Tristeza de fim de ano tem nome: holidays blues. É normal se sentir assim?

Tristeza também pode ser trazida pelas memórias da infância e também pelas expectativas criadas, diz especialista. – Foto: Ascom/Estácio

Para muita gente, a época de festas de fim de ano é também sinônimo de tristeza e uma certa melancolia. E essa sensação de tristeza ligada ao Natal e Ano Novo é mais comum do que se imagina. Ela é tão comum que existe até uma terminologia própria. Trata-se de “holidays blues” (tristeza de feriado, em uma tradução livre), um certo estado depressivo ligado a estas datas.

É o momento de fechamento de ciclo e reinício de um próximo. É a hora de se fazer um balanço do que aconteceu ao longo do ano e confrontar as expectativas que se tinha, os projetos que fez no início do ano e o que conseguiu. Essa reflexão pode trazer alguma frustração porque dificilmente conseguimos cumprir tudo aquilo que projetamos. Esse é o momento de renovar as esperanças para o próximo ciclo, ou desistir de algumas coisas e fazer novos projetos.

Essa sensação de tristeza que toma conta de muitas pessoas nessa época, também pode ser trazida pelas memórias da infância, de outros natais, outros recomeços e até mesmo de arranjos familiares que a gente tinha e que mudaram, de amigos que não encontramos mais. “É hora de lidar com a saudade e com os lutos. Ainda que a pessoa não tenha nenhuma crença religiosa ligada a esse período ela tem muitas memórias afetivas ligadas a esse período. E nem sempre essas memórias são felizes”, explica Adriana Viscardi, professora de Psicologia da Estácio.

De acordo com a especialista, há também as expectativas criadas e que são ligadas a esse período. Sejam os presentes que se pretende comprar e às vezes não consegue e os reencontros com pessoas da família, com amigos que nem sempre geram uma expectativa agradável. “Como se não bastasse todo estresse ligado a esse período como organizar a vida financeiramente, organizar as festas, organizar as férias também interfere bastante”, completa

A professora explica que por conta disso tudo “não há problema em se sentir um pouco triste”. “Afinal, não podemos patologizar tudo na vida. São questões existenciais que nos afetam e que a gente vai elaborando. É uma pequena tristeza transformadora. A gente reflete sobre algumas questões e a segue adiante. São questões existenciais que fazem parte da vida. É um exercício importante do qual a gente não deve fugir”, observa.

No entanto, é preciso reconhecer que é um período um pouco mais difícil para quem tem alguma tendência para um estado mais depressivo, mais melancólico, ressalta Adriana. Segundo ela, dependendo das condições e do contexto que a pessoa vive, da rede de apoio que ela tem, pode ser problemático de fato.

“Embora não possamos forçar e cobrar que essa pessoa se encontre com as outras, podemos e devemos respeitar, nos ofertar como apoio, não deixar de convidar e insistir um pouco sem forçar. E se você perceber que esse período de tristeza está demorando demais para passar ou está mais intenso que o comum é hora de procurar ajuda de fato. Não podemos deixar pessoas que estão passando por um momento muito difícil, solitárias nesse período. Precisamos ser a rede de apoio dessas pessoas, especialmente para aquelas que tiram alguma perda e/ou estão vivenciando algum luto”, finaliza.

Alexsandra Sampaio

 

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