho, esse local pode trazer o aumento dessas doenças”, frisou.
As profissões que ocupam os primeiros lugares no ranking, ainda segundo Fagundes, são os prestadores de serviços gerais, funcionários de escritórios, digitadores, demandas industriais, profissionais da saúde e os professores.
Para prevenir as síndromes, o fisioterapeuta indica organização laboral, como postura alinhada. “A ergonomia tem toda uma legislação, como cantos livres, que podem ferir a pele, observação de ângulos de computador, mesa, assento. Isso tudo tem que ser respeitado. Posicionamento da cabeça. A tela tem que estar ao nível dos olhos. Além disso, deve-se ainda regular o sono e o descanso”, concluiu.
Suzanne Oliveira