IFRR: inclusão marca formatura do curso Técnico em Agropecuária no Uiramutã

Formatura foi na Comunidade Indígena Enseada, dentro da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol; entre os formando está Dielison Alves (E), deficiente auditivo. – Fotos: Nenzinho Soares

A mais de 300 km distante da Capital, 34 moradores de várias comunidades do Município do Uiramutã, na Terra Indígena Raposa-Serra do Sol, receberam seus diplomas como novos técnicos em agropecuária pelo Campus Amajari do Instituto Federal de Roraima (IFRR). A formatura do curso, ofertado na modalidade educação a distância (EAD), ocorreu na Comunidade Indígena Enseada, Município do Uiramutã, onde foram realizadas as aulas presenciais.

Entre os 34 formandos da primeira turma, um exemplo de superação e inclusão chamou a atenção: o estudante Dielison Pereira Alves, que é surdo e que concluiu o curso mesmo diante de desafios. Morador do Retiro Santa Cecília, área da Comunidade Indígena Enseada onde é realizado o manejo de gado comunitário, Dielison contou, por meio de um bilhete, que se sentiu feliz e realizado ao concluir essa etapa de sua formação.

Conforme ele, ao longo do curso, fez novas amizades, aprendeu a utilizar o notebook, conheceu professores do IFRR e teve a oportunidade de participar de atividades no Campus Amajari. Para acompanhar os estudos, contou com o apoio de colegas de turma e familiares. “Me senti bem. Feliz. Senti dificuldade para fazer minhas atividades devido à internet”, escreveu em resposta à pergunta sobre como havia se sentido no curso.

Os estudantes são, em sua maioria, moradores da Enseada, mas também participaram indígenas das comunidades Pedra Branca, Willemon, Nova Jerusalém e Sapã, além de residentes da sede do Uiramutã, de Pacaraima e do Amajari. Considerado o município mais indígena do Brasil, o Uiramutã foi palco dessa conquista que simboliza avanço na interiorização do ensino técnico.

A turma começou, em 20 de fevereiro de 2024, com 53 alunos, dos quais mais de 64% concluíram o curso, que teve carga horária de 1.200 horas e duração de um ano e meio. Dez dos estudantes que não conseguiram finalizar já solicitaram reingresso na nova turma, sendo que cinco deles já retomaram os estudos em agosto deste ano.

O curso respeitou a porcentagem mínima de 20% dos encontros presenciais, realizados na Comunidade Enseada e na sede do Campus Amajari. Subsequente ao ensino médio, ou seja, destinado a quem já concluiu o ensino médio e busca uma formação complementar, o curso Técnico em Agropecuária tem o objetivo de qualificar estudantes do Estado de Roraima, em especial em regiões distantes da Capital e de difícil acesso, possibilitando aos futuros profissionais aptidão para o exercício na sua área de atuação.

Quem também ressaltou a importância da formação para sua trajetória pessoal e para a Comunidade Enseada foi Dário Souza Leite. Ele relatou que a experiência proporcionada pelo instituto ampliou seus conhecimentos, fortaleceu sua compreensão sobre os desafios locais e abriu novas perspectivas para melhorias na região. “Essa vivência me trouxe mais confiança e motivação para agir e contribuir para mudanças positivas. Sou grato pela oportunidade e espero que mais pessoas possam participar também”, disse.

Para o coordenador do curso em EAD-CAM (Polo Amajari), Weider Henrique Pinheiro Paz, a solenidade na Comunidade Indígena Enseada foi de grande importância, pois representou mais do que a conclusão de um ciclo de estudos: foi a prova de que, mesmo diante de desafios logísticos, a educação a distância possibilita o acesso ao conhecimento e abre caminho para a transformação social. “Acreditamos que o aprendizado adquirido fortalecerá a comunidade, ampliará oportunidades, incentivará a continuidade dos estudos e contribuirá para o desenvolvimento sustentável da região. A educação, sem dúvida, é a ferramenta mais poderosa para construir um futuro mais digno e justo”, afirmou.

A professora da rede estadual e moradora da comunidade Denise Almeida dos Santos é uma das entusiastas e incentivadoras do curso. Ela relembra que os alunos receberam notebooks em formato de cautela, o que foi determinante para o sucesso das atividades. “Em Enseada, já vivenciamos essa experiência da EAD, mas não tínhamos sequer lápis e caderno para estudar. Meus alunos não tinham condições de possuir um notebook. Quando todos receberam o equipamento, tive a certeza do sucesso do estudo. Em pouco tempo, todos estavam dominando o instrumento”, contou.

Segundo ela, outro passo importante foi a união dos professores da Escola Estadual Indígena Ko’ko Isabel Macuxi, que adquiriram uma antena Starlink para viabilizar o acesso à internet. Isso garantiu que todos pudessem estudar com qualidade. “Os cursistas elogiaram a plataforma, que é leve e prática, e, ao final do curso, houve a devolução dos notebooks sem nenhum problema. Muito obrigada ao IFRR/Amajari, ao diretor Rodrigo e aos professores que ofertaram ensino de excelência. Eu sou testemunha desse ‘milagroso estudo’ em Enseada”, declarou.

Rebeca Lopes

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