Setenta e oito professores indígenas das etnias macuxi e wapichana do Município de Normandia participam, nesta sexta-feira, 13, às 19h, no Lago do Caracaranã, da Solenidade de Formatura do Curso Técnico em Magistério Indígena na Modalidade Subsequente. A oferta é resultado de parceria entre o Campus Avançado Bonfim do Instituto Federal de Roraima (IFRR) e a Prefeitura de Normandia.
Ofertado em formato inédito dentro da Rede Federal de Educação Científica e Tecnológica, o curso, que se iniciou com 86 estudantes, está formando 78 professores, ou seja, mais de 90% dos participantes. A carga horária foi de 1.150 horas, com aulas presenciais e a distância. Ele atendeu a uma demanda específica da Prefeitura Municipal de Normandia para a formação de professores indígenas que estavam em sala de aula e que não possuíam formação docente.
Fruto de extenso caminho percorrido, incluindo diálogos com movimentos indígenas, reuniões com líderes e gestores do município, o curso objetivou formar, preparar e instrumentalizar professores indígenas que lecionam na educação infantil e no ensino fundamental, do 1º ao 5º ano, para melhorarem sua prática.
A formação deve refletir diretamente na qualidade do ensino no município e nas comunidades indígenas de Normandia. Para a execução, o projeto contou com o apoio de professores do IFRR e de professores convidados da rede municipal de Normandia, da rede estadual, da Universidade Estadual de Roraima e da Universidade Federal de Roraima.
Para a diretora do Campus Avançado Bonfim, Maria Eliana Lima dos Santos, a execução do curso Técnico em Magistério Indígena Subsequente foi classificada como um sucesso, haja vista o alto índice de professores que cruzaram a reta final, mais de 90% deles. A formação durou cerca de um ano e meio.
“Estamos entregando à sociedade professores preparados para o exercício profissional na educação infantil e nas séries iniciais do ensino médio. Temos a certeza de que estamos contribuindo efetivamente para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem dos estudantes atendidos pela rede municipal de ensino do Município de Normandia e para a melhoria efetiva da qualidade da educação básica”, avaliou Eliana, acrescentando que o CAB estuda a possibilidade de ofertar uma nova turma. “Entendemos a sua relevância [oferta] para o desenvolvimento e o fortalecimento da educação escolar indígena”, completou.
Entre os formandos está Eudes Napoleão Raposo, 47 anos, que representa uma das muitas histórias de superação que marcam essa jornada. Morador da Comunidade Indígena Raposa I, em Normandia, ele é professor na Escola Municipal Vovô Gustavo Paulino, localizada na Comunidade do Parnasio, distante uns três quilômetros, aproximadamente, da comunidade onde reside. Raposo enfrentou grandes desafios, incluindo uma internação hospitalar de duas semanas, para chegar a este momento.
“O curso impactou minha vida. Primeiro, pela oportunidade de estar cursando-o. Segundo, pelo impacto positivo sobre a minha formação. Abriu novas ideias. Teve um momento em que realmente procurei buscar mais conhecimento para ter mais capacidade de trabalhar, de ter novas ideias. Então, foi esse impacto que o curso me proporcionou […] Na realidade, não foi fácil, mas, com fé em Deus, acreditei, acreditei em mim mesmo”, disse, lembrando que chegou a pensar em desistir, visto que, no penúltimo módulo, ficou internado duas semanas, que justamente pegou um período de aulas do curso.
“Eu achei que não daria mais para mim, porque já tinha perdido um módulo, que durou uma semana. Naquele momento, eu me desanimei. Tanto é que falei para a professora Crécia. Aí ela me deu todo o apoio, me encorajou […] e eu consegui. Hoje me orgulho de ter chegado aonde cheguei. Foi apenas mais um passo na minha vida profissional, na minha vida pessoal. Sou muito grato ao IFRR também pela oportunidade que me deu e, assim, espero continuar e enfrentar novos desafios, e vencer, com certeza”, comentou.