A Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) retomou suas atividades parlamentares nesta terça-feira, 20, com a abertura da Mostra Especial in memoriam ao artista plástico Augusto Cardoso, no Espaço Cultural Maria Luiza Vieira Campos (hall da instituição).
Organizada pela Superintendência de Programas Especiais e coordenada em conjunto pela Superintendência de Comunicação e Diretoria de Cerimonial, a exposição fica aberta ao público até o dia 22 e convida a revisitar a trajetória e o legado do artista.
As obras de Augusto Cardoso podem ser encontradas em acervos pessoais, instituições públicas, museus e até mesmo em embaixadas de diversos países, como Brasil, Venezuela, Itália, Argentina, Holanda, Japão, França, Canadá, Áustria e Estados Unidos. Suas criações também adornam igrejas e o Vaticano.
“Essa homenagem ao Cardoso, um artista de renome internacional, é ‘made in Roraima’, macuxi. Portanto, não poderia ser diferente o Poder Legislativo prestigiar. Assim, a sociedade também está convidada a prestigiar essa obra no hall da Assembleia, e acompanhar essas belas obras”, destacou o presidente do Poder Legislativo, Soldado Sampaio (Republicanos), na abertura da exposição.
Imaginário roraimense
A mostra apresenta 16 obras de arte criadas na técnica de óleo sobre tela. A temática diversificada inclui elementos históricos, sacros e regionais, como o Monte Roraima, Serra Grande, Pedra Pintada, Buritizal, São Jorge, Guardião do Ouro Inca, Demarcação, Guerreiro de Taipa, Pandemia 2020 (obra inacabada) e Canaimé, feita em nanquim sobre papel.
Os temas regionais tiveram um impacto significativo na servidora pública Helen Caroline Braz. Para ela, essas imagens estabelecem um diálogo com a história e representam uma maneira de se apropriar do imaginário do Estado.
“As obras dos santos são belíssimas, mas as regionais são as que mais chamam a atenção. Eu achei especialmente interessante a obra do Canaimé, porque é algo aqui de Roraima. Antes, eu só ouvia histórias, e nunca imaginei como seria”, disse a servidora.
A exposição também apresentou quatro peças selecionadas do acervo pessoal de Valdelice Santos. As composições representam crenças e sonhos, como a Santa Ceia, que simboliza a família, e as imagens de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e Nossa Senhora da Conceição, que expressam a fé, e os Girassóis, a vitalidade da vida.
Baiana do Vale do São Francisco, Santos migrou para Roraima há mais de 30 anos e se tornou produtora de açaí no Sul do Estado. Emocionada, ela compartilhou o motivo de trazer a público um acervo que até então só podia ser visto em sua casa.
“As obras do Cardoso retratam Roraima, que nos adotou como roraimenses e roraimados. E essa partilha com as pessoas é porque gosto muito de compartilhar, pois o que temos não é só nosso. A obra que mais gosto é a Santa Ceia, justamente por essa ideia de dividir. Tenho duas filhas, e três netos já nasceram em Roraima, então essa terra me adotou, essa terra que eu amo, e que temos a obrigação de valorizar os talentos e amá-la imensamente”, disse a colecionadora.
Para Edicilda Cardoso, marchand e viúva do artista plástico, a exposição gratuita na sede do Poder Legislativa representa uma oportunidade ímpar para que pessoas de diferentes origens e idades se aproximem da obra do renomado artista.
“Nosso sentimento é de gratidão, pois foi o próprio Cardoso que me incumbiu desta missão. Agradecemos à Assembleia o convite. Por ser a Casa do Povo, a Assembleia permite que todas as classes sociais visitem as obras de Cardoso, sejam adultos, crianças ou idosos. Hoje, nossa maior preocupação são os jovens. Eles precisam conhecer a obra de Cardoso, que é infinita e eterna, para que possam transmiti-la às próximas gerações. É assim que a história se faz”, afirmou.
Exposição permanente
Além de estar aberta à visitação até 22 de fevereiro, a mostra está permanentemente disponível no portal da Assembleia Legislativa, no endereço https://al.rr.leg.br/. Segundo a diretora de Relações Institucionais do Poder Legislativo, Adriana Cruz, a iniciativa visa democratizar o acesso à arte e ao legado de Augusto Cardoso, permitindo que pessoas de todo o estado e do mundo possam apreciar suas obras.
“Essa limitação de dias da exposição decorre de as obras serem provenientes de uma galeria privada e de um acervo particular, mas a população pode visitá-la no portal da Assembleia Legislativa, onde estão disponíveis todas as obras expostas, o histórico do artista, a localização da galeria, um pouco sobre a curadora dessas obras, que é a viúva de Cardoso, e também sobre a colecionadora”, destacou Cruz.
Já o superintendente de Programas Especiais, Pablo Sérgio Bezerra, adiantou que a exposição é apenas o início de uma série de atividades culturais que a Casa Legislativa pretende desenvolver ao longo de 2024. “Vamos realizar várias exposições com o objetivo de abrir espaço para os artistas mostrarem seus trabalhos e, ao mesmo tempo, permitir que a sociedade conheça essas obras artísticas desconhecidas”, disse o superintendente.
As fotos da abertura oficial da mostra podem ser conferidas no Flickr da Assembleia Legislativa, no endereço https://flickr.com/photos/alrr/albums.
Biografia
Nascido em Roraima, Augusto Cardoso desabrochou como artista autodidata aos 14 anos. Ao longo de sua carreira, suas obras, em exposições individuais e coletivas, conquistaram o mundo, com um acervo de aproximadamente 1.600 peças. Entre suas obras sacras, destacam-se o Tríptico de São Francisco, na Igreja de São Francisco, a Via Sacra (15 peças) na Matriz de Nossa Senhora do Carmo, e São Francisco do Lavrado, que adorna o acervo do Museu do Vaticano.
Sua paixão pela arte o levou a outros caminhos além da criação. Atuou como conselheiro Estadual de Cultura, presidindo o Colegiado no biênio 2005/2006. No Museu Integrado de Roraima, dedicou-se à curadoria do acervo e à direção de arte, realizando importantes exposições histórico-científicas que marcaram a vida de milhares de estudantes.
Em 2011, foi nomeado membro da Academia Amazonense de Arte e Ciência, ocupando a cadeira nº 34. Elegeu como patrono seu pai, Licínio Cardoso (in memoriam).
Em 22 de julho de 2020, a Covid-19 silenciou sua voz, mas não sua arte. A genialidade do artista se perpetua em cada obra, que pode ser conferida na Galeria Art Cardoso (rua Rodrigo Pires de Figueiredo, nº 84, bairro Calungá), nos acervos pessoais e nas exposições públicas.
Suellen Gurgel