A apresentação ou disponibilização de processos aos seus clientes, usuários ou públicos-alvo segue procedimentos parecidos com os que precisam ser feitos em relação aos produtos. O importante é considerar a natureza da relação que norteou a geração do processo. Se a relação é dos pesquisadores com uma organização em particular, atendendo a pedido de exclusividade, tal como se faz com as atividades de projeto, o processo é único e, portanto, foi norteado a partir de sustentações jurídicas e técnicas previamente aprovadas. Neste caso, a apresentação do processo é a entrega formal e material de um serviço. Se o processo foi gerado com o fim de ser utilizado economicamente pelos pesquisadores e suas instituições, o procedimento será outro, que se inicia com a providência do registro de propriedade. Finalmente, se o processo descoberto tiver como finalidade o suprimento de necessidades de públicos-alvo maiores, de grandes mercados, a apresentação deve ser feita com um conjunto de atividades maior, mais complexo. Vejamos isso mais de perto.
Apresentar um processo é colocá-lo ao alcance de seu consumidor ou demandante. Há processos que são feitos por encomenda, demandados por um ou pequeno grupo de demandantes. Neste caso, as atividades de apresentação e transferência da tecnologia é realizada, muitas vezes, incrementalmente, conforme previsto no cronograma de entregas que normalmente faz parte do projeto de geração tecnológica e o respectivo contrato de prestação desse tipo de serviço firmado e assinado entre os cientistas e seus clientes/usuários. Há processos que são entregues à medida que as etapas são validadas, mas há aqueles que só podem ser transferidos quando a tecnologia estiver completada.
Um exemplo é o processo de retirada de impurezas da água utilizada na produção do produto Alfa, composta de seis tipos distintos de sujidades. O processo criado foi composto de três entregas: o primeiro consistia na retirada das impurezas sólidas, o segundo das impurezas de cores e o terceiro de impurezas odoríficas. Acompanhando a entrega estava previsto o treinamento e capacitação dos funcionários da fábrica para o novo procedimento. Finalizava a apresentação do processo a supervisão da aplicação durante um ano, com relatórios mensais de análise.
Outra forma de apresentação de processo diz respeito àqueles casos e situações em que o próprio grupo de cientistas e suas instituições se colocam o desafio de criar o processo para depois negociar o seu uso com determinadas organizações ou instituições específicas. Um exemplo foi a criação de um procedimento de extração mais rápida e eficiente de um princípio ativo de uma espécie vegetal que servia para reduzir ou eliminar os odores do suor no corpo humano. Era um procedimento concorrente com outros existentes, cujo desafios distintivos eram justamente o menor tempo de extração e a redução das etapas em relação aos processos dos concorrentes. Foram prospectadas algumas indústrias do setor de cosméticos, que demonstraram oficialmente interesse no processo, caso ele se materializasse.
A equipe de cientistas conseguiu a construção de um processo extremamente eficiente e rápido. A apresentação da tecnologia gerada consistiu na submissão de análise pelas equipes de cientistas e técnicos de produção das indústrias, para que pudessem aferir sua validade e a consistência. Em seguida, com a confirmação dos benefícios que o novo processo trazia, foram feitos os procedimentos legais, contratuais e comerciais. A apresentação continuou com a capacitação e treinamento de todo o corpo produtivo das fábricas nos procedimentos do processo. Também foi necessária a substituição de grande parte das máquinas e equipamentos para suportar os novos procedimentos, assim como o monitoramento dos cientistas inventores por um tempo de seis meses, para efeitos de novos ajustes e reajustes, caso algum resultado indesejado ou imprevisto viesse a acontecer. Como os resultados foram bastante satisfatórios, houve a continuidade da relação do grupo de cientistas e suas instituições com as fábricas no sentido de melhoramento contínua do processo.
Uma terceira forma de apresentação de processos é aquela em que o público-alvo é muito numeroso. São os casos, por exemplo, de novas maneiras de se ensinar alguma coisa ou novas modalidades de se tomar decisões. Essas situações requerem apresentações do tipo multiplicador, em que pessoas que aprenderam o novo processo passam a ser multiplicadores da tecnologia. É possível, também, que se utilizem meios tecnológicos, como os cursos do tipo MOOC (Massive Opened Online Course) ou até mesmo canais de mídias, como o Youtube.
Se a intenção for a apresentação gratuita, o caminho será distinto, naturalmente, daquela cuja intenção for monetizar o uso da tecnologia. Em ambos os casos, contudo, é necessário que haja pelo menos um a) procedimento formal e legal de transferência, com tempo de uso e as responsabilizações dos criadores e usuários bem definidas, se há ou não compensação financeira, b) um esquema logístico de entrega, atualização e pagamento, quando for o caso, e c) instruções de como utilizar o processo.
O que queremos mostrar aqui, novamente, é que apresentar uma tecnologia não é sinônimo de publicidade. A publicidade é apenas um aspecto de uma (o marketing mix) das várias partes que constituem o estágio de apresentação. Outras partes fundamentais são o registro do processo, os procedimentos formais de transferência (como os contratos), as operações logísticas necessárias (como os meios tecnológicos de entrega dos processos), as previsões econômico-financeiras e os relacionamentos pós-vendas, dentre outras específicas, de acordo com o processo.
(*) Daniel Nascimento-e-Silva, PhD, professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)