Jovens, Empresas e Educação: Competências Socioemocionais como Diferencial no Mercado Emergente
De acordo com o Fórum Econômico Mundial, até 2030, o mercado de trabalho será profundamente transformado por três grandes vetores: os avanços tecnológicos — como inteligência artificial, automação, big data e energia verde —, as condições econômicas — como o aumento do custo de vida e a desaceleração global — e as mudanças climáticas. Essas tendências criarão milhões de novas ocupações, mas também extinguirão outras tantas, exigindo dos profissionais uma requalificação constante.
Embora as habilidades técnicas e tecnológicas estejam no centro dessa transformação, empregadores já apontam que o diferencial estará nas competências socioemocionais como: pensamento crítico, autogestão, engajamento com os outros, amabilidade, resiliência emocional, abertura ao novo, entre outros.
Vivemos em um mundo que já não é apenas VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), mas também BANI (frágil, ansioso, não linear e incompreensível). Nesse cenário, precisamos de profissionais capazes de lidar com instabilidade, tomar decisões sob pressão e manter clareza em meio ao caos.
Determinantes sociais e contexto local
Para jovens de Roraima, desenvolver competências socioemocionais não é apenas uma questão de escolha pessoal ou oportunidade: fatores sociais e econômicos estruturais influenciam diretamente seu protagonismo. A falta de acesso a serviços de qualidade, limitações na infraestrutura escolar, desigualdade econômica, vulnerabilidade familiar e restrições de mobilidade ou conectividade são barreiras reais que impactam aprendizado, autoconfiança e acesso ao mercado de trabalho. Reconhecer essas determinantes sociais é fundamental para criar estratégias efetivas de formação e engajamento.
O papel do jovem: protagonismo pessoal
Nenhuma empresa, escola ou programa de capacitação pode substituir a atitude do próprio jovem diante do seu futuro. Competências socioemocionais se constroem no dia a dia, de forma intencional. Ser protagonista significa transformar iniciativa, resiliência e capacidade de aprender em resultados.
Na prática, isso se traduz em atitudes como:
• Experimentar novas atividades e projetos na escola ou comunidade (abertura ao novo).
• Enfrentar desafios e aprender com erros (resiliência).
• Observar problemas e buscar soluções estruturadas (pensamento analítico).
• Propor ideias e soluções criativas no cotidiano (criatividade).
• Adaptar-se a mudanças e reorganizar prioridades (flexibilidade e agilidade).
• Colaborar em grupo e compartilhar conhecimentos (atitude colaborativa).
• Assumir responsabilidades e coordenar atividades (liderança e influência social).
Quando o jovem age assim, deixa de ser apenas alguém “em busca de oportunidade” e passa a ser reconhecido como um ativo valioso — seja em uma empresa ou no próprio negócio. Como uma ex-chefe certa vez me disse: “quando a gente não tem oportunidades, a gente cria”. Essa frase se tornou mantra na minha vida e resume o que os jovens de Roraima precisam cultivar: iniciativa para transformar limitações em caminhos.
O papel das empresas: ambientes de aprendizagem e prática
Empresas não podem esperar que os jovens cheguem prontos. Para desenvolver competências socioemocionais, é fundamental criar ambientes de aprendizagem e prática, oferecendo programas de estágio, capacitação interna e incentivo ao intraempreendedorismo.
Na prática, as empresas podem atuar em cinco frentes:
1. Identificar pontos fortes: reconhecer habilidades individuais e engajar os jovens em atividades que tragam satisfação.
2. Aumentar o envolvimento: promover tarefas que gerem fluxo e imersão, motivando o jovem a se concentrar e aprender.
3. Cultivar relacionamentos positivos: investir em conexões significativas entre colaboradores, fortalecendo colaboração e comunicação.
4. Encontrar propósito: ajudar os jovens a refletirem sobre o que dá sentido à vida e alinhar atividades a esse propósito.
5. Estabelecer e alcançar metas: orientar na definição de objetivos realistas e acompanhar a execução, permitindo que o jovem perceba seu progresso.
Quando a empresa cria essas oportunidades, fortalece competências socioemocionais nos jovens e conquista colaboradores engajados, criativos e capazes de contribuir efetivamente para o negócio. Mais do que formação de mão de obra, isso é responsabilidade social. Além disso, ao cultivar uma cultura de aprendizado contínuo, a empresa se mantém adaptável, inovadora e preparada para os desafios do mercado em constante transformação.
Na educação, habilidades técnicas e humanas andam juntas
Minha experiência em qualificação profissional mostrou que o ensino focado apenas em conteúdos técnicos não prepara os jovens para o mercado de trabalho ou empreendedorismo. Durante a pandemia, muitos se matriculavam apenas para ocupar o tempo, enquanto outros buscavam dominar ferramentas técnicas — softwares, rotinas administrativas, protocolos — sem perceber que obstáculos socioemocionais e sociais também precisavam ser superados.
Dificuldades como insegurança, falta de autoconfiança, resistência ao trabalho em equipe, pouca percepção sobre emoções e barreiras socioeconômicas eram comuns. Integrar metodologias ativas com experiências de vida mostrou-se transformador: dinâmicas participativas, webgincanas e diários de bordo estimularam habilidades como autoconhecimento, escuta ativa, empatia, comunicação, criatividade, resiliência e liderança, mesmo diante das adversidades do contexto local.Como defende Amyr Klink, o aprendizado verdadeiro surge da experiência vivida. Quando competências técnicas e socioemocionais são igualmente valorizadas, e fatores contextuais são considerados, os jovens desenvolvem autonomia e protagonismo, preparados para enfrentar os desafios do mercado e do empreendedorismo.
Quem ensina e quem lidera também precisa reaprender
Não são apenas os jovens que precisam se transformar. Professores, mentores e líderes empresariais que insistem em velhas práticas tornam-se irrelevantes. Ensinar e liderar hoje exige desaprender para reaprender.
No campo educacional, é abandonar métodos que sufocam e abrir espaço para abordagens que desenvolvam autonomia, pensamento crítico e consciência sobre o contexto social dos alunos. No empresarial, é desapegar de estruturas engessadas e criar ambientes que realmente apoiem o desenvolvimento do colaborador, considerando suas realidades e desafios.
Conclusão: corresponsabilidade e vantagem competitiva
O desenvolvimento das competências socioemocionais não é apenas um discurso inspirador — é uma estratégia de sobrevivência econômica. Quando negligenciadas, talentos ficam subutilizados e oportunidades se perdem. Por outro lado, quando jovens assumem protagonismo, empresas criam ambientes de aprendizagem e o sistema educacional oferece formação integral, apoiada por políticas públicas eficazes e sensíveis às determinantes sociais, formamos uma geração que age com sentido, propósito e satisfação, capaz de gerar valor dentro das organizações.
Em termos práticos:
• Engajamento: mergulhar de corpo e mente em tarefas que façam sentido.
• Relacionamentos: construir redes de confiança que sustentem nos momentos de instabilidade.
• Sentido: encontrar propósito que motive a persistência.
• Realização: sentir a conquista ao superar desafios que pareciam impossíveis.
Metodologias ativas mostram que dominar apenas a técnica é frágil; desenvolver somente o socioemocional, sem técnica e sem consciência do contexto social, é insuficiente. A verdadeira vantagem competitiva está na capacidade de lidar consigo mesmo, com os outros e com os sistemas que nos cercam — transformando emoção em ação e propósito em resultados.
A pergunta que fica é: estamos nos preparando intencionalmente para enfrentar as demandas do mercado emergente?
Reflexão para o leitor
“Olhe ao seu redor: quais barreiras você pode transformar em oportunidades e que atitudes você pode começar hoje para continuar sendo relevante para o mercado? ’’


