Criações do artista plástico Augusto Cardoso poderão ser apreciadas a partir das 9h desta terça-feira, 20, no Espaço Cultural Maria Luiza Vieira Campos, na entrada da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR). A mostra faz parte da programação de abertura do ano legislativo.
A Mostra Especial in memoriam de Augusto Cardoso, uma das maiores expressões de arte do Estado de Roraima, é composta de 16 obras de arte na técnica de óleo sobre tela, sendo quatro de uma das maiores colecionadoras de obras do artista.
Vítima da covid, Augusto Cardoso morreu em 22 de julho de 2020. Ele deixou um legado no campo das artes plásticas e se tornou imortal nas suas obras, as quais podem ser encontradas tanto em acervos pessoais quanto em instituições públicas, museus, nas embaixadas do Brasil, Venezuela, Itália, Argentina, Holanda, Japão, França, Canadá, Áustria e Estados Unidos, bem como nas igrejas e no Vaticano.
O superintendente dos Programas Especiais, Pablo Sérgio Bezerra, anunciou que o ano de 2024 será pautado por muitas atividades culturais por parte da Assembleia Legislativa, e que no retorno dos trabalhos legislativos será com as obras de um artista de renome internacional.
“Augusto Cardoso sempre levou a imagem de Roraima de forma positiva para o Brasil e para o mundo, mostrando a popularidade na sua produção artística em relação à arte sacra e à arte regional, retratando bem nossas paisagens regionais. É uma homenagem póstuma e também a oportunidade de parte da população roraimense, que desconhece o trabalho deste importante artista”, destacou Bezerra, ao salientar que serão três dias de visitação, de 20 a 22.
Nesta mostra será possível apreciar obras com a temática Monte Roraima, Serra Grande, Pedra Pintada, uma tríade de pontos turísticos, Buritizal, Leda e o Cisne, São Jorge, Guardiã do Ouro Inca, Demarcação, Guerreiro de Taipa, Pandemia 2020 (obra inacabada) e Canaimé, feita em nanquim sobre papel.
As quatro obras do acervo pessoal de Valdelice Santos, “Licinha”, como é conhecida, foram encomendadas e representam as crenças e sonhos. A Santa Ceia, conforme explicou, representa a família, assim como Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e Nossa Senhora da Conceição expressam a fé. O tema Girassóis, explicou Licinha, é a luminosidade da vida.
Ela conheceu Augusto Cardoso quando chegou a Roraima porque buscava entender a cultura local. “Virou uma grande amizade. A perda do Cardoso foi além do tamanho dele como referência em Roraima, como artista plástico. Ficamos com o coração partido. Lembro que quando fui ao ateliê dele e conheci suas obras, pedi que fizesse Nossa Senhora da Conceição e do Perpétuo Socorro, porque sou devota, e a Santa Ceia é porque sou nordestina, a gente come reunido em família. Depois veio a tela de Girassóis, pois gosto muito de flores, da luz que eles representam”, contou Licinha, que tem 14 obras de Augusto Cardoso.
Marchand luta agora para imortalizar Cardoso como patrimônio cultural de Roraima
Diz o ditado popular que “por trás de um grande homem, existe sempre uma grande mulher”. Mas esse ditado não define a relação da marchand Edicilda Cardoso, viúva do artista plástico, que o conheceu em 1982 e há mais de 40 anos cuida do acervo.
“Cardoso dizia que eu era a garotinha dele, e que não estava por trás, mas ao lado dele. Primeiro nos apaixonamos, depois percebi que ele precisava ser mostrado para o mundo. Então comecei a trabalhar em cima disso. No trabalho, eu não era a senhora Cardoso, mas a empresária do Cardoso”, contou.
A galeria Di Cardoso sempre foi de Edicilda. Era ela que negociava as obras, organizava exposições e divulgava o artista para o mundo. “Cardoso era um autodidata, um estudioso da arte, creio que o mais estudioso na Era moderna. Disciplinado, ele cumpria todos os prazos. Trabalhamos com muita seriedade. Não foi à toa que ele ganhou a seriedade, a respeitabilidade que sempre imaginei que teria. Para mim ele foi e é um dos melhores do Brasil, quiçá, do mundo”, disse emocionada.
Na memória fotográfica, Edicilda relembra os 30 dias antes da partida e a celebração em família por ocasião do aniversário do neto, em 10 de junho. “No dia 17, ele foi para o hospital e não voltou mais. Vou levar para a mostra uma obra de 2020, inacabada, que ele ainda trabalhou dois dias antes de ser internado. Era uma obra sobre a pandemia”, relembrou.
A mostra na Assembleia Legislativa de Roraima, uma Casa que recebe pessoas de diversos segmentos, tem uma representatividade e grande alcance, na visão de Edicilda, porque reacende a memória e a vida do artista.
“Trabalhar a assinatura do Cardoso é o meu objetivo de vida. Não acredito que eu tenha muito tempo para fazer isso porque também não sou tão jovem. Mas é esse meu objetivo, é o que me dá força de levantar todos os dias, botar a roupa de trabalho e cair no mundo, brigar, porque pelo nome Cardoso vou brigar até o último dia em que estiver aqui, porque o Cardoso não é mais meu, mas um patrimônio cultural do Estado de Roraima. Eu faço muita questão de que as nossas autoridades tenham essa consciência”, afirmou.
Marilena Freitas