Em audiência com Gilmar Mendes, lideranças indígenas de Roraima solicitam suspensão da Lei 14.701 e convidam para visitar TIs do Estado

A audiência ocorreu a dois dias da segunda reunião da Comissão de Conciliação criada pelo próprio ministro para discutir a Lei 14.701, marcada para esta quarta-feira. – Foto: Ascom/Cimi

Há oito dias em Brasília, a comitiva de lideranças indígenas de Roraima esteve com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, nesta segunda-feira, 26, em seu gabinete, no STF.

A audiência ocorreu a dois dias da segunda reunião da Comissão de Conciliação criada pelo próprio ministro para discutir a Lei 14.701/23, que estabelece o marco temporal para a demarcação de terras indígenas, marcada para esta quarta-feira, 28 de agosto.

Além de reforçarem os direitos indígenas garantidos na Constituição e em Tratados Internacionais como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) 169, que garante o direito à consulta livre, prévia e informada, as lideranças também pediram a suspensão da Lei 14.701/23, principal foco do debate sobre as questões dos direitos dos povos indígenas na Suprema Corte.

Na ocasião, reforçaram o convite ao ministro para visitar não somente a terra indígena Raposa Serra do Sol, mas outras no Estado, que também precisam de atenção do Estado brasileiro. Gilmar Mendes é conhecido por diversas declarações contra os povos indígenas de Roraima, sobretudo da terra indígena Raposa Serra do Sol, alegando improdutividade e abandono do território.

Durante a audiência, o tuxaua geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), ao saudar o ministro, ressaltou que o momento é importante para a luta dos povos indígenas de Roraima e do Brasil, momento de serem ouvidos e ainda acreditarem que o STF, guardião do direito, não negociará os direitos indígenas e cumprirá com a Constituição.

“O que nos traz aqui excelência é que os povos indígenas de Roraima e do Brasil, ainda tem a confiança e a esperança de que a sua Excelência e demais ministros, como guardiões da nossa constituição, não vão negociar nossos direitos e a vida dos povos indígenas”, ressaltou.

O jovem indígena Paulo Ricardo, do povo Macuxi, ao relembrar da votação do julgamento da tese do marco temporal em 2023, agradeceu pelo voto contra o marco temporal, mas também lembrou que “o Brasil não existe sem os povos indígenas e que por isso é preciso que os direitos sejam garantidos, e não negociados”.

O advogado indígena do CIR, Junior Nicacio Farias, do povo Wapichana, reforçou que os direitos indígenas são constitucionais, assim como direitos humanos, direito à dignidade e à vida. E ressaltou que a incidência das lideranças indígenas busca justamente fazer com o que esses direitos sejam respeitados e não negociados.

Ao entregar a carta da terra indígena Raposa Serra do Sol, o coordenador regional das Serras, Amarildo Macuxi, alertou ao ministro que o marco temporal já está impactando a vida dos povos indígenas em seus territórios, como o garimpo ilegal que se alastra pela terra, após retirada da terra indígena Yanomami e o fechamento dos pontos de fiscalização e monitoramento das comunidades indígenas.

O ministro comprometeu- se a visitar Roraima, de acordo com a sua disponibilidade de agenda. Ressaltou que a mesa de conciliação tem como objetivo trazer ao debate as diferentes realidades, porque segundo ele, tem espaço para todos no Brasil e que não querem gerar mais conflitos.

A audiência atendeu a agenda desta segunda-feira, 26, após audiência com a coordenadora da Câmara temática populações indígenas e comunidades tradicionais, Eliana Peres Torelly, da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão da Procuradoria Geral da República (PGR) e com a deputada federal Célia Xakriabá, de Minas Gerais.

A comitiva de lideranças indígenas foi deliberada na última mobilização indígena, no dia 5 de agosto, reunindo mais de 8 mil indígenas, na Praça Ovelário Tames Macuxi, em Boa Vista.

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