Para marcar o 14º aniversário do Centro Humanitário de Apoio à Mulher (CHAME), a TV Assembleia, canal 57.3, estreia nesta sexta-feira, 18, às 13h30, com reprises às 20h30 e 22h30, o documentário “Chame 14 anos: proteção e cuidado”.
A obra traça um panorama do Chame ao longo do tempo, desde seu início como marco na rede de proteção até suas últimas inovações, incluindo atendimento, conscientização em escolas e uso do ZAPChame para assistência remota.
“Desde a sua fundação até as mudanças recentes, o documentário englobou sua atuação e trabalho, focando agora na conscientização de jovens e no uso do ZapChame para atendimento on-line. O centro, por exemplo, agora dispõe de um veículo que auxilia mulheres, conduzindo-as e, se necessário, auxiliando em denúncias na delegacia”, esclareceu a diretora da TV Assembleia, Camila Dall’Agnol.
Para contar essa história, a produção entrevistou a equipe do programa, mulheres assistidas e autoridades. Entre elas, destaca-se o depoimento do presidente do Poder Legislativo, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), que ressaltou o pioneirismo da Casa no combate à violência e a importância do Chame nesse esforço.
“A Assembleia está mostrando que está nessa luta para combater esse tipo de violência. Eu vou além, acho que a Assembleia Legislativa, além de fortalecer o CHAME com seus serviços de apoio à mulher vítima de violência, deve ser mais preventivo. Eu entendo que nós somos pioneiros nessa liderança, não só através do Chame, mas também de discussões nas comissões permanentes, audiências públicas, falas, cobranças e projetos de lei aprovados. A Assembleia sempre esteve à frente. E o CHAME é nossa ferramenta”, observou Sampaio.
Ciclo de violência, acolhimento e redenção
Por trás das fachadas que aparentam ser perfeitas, nos interiores dos lares, muitas vezes se esconde a realidade da violência doméstica. Maria (nome fictício) é uma das duas mulheres assistidas que concordaram em compartilhar suas histórias de abuso e superação no documentário.
Mãe de quatro filhos, desde 2017, ela enfrentou um ciclo de violência doméstica antes de encontrar apoio para mudar sua vida. Vivenciou violência psicológica, manipulação e ameaças constantes, culminando na agressão física.
De acordo com ela, a violência psicológica foi um dos primeiros sinais alarmantes na relação. “Ele fazia parecer que minha única opção era o casamento, que eu não tinha controle sobre minha própria vida”, revelou. “Era como se minhas esperanças e sonhos fossem apagados gradualmente”, acrescentou.
Em 2021, a violência física se tornou mais intensa. O ponto de inflexão ocorreu quando a filha mais velha testemunhou um episódio de violência. “Ela me disse que eu precisava largar aquele homem”, relembra.
Ela saiu de casa com os filhos, porém as ameaças persistiram por meio de mensagens e ligações. “Quando fui à delegacia, relatei todos os acontecimentos e a policial ouviu as agressões verbais, afirmando que eu faria uma denúncia. Ele desligou. Foi nesse momento que decidi buscar auxílio no CHAME”, compartilhou.
A obra também explora o dilema emocional enfrentado pela vítima, que tinha receio de denunciar devido ao medo das consequências para ela e seus filhos. “Eu não falava para minha família por medo das reações, especialmente pensando em meus filhos”, disse.
O realizador do documentário, jornalista Willians Dias, enfatizou que o objetivo, mais do que reconhecer a atuação do CHAME, é aumentar a conscientização sobre a realidade da violência doméstica e inspirar outras sobreviventes a buscar ajuda.
“Conversamos com duas pessoas atendidas pelo centro, que decidiram romper o ciclo de violência. Traremos material sobre o aniversário do CHAME, mas também alertas sobre como interromper o ciclo de violência e como a instituição pode ajudar, incentivando as mulheres a romperem esse ciclo e a viverem com dignidade”, afirmou Dias.
Com depoimentos sinceros como o de Maria, a produção promete oferecer uma perspectiva sensível e honesta sobre vidas afetadas pela violência doméstica, incentivando diálogos importantes sobre prevenção, apoio e empoderamento.
“Jamais quero que minhas filhas cresçam achando que alguém pode limitá-las, pois a violência não é apenas física ou psicológica. Ela nos limita, nos coloca em situações de impotência. Não quero que minhas filhas vejam isso. Quando as crio, sempre digo: ‘Vocês podem ir aonde quiserem e fazer o que quiserem, sem limites’”, concluiu Maria, empoderada, dona do próprio destino.
Apoio e prevenção
Vinculado à Procuradoria Especial da Mulher da ALE-RR, o Chame oferece desde 2009 atendimento multidisciplinar gratuito e sigiloso às vítimas, abrangendo suporte jurídico, social e psicológico, com núcleos em Boa Vista e Rorainópolis. Em 2016, o órgão se reinventou e criou o ZapChame, para atender via WhatsApp (95) 98402- 0502. Com a suspensão dos atendimentos presenciais durante período de restrições sanitárias impostas pela pandemia de covid-19, os remotos foram intensificados.
“A mulher chega e é ouvida por nossa equipe que é constituída por uma advogada, uma assistente social e uma psicóloga. É orientada, é acolhida, se for necessário fazemos outros atendimentos psicológicos para essa mulher, para ela se sentir mais fortalecida. Se não pudermos resolver aqui na procuradoria, se é juridicamente, encaminhamos para o órgão competente, ou seja, onde ela possa receber essa ajuda”, detalhou, Glauci Gembro, diretora da PEM, que enfatizou que um dos pilares do centro é garantir a autonomia das vítimas durante o atendimento.
Além do serviço multidisciplinar, um dos carros-chefes do CHAME são as parcerias institucionais (Tribunal de Justiça, Defensoria Pública, Secretaria de Educação, entre outros) e as visitas às escolas públicas de Boa Vista para discutir a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) e educar os estudantes sobre a importância do respeito, da igualdade de gênero, promovendo uma mudança cultural que contribua para a construção de uma sociedade mais segura e igualitária para todas as mulheres.
“Estamos entrando nas escolas acreditando que através dos adolescentes e crianças podemos fazer a diferença. Ao interagir com eles, percebemos que alguns estão sofrendo com pais agressores, e outros estão se tornando agressores. E é essencial cuidar desses adolescentes. Muitos relatam que seus próprios pais são os agressores, mas muitos não têm coragem de denunciar” explicou a procuradora da PEM, deputada Joilma Teodora (Podemos).
Valdeilson Freitas Guimarães, professor de Educação Física no Colégio Estadual Militarizado Dr. Luiz Rittler Brito de Lucena, situado no bairro Nova Cidade e visitado pelo programa, acumula mais de duas décadas de experiência na área educacional. Em sua perspectiva, a visita representou uma excelente oportunidade para ampliar a discussão sobre o tema, especialmente nas áreas periféricas da cidade.
“Nossos índices de violência aqui são consideravelmente altos e reconhecemos o papel crucial que a escola pode desempenhar. Informações desse tipo e eventos como o presente são cruciais para combater essa onda de violência. Muitos de nossos alunos vivenciam e testemunham essa realidade em seus lares. Portanto, a escola se configura como o ambiente ideal para enfrentarmos esse desafio de forma direta”, avaliou o professor que também participou do documentário.
Para aqueles que perderem a estreia de ‘CHAME 14 anos: proteção e cuidado’ e/ou sua exibição rotativa na grade de programação da TV Assembleia (57.3), a produção será disponibilizada nas redes sociais no canal do YouTube do Poder Legislativo (@assembleiarr). Na plataforma, os espectadores podem conferir mais de 80 produções originais que abordam inclusão, turismo, saúde, educação e questões sociais.
Ficha técnica
“Chame: 14 anos: proteção e cuidado”, 15’, 2023.
Reportagem: Willians Dias
Produção: Tamara Araújo e Willians Dias
Imagens: Emackson Sarmento
Apoio técnico: Leonardo Pinto
Edição de imagens: Eduardo Maduro
Edição de texto: Camila Dall’Agnol
Revisão: Camila Dall’Agnol
Diretor de Programação: Bruno Almeida
Diretora de Televisão e Rádio: Camila Dall’Agnol
Superintendente de Comunicação: Sônia Lucia Nunes
Suellen Gurgel