O projeto ‘Entre Brasis’, que visa levar apresentações de teatro autoral, para os quatro cantos do país, com a circulação de dois espetáculos afroindígenas, foi premiado na oitava edição do Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras, nesta segunda-feira, 25. O projeto é idealizado pelos grupos Baquetá, do Paraná, e Cia Arteatro, de Roraima, e foi contemplado na categoria infantojuvenil. A cerimônia ocorreu no Conservatório da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte – MG.
O prêmio tem abrangência nacional, contempla onze categorias e reverencia Leda Maria Martins, poeta, ensaísta, artista, professora e Rainha de Nossa Senhora das Mercês do Reinado de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá, em Belo Horizonte. Este ano, o prêmio teve como tema “Da Negação à Afirmação do Brasil”, baseado na produção acadêmica e filmografia do cineasta e pesquisador Joel Zito Araújo, homenageado pela cerimônia.
O “Entre Brasis” reflete sobre os contextos sociais e raciais dos grupos, com base na contracolonização e afirmação identitária. Os dois grupos teatrais são compostos por artistas e técnicos negros e indígenas. Integram o projeto os espetáculos Gotas de Saberes, da Cia Arteatro, e KARINGANA UA KARINGANA! Histórias de Áfricas, do Grupo Baquetá.
Os artistas da companhia roraimense, Márcio Sergino e Silmara Costa, representaram o projeto na cerimônia de entrega da premiação. “Para nós é muito importante, o prêmio tem uma representatividade muito grande no Brasil e no mundo, é uma honra e uma afirmação de que nós estamos no caminho certo com nosso trabalho. Então estamos muito felizes”, ressalta Sergino, um dos fundadores da Cia Arteatro e diretor geral do espetáculo Gotas de Saberes.
Silmara Costa, produtora cultural e atriz da Cia Arteatro destaca a importância do prêmio. “O prêmio recebe o nome da professora Leda Maria, que é uma pesquisadora, uma mulher negra de teatro, da cultura popular. É uma referência importante no país e no mundo na pesquisa sobre o teatro negro no Brasil. Dito isso, ela estava presente ao mesmo prêmio que leva o nome dela. Então, foi muito bonito ver esse encontro de pessoas do Brasil inteiro, porque tinham pessoas premiadas de vários lugares do país. E é uma satisfação grande ver que nós e o grupo Baquetá estamos entre os premiados. Isso reforça a importância desse trabalho que a gente tem feito e da potência do encontro dos dois grupos. O ‘Entre Brasis’ é um projeto, de fato, muito especial, a gente se encontra com as nossas histórias e vamos circular pelo país, falando dessas histórias, dessas narrativas, que são orais dos nossos avós, montadas nos quintais, nas nossas casas, nos terreiros, é muito significativo, é muito bonito”, afirma.
Kamylla Paola dos Santos, brincante e idealizadora do Grupo Baquetá, também celebra o recebimento do prêmio. “Para nós é uma alegria ter o nosso trabalho reconhecido. São 15 anos dedicados a produzir espetáculos, eventos, oficinas, formações, todos com base nos saberes africanos, afro-brasileiros, indígenas. Então, quando a gente recebe um prêmio como esse, com o nome da professora Leda Maria Martins, que é uma rainha, referência para o Grupo Baquetá, é uma verdadeira celebração e ter esse reconhecimento junto com a companhia Arteatro”, comemora.
O projeto “Entre Brasis” começou a turnê em outubro, com apresentações em Roraima. Em 2025, os grupos também levarão os espetáculos para as regiões Nordeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil. Pernambuco e Bahia em janeiro, Paraná em março e Goiás em julho. O projeto conta com fomento da Fundação Nacional de Artes (Funarte), por meio do Rede das Artes – Programa de Difusão Nacional, no edital Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz 2023.
Em todos os estados, as apresentações serão gratuitas, nos interiores, espaços quilombolas, comunidades indígenas e escolas. O projeto celebra os 31 anos de criação da Cia Arteatro e os 15 anos do Grupo Baquetá.