
Na noite desta quinta-feira, 29, a Câmara Municipal de Boa Vista realizou Audiência Pública “Demandas e Desafios enfrentados pelos Servidores da Educação de Boa Vista”, que aconteceu no plenário da casa. A proposta foi feita pelo vereador Ítalo Otávio (Republicanos).
“Estamos debatendo educação aos olhos dos servidores, daqueles que fazem educação, de pessoas que cuidam dos nossos filhos e netos nas escolas municipais” iniciou Otávio.

Representando o Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Boa Vista, e como Conselheira do Fundeb, Conceição Filha, falou sobre a desmotivação dos profissionais da educação no município de Boa Vista e criticou as imposições do poder executivo.
“Nos espantamos com os vencimentos iniciais dos professores, mas merendeiras ganham R$ 1.693,15 para trabalharem 40 horas, R$ 1.96917 é um salário de um cuidador para ficar com no mínimo 3 crianças nas escolas. Além disso, colocaram câmeras corporais em senhoras de 55 anos com problemas no coração e de pressão alta e cada câmera dessa custou 14 mil reais, um desperdício de dinheiro. Agora estão colocando câmeras nas salas de aula, virou um Big Brother”, criticou.
O Assistente de Aluno, Sebastião Filho, criticou a desvalorização profissional e abordou um recorrente desvio de função nas escolas públicas. “Eu quero dizer para vocês que quando não tem um professor, por falta, atestado médico ou qualquer outro motivo, nenhuma escola tem um profissional para substituí-lo na hora, quem fica é o assistente de aluno para que a prefeitura não receba uma denúncia e ainda somos a única categoria que não recebe gratificação”.
Já a Cuidadora de Aluno, Ingrid Carreiro, apontou a falta de profissionais da área para suprir a alta demanda nas escolas municipais.
“A demanda de cuidadores é sempre feita pelo seletivo, mas esses profissionais não ficam muito tempo no cargo, a demanda é muito alta e o salário é pouco, por isso que muitos seletivados não se apresentam no chamamento ou desistem. Além disso, a gratificação que é paga para o cuidador trabalhar 40 horas é de 620 reais e não faz jus, e ainda temos salas de aula sem central de ar e às vezes esperamos 2 ou 3 meses no calor até ter uma manutenção, temos infestação de pombos, mosquitos, banheiros quebrados, ou seja, problemas salariais e estruturais”, apontou Ingrid.
A Agente de Portaria, Eliana Melo, criticou o uso das câmeras corporais. “Nós controlamos o acesso de pessoas e não deveríamos ter que usar câmeras corporais, não existe isso nas nossas atribuições. A prefeitura tem que investir em segurança, mas não desse jeito”.
Em março deste ano, o Vereador Ítalo Otávio protocolou o Ofício 56/2025 no Ministério Público Estadual para que se apure a conduta da Secretaria Municipal de Educação que atualmente impõe o uso, com coação, de utilização de câmeras corporais em Controladores de Acesso das escolas municipais.
Em um forte discurso, a Professora Sirdennys Silva, relatou problemas estruturais e cobrou a gestão pelo básico aos servidores da educação básica.
“Se hoje estamos adoecendo, o sistema tem participação nisso. Na sala do prefeito tem ar-condicionado, em muitas escolas ter central é luxo, faltam materiais, não tem dinheiro para comprar cartolina para fazer trabalhos para as crianças. Estamos sendo maltratados senhor prefeito e senhor secretário”, exclamou.
Educação Especial
A Professora do Atendimento Educacional Especializado, Catarina Padilha, alertou sobre a explosão de laudos que estão sendo emitidos e como o poder público não tem acompanhado essa questão ao mesmo tempo.
“Os números apontam que em 2023, um ano e meio após a pandemia, a rede municipal continha 1.900 crianças como público do Atendimento Educacional Especializado, que são crianças com deficiências e transtornos. Hoje, em 2025, temos 2850 crianças matriculadas, sendo mais de 2.100 com autismo. A rede de ensino não consegue atender esse público com suas especificidades, e não é somente na Sala de Recurso, o que era para ser um atendimento individualizado, agora é coletivo”.
Padilha ainda sugeriu políticas públicas inclusivas aos profissionais da educação e que sejam voltadas a todos os públicos presentes no ambiente escolar.
“Eu deixo uma sugestão a esta casa, a urgência na construção de uma política de educação escolar inclusiva e intercultural municipal, porque também há imigrantes com deficiência, neuroatípicos e com superdotação. E por fim, que essa política seja discutida com os profissionais que fazem esse processo e não simplesmente que comprem pacotes externos que nem sequer sabem ou ouvir falar o que é o ensino municipal de Boa Vista”.
Fundeb
O orçamento de Boa Vista em 2025 é o maior da história, e o maior montante foi destinado a educação, com R$ 676,3 milhões, lembrou o vereador no início da audiência. Para o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) foi destinado R$ 460 milhões.
Sobre esse tema, a Professora Antônia Pedrosa, disse que “O Fundeb é uma conquista dos trabalhadores do Brasil observando as disparidades, mas elas persistem. Como a gente justifica essa política de valorização com um salário achatado? Se utiliza do recurso do Fundeb para muitas coisas, menos para valorizar esse profissional. A Câmara também pode prever no seu orçamento um valor a mais para que esses profissionais tenham valorização de acordo com inflação”, apontou.
Ainda em março deste ano, o Vereador Ítalo Otávio recorreu ao Ministério Público Estadual para que a Prefeitura responda ofícios enviados no longo dos meses sobre os contratos firmados entre o Poder Executivo Municipal por meio da Secretaria Municipal de Educação e o Governo Federal por meio do Fundeb.
Assédio Moral
A Professora Regys Carvalho, falou sobre assédio moral e apresentou pesquisa feita com servidores sobre o tema, onde constatou que a maioria desses crimes acontecem no ambiente escolar e até pela internet.
“Nos últimos meses realizamos um levantamento informal entre os servidores e notamos que o assédio moral está presente na sala de aula, nos corredores, nos grupos de whatsapp, e a maioria são professores e cuidadores que trabalham há mais de dez anos no município. Posso falar por causa própria. A gente quer valorização e medidas para mitigar assédios que acontecem nas escolas”.