A Assembleia Legislativa de Roraima (ALERR) e várias instituições do Estado participaram na tarde desta terça-feira, 6, da “Caminhada pela Paz”. Num percurso de quase um quilômetro, cerca de 500 pessoas saíram do 2º Batalhão da Polícia Militar em direção à Praça Germano Sampaio portando cartazes com os nomes de mulheres que foram mortas ou vítimas de tentativa de homicídio, relembrando casos que ocorreram nos últimos três anos e entoando a todo momento a frase “não à violência”.
“Afasta de nós esse cale-se” foi o slogan da caminhada, que coincidiu com os “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher” e o Dia do Laço Branco.
O presidente do Poder Legislativo, Soldado Sampaio (Republicanos), ressaltou que é importante a união das instituições para discutir assuntos que afetam diretamente a população e são da alçada do Parlamento, que faz as leis com o intuito de solucionar anormalidades que ferem o direito do cidadão.
“A Assembleia Legislativa tem sido protagonista nestas discussões por meio de várias iniciativas, como projetos de lei, audiências públicas e o Chame [Centro Humanitário de Apoio à Mulher], ligado à Procuradoria Especial da Mulher. A violência contra a mulher é inadmissível. Quero parabenizar todas as entidades envolvidas, especialmente o Ministério Público. O autor de qualquer tentativa de agressão a mulheres tem de ser responsabilizado e punido, conforme a lei. Apoiamos todas as iniciativas da sociedade e das instituições”, afirmou Sampaio.
A deputada Catarina Guerra (União) participou da caminhada. “A participação do Executivo, Judiciário e Legislativo mostra a união e a força que a gente precisa impor e exigir, para que nós, mulheres, possamos sim ser ouvidas, e juntas darmos um basta à violência. Temos na Assembleia o Chame, que promove acolhimento de forma exemplar, dando a segurança e a garantia que muitas mulheres buscam. Temos também os projetos de lei que transformam a vida de muitas vítimas, inclusive garantindo a elas a segurança”, destacou.
A diretora do Chame, Aldenize Barros, lembrou que essa é uma causa que necessita da união de todos. “Estamos nos ‘21 Dias de Ativismo’, que começou em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, por entender que a vítima negra sofre tanto pela raça como por ser mulher. Então, essa caminhada veio para somar, como uma alerta às mulheres para que procurem ajuda, rompam esse ciclo de violência e denunciem seus parceiros”, disse.
O Chame funciona na Procuradoria Especial da Mulher, aberta de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, nos seguintes endereços: Avenida Santos Dumont, 1470, bairro Aparecida, em Boa Vista, e na Rua Senador Hélio Campos, sem número, BR-174, no município de Rorainópolis. O atendimento também é feito pelo ZapChame (95 – 98402-0502), durante 24 horas, inclusive aos domingos e feriados “Nós temos uma equipe multidisciplinar, formada por psicóloga, advogada e assistente social que faz uma escuta personalizada, acolhendo e orientando, encaminhado para a rede de proteção”, explicou Aldenize.
A procuradora-geral do MPRR, Janaína Carneiro, enfatizou que a caminhada, além de clamar pela paz, tinha como finalidade mobilizar as mulheres.
“Estamos pedindo a paz porque os índices de violência doméstica são altos, mas o que muitas vezes vemos é que as vítimas se calam. No caso que envolveu uma fisioterapeuta, ela não se escondeu, não se acovardou, não se calou e procurou ajuda. Esse é ainda um ato simbólico para que as mulheres não se calem diante dos constrangimentos e das humilhações pelos quais passam em seus lares. Esperamos que homens e mulheres envolvidos possam lutar contra a violação de qualquer direito das mulheres”, afirmou ao recomendar que, em caso de violência, o Ministério Público também deve ser procurado.
A secretária estadual do Trabalho e Bem-Estar Social, Tânia Soares, disse que o Estado tem um papel fundamental nesta luta porque executa a política de enfrentamento da violência contra a mulher. “Temos vários programas, ações no sentido de prevenir e enfrentar a violência. A Casa da Mulher Brasileira é um equipamento da Setrabes, assim como a Casa de Maria, onde elas são acolhidas e protegidas. Além disso, na política da primeira infância, trabalhamos a prevenção contra a violência”.
Para a fotógrafa Lane Prata, é importante a sociedade se manifestar participando de atos como este. “Já fui vítima de violência e de abuso. Não poderia estar fora deste movimento. Espero que seja levado para outras instâncias e datas, e que as pessoas, de fato, abram os olhos, porque chega de violência, a gente já não aguenta mais”.
Francisco Moura Júnior, servidor da ALERR, contou que decidiu estar na caminhada por entender que é relevante a participação de homens para motivar outros a abraçarem a causa. “Temos que estar ao lado das mulheres, pois elas devem ser tratadas com todo respeito e carinho, como nossas mães ensinaram. Acho que essa violência é reflexo da criação dos filhos, que viram o pai fazendo, acharam normal e hoje cometem o mesmo tipo de agressão. O Estado deveria investir em mais políticas públicas e campanhas para educar e mostrar o trauma que isso gera em uma família”, aconselhou.
A jornalista Jéssica Cruz, que comandava a locução durante a caminhada, se emocionou ao contar que teve coragem de romper o ciclo da violência. “Eu disse não, eu dei um basta à violência doméstica antes que acabasse entrando para as estatísticas de homicídio. Pus um ponto final às agressões verbais que sofria diariamente. Hoje, tenho coragem de falar abertamente e dizer para você, mulher, que também não se cale”, falou com os olhos marejados.
Além da ALERR e do MPRR, marcaram presença na caminhada o Governo do Estado, Polícia Militar, Guarda Municipal, Detran (Departamento Estadual de Trânsito), Corpo de Bombeiros e Defensoria Pública (DPE).
Feminicídios e tentativas de homicídio ocorridos entre 2020 e 2022, relembrados durante a caminhada:
1. Ane Gabrielle Rodrigues Moreira, 19 anos. Em 11/2/2020, ela foi assassinada pelo ex-namorado com 17 facadas;
2. Silvana Magalhães de Souza, 35 anos. Em 20/5/2020, mesmo tendo uma medida protetiva de urgência, foi espancada até a morte pelo ex-companheiro Ednaldo Alves da Conceição;
3. Juliana da Silva Rodrigues, 20 anos. Em 17/5/2020, grávida de aproximadamente quatro meses, foi atingida com um golpe de faca no pescoço pelo ex-parceiro;
4. Kelly Cristina Castilho Carneiro, 48 anos. Há suspeita de feminicídio ocorrido no dia 15/8/2020, quando ela foi esfaqueada nas costas e golpeada na cabeça. O autor ainda não foi identificado;
5. Evelyn Emirary Rodriguez, 42 anos. Mesmo com medida protetiva de urgência, em 23/9/2020, na Praça das Águas, foi esfaqueada pelo ex-companheiro Yeinis Jose Mota Padrom, de 53 anos.;
6. Taluany Silva, 19 anos. Foi encontrada morta com golpes de faca em Alto Alegre;
7. Yessica Del Carmen Vidal Lopez, 26 anos. Em 25/4/2021, foi morta a golpes de arma branca do tipo terçado no tórax e na cabeça, pelo companheiro de 34 anos;
8. Leila Alves Fernandes, 33 anos. Foi assassinada pelo namorado na noite de 14/6/2021 com 18 golpes de arma branca, numa ocupação conhecida como Nova Esperança, no bairro Jardim Equatorial;
9. Jusset Del Carmem Romero Arreza. Assassinada em 3/9/2022, no bairro Raiar do Sol, pelo ex-companheiro Ricardo Antônio Flores Custódio, com golpes de faca;
10. Carol (feminicídio tentado), data: 26/11/2022;
11. Hellem Maury da Silva Oliveira, 24 anos. Entre os dias 6 e 7/9/2020, no município de Caroebe, foi morta a facadas dentro de casa por se recusar a beijar o ex-companheiro. Ela tinha quatro filhos, um deles com um mês de vida;
12. Michely Pereira Sampaio, 18 anos. Em 15/9/2020, em Alto Alegre, moradores encontram o corpo dela na estrada. O suspeito é o ex-companheiro;
13. Taluany Silva, 19 anos. Em 6/12/2020, foi encontrada morta com golpes de faca em Alto Alegre, crime cometido pelo ex-parceiro José Antonio Sousa Melo;
14. Josefa Mikaley Camilo da Silva. Em 11/12/2020, na Vila Santa Rita, município do Cantá, ao Norte de Roraima, foi assassinada com 25 golpes de faca pelo ex-companheiro Francisco de Barros Viana, 31 anos, que em seguida se suicidou;
15. Claudiane Oliveira Bonifácio, 20 anos. Em 31/1/2021, na Vila Santa Rita, município do Cantá, foi morta por golpes de faca pelo ex-companheiro Adriano da Silva Costa, de 38 anos. Após o crime, ele também foi agredido até a morte por quatro pessoas, entre elas, o irmão da vítima, um adolescente de 15 anos. A mãe de Claudiane, Cláudia Oliveira, 37 anos, também foi ferida.
Marilena Freitas