Vimos um processo global de prototipagem. Agora vamos conhecer um sequenciamento lógico específico para produtos, tanto nas suas versões físicas quanto extrafísicas ou digitais. Vale dizer, contudo, que o que se chama de extrafísico ou virtual nada mais é do que uma outra dimensão física, de maneira que, como consequência, tudo é físico. O que muda são as naturezas dessas fisicalidades. Uma segunda coisa que se deve ter em conta é que a ciência tradicional usa e toma como referência em seus procedimentos o que é chamado de nomenclaturas. Por exemplo, quando se diz que há um processo global de prototipagem deve-se entender, de maneira implícita, como regra da ciência, que há pelo menos dois processos particulares. A razão disso é que o processo global é a encobertura ou somatória dos procedimentos particulares. Em termos lógicos, portanto, as etapas dos processos específicos, particulares, estão contidas e muitas vezes sintetizadas no processo global. Muitas vezes as terminações são muito parecidas porque são resultantes das práticas de integração e derivação, que já foram explicados e aplicados. As nomenclaturas seguem também uma espécie de classificações dos fenômenos, conceitos, constructos, dimensões e categorias analíticas, muito conhecidas também como taxonomias. Isto posto, vejamos agora o processo de prototipagem de produtos.
Há pelo menos uma etapa neste desafio de prototipagem antes de se começar a construir o protótipo, configurando aquilo que chamamos de pré-prototipagem. Se o produto a ser criado tiver como destino o que a ciência econômica chama de mercado, haverá várias etapas prévias ao processo de prototipagem. Mas todas elas têm o desafio de entregar para as equipes de prototipagem todas as características e parâmetros que o produto precisa incorporar ou apresentar. Essas características configuram os valores a serem agregados ao artefato físico e que precisam ser entregues aos clientes, em conformidade com o que é desejado, para que suas necessidades sejam supridas. É importante saber que é o cliente que determina esses atributos, não o consumidor, que é aquele que vai usar o produto. Naturalmente que quase sempre há diálogos entre o consumidor e o cliente acerca dos valores desejados, mas a palavra final é sempre do cliente porque é eles a contraparte das entregas. Por exemplo, produtos como brinquedos infantis são utilizados por crianças, que são os consumidores, mas quem toma a decisão sobre o que vai ser demandado é sempre um adulto ou responsável. O mesmo acontece em empresas e governos e todo tipo de organização.
As demais etapas são executadas pela equipe de engenharia de produto. O primeiro desafio ou etapa é a confecção de esboços. Como já explicado, esboço é um protótipo completo, primeiro em sua dimensão panorâmica, chamada de conceito do produto, geralmente feito em forma de desenho. Fazem-se vários esboços conceituais e depois escolhem-se os mais satisfatórios para o aprofundamento, que é a colocação das partes, subpartes, componentes e subcomponentes, chamado de esboço executivo porque já se pode visualizar a execução (produção) dos valores a serem entregues aos clientes. O método científico-tecnológico começa com a revisão da literatura tanto para a confecção do projeto conceitual quanto o executivo a partir de questões de pesquisas específicas, como as conceituais, estruturais, processuais, relacionais, funcionais e ambientais.
A segunda etapa de prototipagem é de decisão. Equipes, gestores, parceiros e clientes fazem parte dessa etapa, para que seja escolhido o esboço que mais se aproxima daquilo que os clientes desejam e necessitam. Aqui são levados em consideração a capacidade de produção da organização, os efeitos econômico-financeiros, a fundamentação e atinência legal, os processos logísticos a serem praticados e o marketing mix que manterão e sustentarão a continuidade do suprimento, especialmente a forma de transferência de tecnologia e a temporalidade das atualizações.
A terceira etapa do processo de prototipagem é a materialização do esboço escolhido. Essa etapa nada mais é do que a obediência às diretrizes que levaram à escolha do protótipo que vai ser submetido aos testes e ajustes. Naturalmente que muitas vezes, frequentemente, há aspectos não operacionais dos projetos conceituais e executivos que precisam ser revistos. Existe, portanto, um esquema relacional da materialização do protótipo com a etapa anterior, de decisão, que precisa ser meticulosamente verificada e acompanhada. Não é incomum que essa falta de acompanhamento leve ao malogro do projeto.
A quarta etapa da prototipagem é a realização dos testes. Os testes podem ser divididos entre os relativos aos parâmetros e características da demanda e os relativos ao futuro produto em si. Se o produto tem como parâmetro institucional ser barato em relação aos concorrentes, o custo dos seus componentes precisam ser testados; se tem como parâmetro de demanda gerar resultados mais rápido que o produto líder de mercado, essa rapidez precisa ser testada. Note-se que a cada vez que o protótipo passa em um teste, esse aspecto é considerado pronto, adequado; se é reprovado, novos ajustes precisam ser feitos, configurando a quinta etapa. Ajustes e reajustes precisam ser constantes, até que o protótipo seja aprovado em tudo. Aí ele passa a ser um produto.
A última etapa é ambiental, feita fora da instituição ou organização produtora da tecnologia. Essa etapa tem como desafio colocar o produto à disposição do público-alvo, os clientes, naquilo que é chamado de marketing mix (preço, produto, praça e promoção), o que envolve os processos logísticos. Também devem ser consideradas as naturezas sanitárias, legais, alfandegárias, fiscais, dentre inúmeras outras, dependendo do tipo de produto, onde estão seus clientes e as matérias-primas utilizadas. Acompanham cada etapa os registros e documentações, fundamentais tanto para a patenteação do produto quanto para a prática das suas melhorias contínuas necessárias.
(*) Daniel Nascimento-e-Silva, PhD, Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)