As inovações nem sempre são revolucionárias ou totais. Até mesmo o aparecimento do computador pessoal, considerado por muitos como uma inovação revolucionária, também pode ser vista de forma incremental. Naturalmente que os incrementos, neste caso, foram poucos e de larga escala, no sentido da composição do estágio atual dessa tecnologia. Em termos incrementais, o computador pessoal foi apenas uma melhoria processada nos gigantescos computadores institucionais e organizacionais outrora existentes, facilitada pela evolução de seus componentes. A inovação em muitos desses componentes é que foi revolucionária, enquanto em outros foi incremental. Por que estamos falando tanto em revoluções e incrementações nas inovações? Para que não se perca de vista que a maioria das inovações praticadas e materializadas todos os dias são de natureza incremental. Elas vão se processando dia a dia, semana a semana, até que cumpram com a sua finalidade e que tem caracterizado a mentalidade das organizações contemporâneas: a melhoria contínua. A melhoria tem alcançado todos os tipos de inovações, tanto as tecnológicas e quanto as não tecnológicas. Como elas são planejadas, passam também pelo crivo dos processos de prototipagem.
Pensemos um pouco. Quais são os fundamentos, as razões que levam uma organização ou instituição a querer melhorar uma determinada tecnologia, seja um produto ou um processo? Naturalmente, que se veem pelo menos duas possibilidades aqui. A primeira (e mais óbvia) é que ainda há algum descontentamento com a tecnologia que se quer melhorar; a segunda é menos óbvia, mas diz, sinteticamente, que é para “ganhar em competitividade”, “gerar desempenho superior” ou simplesmente “melhorar seu posicionamento”. Traduzindo, a primeira razão é fazer com que a tecnologia melhore algum aspecto especificamente centrado nas entradas, processo de transformação ou o próprio produto ou serviço. Pode acontecer, por exemplo, de o custo de produção da tecnologia ser elevado e que a substituição de alguns recursos, ao mesmo tempo em que reduz a composição do custo final, também eleva o desempenho da tecnologia. Isso justifica o planejamento do processo de prototipagem. A tradução da segunda razão pode acontecer de diversas formas também, como ganhar uma fatia do mercado de uma tecnologia concorrente, seja elevando o desempenho ou provocando pequenos saltos revolucionários na tecnologia atual. De qualquer forma, ambas as possibilidades são focadas nos recursos, processo de transformação e desempenho do produto.
Dessa forma, a primeira etapa do processo de prototipagem de melhorias em tecnologias é a identificação das causas que forçaram a decisão da melhoria. Se o desempenho não é satisfatório, o mapa das causas da insatisfação será o roteiro do processo de prototipagem; se o desempenho satisfatório precisa ser melhorado ainda mais, os focos da melhoria também levarão à composição de um mapa que conduzirá os trabalhos. Naturalmente que esses focos, por sua vez, precisam ser aprovados nos testes de consistências. Por exemplo, se um dos focos for redução do custo de produção da tecnologia, um dos testes de consistência é a existência e garantia de suprimento dos materiais e componentes durante o tempo previsto de produção da tecnologia, de seu ciclo de vida. Os insumos de preços menores também precisam ser interessantes para os fornecedores durante aquele tempo previsto de produção.
A segunda etapa é a construção da estrutura analítica do produto com as melhorias propostas. Novamente entram em cena a estrutura conceitual e a executiva, com os motivos já apontados anteriormente. Seguem-se os testes matemáticos e virtuais da melhoria para que seja escolhida aquela que se mostrar mais promissora em relação à superação das causas da insatisfação ou aquisição do desempenho superior. A etapa seguinte é a prototipagem real, física, material da estrutura de melhoria selecionada, tanto para os ajustes internos quanto para que a etapa de testes/retestes seja iniciada.
Na etapa de testes/retestes prevista pelo método científico-tecnológico, os alvos são, naturalmente, as melhorias planejadas. Cada uma delas é testada individualmente e de forma relacional, quando o desempenho de uma depende do desempenho da outra. Muitas vezes esses testes são feitos separadamente, como um componente. Depois as melhorias executadas precisam ser testadas em conjunto, para que seja aferido se os resultados desejados na tecnologia estão em consonância com aquilo que é pretendido. Quando houver dissonância ou inconformidade, os protótipos precisam ser alterados.
As etapas de ajustes/reajustes são subsequentes e até mesmo concomitantes às etapas de testes/retestes. O que se deve observar é que os ajustes/reajustes têm como alvos os resultados indesejados dos testes. Procede-se, então, às alterações nas peças e componentes daquilo que não teve o desempenho satisfatório, deixando-se de lado todas as demais peças e componentes que foram aprovados. Quando houver relações, naturalmente que as peças e componentes relacionadas precisam ser ajustadas e reajustadas com conjunto. Essa dualidade testes/retestes e ajustes/reajustes continua até que o protótipo seja considerado aprovado nas melhorias pretendidas e considerado um produto novo ou produto melhorado. Daí procede-se à última etapa, que é a transferência da tecnologia para os usuários ou clientes e todos os processos burocráticos, técnicos e gerenciais para tal.
A busca pela melhoria tem se transformado em um componente quase que comum a todas as organizações e instituições contemporâneas. Parece uma febre ou contágio o esforço constante de se melhorar cada vez mais o que já se faz muito bem e fazer bem aquilo que ainda não causa satisfação. Antes a melhoria contínua era mais uma estratégia de competitividade. Hoje, ao que tudo indica, parece fazer parte da cultura e da mentalidade não apenas de organizações, instituições e governos, mas até mesmo das famílias e seus componentes. É uma busca incessante pela perfeição de seres imperfeitos, que são os humanos.