Valorização e resgate histórico: ALE-RR celebra cultura e educação dos povos originários

Profissionais são homenageados pelas contribuições para preservação cultural e educação diferenciada; Lei pretende enaltecer esses profissionais essenciais para a educação e cultura dos povos originários. – Fotos: Eduardo Andrade / Marley Lima / Nonato Sousa | SupCom/ALE-RR

Neste domingo, 28, é celebrado o Dia do Professor Indígena, instituído por meio da Lei Estadual nº 1.180/2017, de autoria da ex-deputada Lenir Rodrigues. A data tem o intuito de homenagear o profissional indígena que atua nas salas de aulas e reforça a necessidade da educação de qualidade e diferenciada aos povos originários.

De acordo com a norma, os estabelecimentos de ensino poderão promover solenidades em que se enalteça a função do mestre na sociedade, envolvendo a participação dos alunos e da comunidade escolar. O dia escolhido é uma homenagem ao aniversário de Natalina da Silva Messias, professora da etnia Macuxi e militante da Organização de Professores Indígenas de Roraima (Opirr).

Deputado Soldado Sampaio, presidente da ALE-RR

Para o presidente da Casa Legislativa, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), a data reflete a grande contribuição desses profissionais para a preservação da cultura indígena.

“Celebrar o Dia do Professor Indígena é reconhecer a importância desses educadores na preservação e transmissão dos saberes tradicionais. Eles são fundamentais na construção de uma educação que respeita e valoriza a diversidade cultural dos povos indígenas, fortalecendo as identidades dos povos originários e promovendo um futuro mais inclusivo e justo para todos”, pontuou o parlamentar.

A homenagem aos educadores dos povos originários se torna ainda mais justa quando se analisam os dados educacionais de Roraima. Conforme o Censo Escolar da Educação Indígena, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2023, o Estado possui um total de 371 escolas, das quais 251 são indígenas.

Ainda de acordo com Inep, a participação indígena nas escolas também cresceu, sendo que em 2022 foram contabilizadas 21.569 matrículas de alunos, o que representa um aumento de 23,5% em comparação com 2015. Consequentemente, esse crescimento demandou também qualificação profissional.

Mariana Cunha, professora indígena

A professora Mariana Cunha, indígena da etnia Macuxi, integra o corpo docente da licenciatura intercultural do Instituto Insikiran, curso exclusivo para formação de professores indígenas e vinculado à Universidade Federal de Roraima (UFRR). Bióloga, doutoranda em ciências ambientais e com quase 20 anos de experiência em sala de aula, ela destacou que o professor indígena é essencial para a manutenção da cultura dos povos originários.

“A valorização do profissional que entende a dinâmica da comunidade, que a vivencia e fala a língua dos seus alunos é fundamental. O professor que atua na sala de aula tem o conhecimento do cotidiano e das vivências daquela etnia, o que torna o aprendizado mais fácil”, esclareceu a professora.

Sobre esse assunto, ela lembrou ainda que as aulas antigamente eram realizadas sem o devido respeito à língua materna, o que causou um prejuízo na preservação linguística dessa população.

“Anteriormente, quem atuava nas escolas indígenas eram profissionais não indígenas e que, portanto, não compreendiam a dinâmica dos alunos. Muitas vezes, quando o aluno queria falar a própria língua materna, era reprimido em sala de aula. Meus pais e eu, por exemplo, não falamos nossa língua indígena, não por falta de vontade, mas por um contexto histórico em que fomos reprimidos e desencorajados a utilizá-la na escola”, frisou Mariana.

Danielle Trindade, coordenadora do curso indígena da UFRR

Apesar disso, a docente enaltece hoje uma mudança na qualificação dos professores indígenas. “O mais interessante é que hoje sou professora dos filhos dos meus antigos alunos, e em breve serei dos netos deles. Essa trajetória é interessante: o pai se formou, o aluno concluiu o ensino médio na comunidade, foi para a universidade e retornou mais preparado para ser professor. São grandes ganhos, com pessoas mais bem preparadas e conhecedoras das práticas docentes e das leis”, concluiu Mariana.

Mais qualificação profissional

Iniciado em 2001, a Licenciatura Intercultural do Instituto Insikiran foi o primeiro curso federal criado especificamente para indígenas no país, com a proposta de atender à necessidade de formação de professores indígenas em nível superior.

Conforme destacou a coordenadora do curso universitário, Danielle Trindade, ao longo desses 20 anos, mais de 400 professores foram formados e a grande maioria atua prioritariamente nas comunidades indígenas de base.

“Estamos dedicados a fortalecer as políticas para manter as línguas indígenas vivas nas comunidades. Além disso, focamos na educação ambiental, que é um problema global e uma ameaça específica para os povos indígenas, bem como na preservação dos territórios dos povos originários, sendo esses os três pilares dentro do curso”, explicou Danielle.

Com a evolução da educação indígena em Roraima e a consequente procura pelo curso de formação de professores, a coordenadora informou que novos cursos foram lançados este ano, agora focados na educação infantil.

“A partir de agosto, iniciaremos dois novos cursos de nível superior: Pedagogia Intercultural Indígena, com 60 alunos; e Educação Especial Inclusiva Intercultural, com 70 alunos. Isso representa uma grande conquista, fruto da demanda das comunidades indígenas. Até então, formávamos somente professores para o ensino fundamental II e ensino médio e, neste novo momento, a Pedagogia Intercultural preencherá a lacuna na formação para a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental”, disse entusiasmada.

Anderson Caldas

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