Workshop sobre autismo nas artes marciais reúne profissionais da área da educação e esporte

Durante todo o dia pessoas que trabalham a linha de inclusão tiveram a oportunidade de conhecer o trabalho realizado por professores de artes marciais do Rio de Janeiro. – Fotos: Marley Lima | Jader Souza

O encerramento do workshop “Autismo sob a ótica das artes marciais”, promovido pelo Centro de Acolhimento ao Autista – TEAMARR, em parceria com a Superintendência de Programas Especiais (SPE) da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), realizado nesta segunda-feira, 27, contou com a participação de profissionais que atuam em diversas áreas da educação e que se deparam, no dia a dia, com situações de inclusão, que exigem tratamento diferenciado.

O evento iniciou na parte da manhã no Plenário Noêmia Bastos Amazonas, com palestras que abordaram temas relevantes para a compreensão e o tratamento do Transtorno de Espectro Autista (TEA) sob a ótica das artes marciais e da psicomotricidade, destacando os benefícios do esporte para o desenvolvimento desse público, como ganho de resistência física, disposição, melhora na flexibilidade, coordenação motora, entre outros. Já na parte da tarde e noite, as atividades ocorreram no Plenarinho Valério Caldas de Magalhães. Os registros fotográficos poderão ser acessados no Flickr da Assembleia Legislativa no endereço https://www.flickr.com/photos/alrr/albums.

Felipe Nilo

E de que maneira as artes marciais podem contribuir para o enfrentamento, bem como auxiliar os autistas numa sociedade tão marcada por diferenças? A resposta foi trazida pelos convidados Felipe Nilo e Raphael Martins, mostrando que na prática as artes marciais podem ser adaptadas para crianças neurodivergentes.

“O nosso objetivo aqui é trazer um movimento de reflexão sobre a importância que o corpo tem para o desenvolvimento terapêutico. Muitas vezes, quando se pensa em terapia, logo vem a parte cognitiva, a do psicólogo, intervenções de sensibilidade sensorial, ficando defasada a parte motora, que é importantíssimo para o desenvolvimento dos nossos alunos. E a atividade física, tanto por meio dos estímulos das artes marciais quanto por estímulos da intervenção psicomotora são de suma importância porque o corpo vai englobar todas as esferas de compreensão do próprio sujeito”, disse o professor de artes marciais, Felipe Nilo.

Raphael Martins

O psicomotricista Raphael Martins, contou que trabalha desde 2013 focado neste público, e que tudo começou porque se deparou com uma criança autista entre os alunos que ele ministrava aulas.

“Eu no momento não consegui fazer nada, não me senti competente para dar atenção àquela criança. Então decidi buscar esse conhecimento, foi quando notei o quanto era cru em relação a essas informações no mundo das artes marciais. A partir daí eu passei a dedicar a minha vida ao desenvolvimento de pessoas com autismo usando as artes marciais”, contou.

Martins garante que as artes marciais para o autismo melhoram a coordenação motora, o contato visual, tempo de atenção, autocontrole, autodefesa e combate ao bullying. “As artes marciais quando trabalhadas de maneira correta, acabam trazendo para crianças, jovens e adultos com autismo, são de suma importância, pois são ferramentas de terapia de fato para as nossas crianças”, garantiu Martins.

Felipe Nilo complementou afirmando que o período de alfabetização pode ser feito usando os estímulos corporais. “A ideia é pensar numa reflexão e de como estimular esse corpo com estratégias simples e de fácil manejo para que possa atender às crianças de maneira lúdica, autônoma, de forma que ela se sinta bem, acolhida e bem à vontade no espaço de intervenção. Quando falamos de autismo, é importantíssimo as dinâmicas de imitação, seja de membros superiores, inferiores, expressões faciais, e de movimentos globais. A imitação é um processo de modulação importante para o desenvolvimento da criança autista”, destacou Nilo, ao mostrar na prática como e o porquê fazer esses exercícios.

Deputada Angela Águida Portella

Para a deputada Angela Águida Portella (PP), idealizadora do TEAMARR, o esporte em geral pode auxiliar na inclusão das pessoas com o TEA, e que o projeto desenvolvido no Rio de Janeiro por Felipe Neto e Raphael Martins voltado para as artes marciais, já apresenta resultados importantes.

“Estamos trabalhando as artes marciais para o aproveitamento do esporte e no atendimento dos autistas, além desse novo olhar do professor Raphael Martins, que é psicomotricista, que fala do atendimento de forma lúdica, com jogos, com brincadeiras, tornando a aprendizagem mais agradável, uma vez que o autista tem dificuldade de interação e precisa sentir confiança no outro”, disse a deputada.

Levando em consideração que para cada 30 nascimentos um será autista, a presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Família, da Mulher, da Criança, do Adolescente e Ação Social, ressalta que é importante os profissionais e a sociedade em geral buscar conhecimento para lidar com esse público.

Paulo César

“Foi um dia de palestras e com uma participação muito boa. Já temos convites para outras oficinas. Fico muito feliz porque nós temos que, cada vez mais, nos prepararmos para o atendimento das pessoas neurotípicas. O TEAMARR vem com essa ideia do acolhimento, de mostrar que essas pessoas têm a quem recorrer, capacitando não só os profissionais, mas principalmente os pais e a população em geral. A prevalência de autista é muito alta, em toda sala de aula e em toda família tem um. Precisamos tornar esse mundo mais acolhedor, com um olhar humanizado, um olhar de respeito”, disse.

O professor de judô Paulo César acompanhou as palestras e revelou que já põe em prática junto aos alunos muitas das práticas apresentadas pelos palestrantes.

“Na minha academia as crianças autistas são as do primeiro horário, e o que o professor falou foi importante porque aumentou meu conhecimento e, aos poucos, vou colocar tudo em prática durante as aulas”, afirmou.

Marilena Freitas

 

 

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