O auxílio psicológico, social e jurídico para vítimas de violência doméstica e familiar é a principal função do Centro Humanitário de Apoio à Mulher (Chame). O programa permanente é vinculado à Secretaria Especial da Mulher, da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), e tem contribuído para o resgate da autoestima e o empoderamento feminino.
Esse é o caso de Carla (nome fictício), que procurou atendimento no Chame em janeiro deste ano. Durante o casamento que durou 16 anos, ela relatou que percebeu muito tarde que estava em um relacionamento abusivo.
“Vi uma matéria da TV Assembleia em que um psicólogo falava das diferenças entre um relacionamento saudável e abusivo. Aquilo chamou minha atenção e decidi pesquisar mais sobre o assunto na internet. Foi então que percebi que eu realmente estava em uma relação tóxica”, afirmou.
De acordo com Carla, as agressões verbais eram constantes, mas também ocorria a violência patrimonial, em que ela pagava sozinha o aluguel da família e as faturas de cartão de crédito, tanto do marido quanto da mãe dele. Esse cenário foi piorando ao ponto de ocorrer a violência física.
“Eu era vigiada vinte e quatro horas por dia, até a minha comida era controlada. Com o tempo, começaram os xingamentos mais pesados: dizia que eu era feia, burra, idiota, que estava velha e acabada, enquanto ele permanecia jovem. A última agressão que sofri, que foi a física, aconteceu quando ele tentou me expulsar de casa às duas horas da manhã”, declarou emocionada.
Diante da situação insustentável, Carla buscou o Chame, programa que ela descobriu ao ver uma propaganda institucional da Assembleia Legislativa veiculada nos meios de comunicação do Estado. “Em 23 de janeiro, procurei ajuda pelo ZapChame, fui acolhida pelas servidoras e então comecei a fazer parte do grupo terapêutico”.
Dado esse passo, Carla considera que o programa da ALE-RR proporcionou a virada de chave para deixar o relacionamento tóxico para trás.
“O Chame proporcionou muitas melhorias na minha vida, porque a gente chega aqui com a autoestima lá embaixo, sem nenhuma expectativa. Foi mostrado que nós, mulheres, precisamos ser fortes e sair de relacionamentos abusivos imediatamente. No primeiro sinal de abuso, devemos procurar ajuda”, contou, agora confiante.
Serviços do Chame
Quando a vítima chega à sede da Secretaria Especial da Mulher, ela vai para uma sala de escuta, onde estão psicóloga, assistente social e advogada do Chame. Essa ação possibilita um atendimento humanizado, multiprofissional e evita a revitimização, pois a história de violência é contada uma única vez.
A advogada do Chame, Rayssa Veras, comentou quais demandas são mais percebidas durante esse atendimento, com o intuito de balizar a melhor orientação para a assistida.
“Nosso papel de orientação abrange tanto questões cíveis quanto criminais. No âmbito cível, ajudamos com informações sobre a dissolução da união estável, partilha de bens, guarda das crianças e pensão alimentícia, especialmente para mulheres financeiramente dependentes do marido. Na esfera criminal, orientamos a vítima a representar contra o agressor por violência psicológica, moral, patrimonial e, principalmente, física”, frisou Rayssa.
No campo emocional, a psicóloga Mayla Garcia informou que as assistidas passam por um processo de entendimento sobre o relacionamento tóxico vivido.
“É muito perigoso quando vemos uma mulher passando por essa situação, pois as consequências podem durar anos para serem superadas. Quanto mais cedo ela perceber os sinais de um relacionamento abusivo, melhor para a recuperação e superação”, disse a profissional.
O Chame está disponível à população na sede da Secretaria Especial da Mulher, localizada na Avenida Santos Dumont, 1.470, bairro Aparecida. Já as moradoras de Rorainópolis e adjacências, podem buscar apoio no novo prédio do programa especial da ALE-RR, na Avenida Dra. Yandara, nº 3.058, no Centro. Os atendimentos presenciais ocorrem de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.
Além disso, há o ZapChame, pelo número (95) 98402-0502, que funciona 24 horas, inclusive nos fins de semana e feriados.
Dia dos Namorados
Com a proximidade do Dia dos Namorados, celebrado em 12 de junho, o Chame apresenta algumas informações para reflexão sobre o tema. A psicóloga do programa da ALE-RR relatou que é necessário estar atento aos sinais de violência, pois eles podem aparecer desde o começo do relacionamento.
“As mulheres demoram para perceber que estão em um relacionamento abusivo, mas sinais de abuso aparecem desde o início. O ciúme obsessivo, por exemplo, é muitas vezes confundido com amor. Na verdade, é um sentimento de posse e controle. Em relacionamentos abusivos, não existe parceria, apenas autoridade do parceiro. Isso pode levar a agressões físicas e consequências emocionais graves, como ansiedade, depressão e síndrome do pânico”, relatou Mayla.
Pela parte jurídica, Rayssa informou que a Lei Maria da Penha (Lei nº11.340/2006) abrange o início de relacionamentos, a exemplo do namoro.
“A Lei Maria da Penha inclui tanto os relacionamentos afetivos, como o namoro, quanto os de parentesco. Sendo assim, se houver violência do namorado contra a mulher, isso configura um crime e ela estará protegida pela referida lei”, informou a advogada