A Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) celebrou o Dia Internacional da Mulher com uma sessão especial em homenagem às mulheres roraimenses. O evento, realizado no Plenário Deputada Noêmia Bastos Amazonas nesta sexta-feira, 8, reuniu autoridades, representantes da sociedade civil e mulheres de diversas áreas para celebrar as conquistas femininas e discutir os desafios ainda a serem superados.
“É uma satisfação, como presidente, junto com as servidoras, fazer com que a voz da mulher seja ecoada nesta Casa Legislativa. Nosso convite é para que a mulher participe da política. Não tem por que ter medo, não existe mais essa rigidez de papel, então vamos tomar essa iniciativa. Geralmente, o homem conquista com o uso da força, das armas, e isso não tem funcionado. Vocês têm outro jeito de participar. Queremos um mundo melhor e tenho certeza de que a mulher pode contribuir ativamente”, convocou o chefe do Poder Legislativo, Soldado Sampaio (Republicanos), na abertura da sessão.
Na condução da solenidade, Joilma Teodora (Podemos), secretária Especial da Mulher da ALE-RR, idealizadora da sessão, destacou que o momento de celebração das conquistas femininas alusivos ao Dia da Mulher devem também ensejar reflexões sobre os desafios que ainda precisam ser superados.
“Quero fazer uma reflexão do que é ser mulher. Não é uma missão fácil. Toda a sociedade cria padrões do que é ser mulher, mas esses padrões estão sendo quebrados. Mas mesmo com esses esforços, sabemos que ainda há muitos desafios a serem superados. No Brasil, três a cada dez mulheres sofrem violência doméstica e quatro mulheres são vítimas de feminicídio a cada dia. Por isso, trago este apelo para que todos os Poderes unidos possam mudar a história do Estado. Precisamos de mapeamento e amplitude de ações para combater essa realidade cruel, e de mais mulheres em todos os espaços de poder, para que possamos construir uma sociedade mais justa e igualitária”, ressaltou.
Em um depoimento comovente sobre o ciclo de violência doméstica que vivenciou durante seis anos num relacionamento abusivo, a empresária Sumayka Noronha, a primeira mulher cujo agressor foi condenado pela Lei Maria da Penha no Estado, pediu que as mulheres não se calem diante das agressões.
“Quem estiver aqui hoje e passa por esse problema, denuncie. Porque temos o Chame [Centro Humanitário de Apoio à Mulher], temos vários instrumentos no Estado para proteção. Não se permita passar por isso. Ontem fui eu, hoje pode ser você. Então, essa é a minha última mensagem: denuncie”, exortou.
A secretária de Representação de Roraima em Brasília (Serbras), Gerlane Baccarin, pediu que as mulheres se unissem, independentemente das diferenças ideológicas, para que os desafios estruturais de hoje não comprometam as futuras gerações.
“Se não iniciarmos com urgência esse processo de trabalho de inserção da mulher, daqui a 30, 40 anos, nossas filhas, nossas netas ainda estarão lutando pelas mesmas coisas que lutamos hoje. Precisamos lutar pela paridade de gênero. Então, independentemente da bandeira partidária, juntas temos o mesmo propósito”, destacou.
O juiz titular do 2ª Juizado Especializado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Jaime Plá Pujades de Ávila, convocou os homens a se comprometerem com a luta de igualdade de direitos.
A parlamentar Angela Águida Portella (Progressistas) lembrou do esforço dobrado que as mulheres precisam fazer para se sentirem reconhecidas e do trabalho que precisa ser feito na educação para que o respeito à mulher seja introjetado desde a tenra idade.
“Somos cinco mulheres no Poder Legislativo e, às vezes, achamos que precisamos trabalhar dobrado pelas condições que a sociedade nos impõe. Também sabemos que a mulher tem o empoderamento, mas precisamos trabalhar desde a pré-escola para fortalecer a compreensão de que a sociedade não pode ‘coisificar’ a mulher”, frisou.
Na mesma direção, a deputada Tayla Peres (Republicanos) ressaltou os desafios e as cobranças que se vivenciam ao conciliar as várias funções. “Não é fácil ser mulher. Eu acredito que o homem não conseguiria fazer o que fazemos. Voltei a trabalhar com dois meses de pós-parto e fiquei me cobrando se estava abandonando meu filho, mesmo com rede de apoio. Mas precisamos trabalhar. Somos muito cobradas e temos que dar conta de tudo ao mesmo tempo”, desabafou.
Por sua vez, a parlamentar Catarina Guerra (União) destacou que, mesmo quando as mulheres conseguem ocupar posições de poder, ainda enfrentam as consequências do machismo estrutural.
“Hoje é um dia muito especial, mas sabemos que todos os dias são da mulher. Fazer o que fazemos como parlamentares, como a deputada Aurelina sempre diz: não baixar a cabeça. Mas, infelizmente, aqui somos discriminadas e, às vezes, desrespeitadas. Vivenciamos isso aqui, assim como todas as mulheres que estão aqui, independentemente da profissão”, disse.
Uma das mulheres homenageadas na sessão foi a parlamentar Aurelina Medeiros (Progressistas), que encerrou os discursos das autoridades. Com sete mandatos, ela é a decana do Poder Legislativo. Medeiros compartilhou sua trajetória política roraimense e os avanços paulatinos da mulher na vida pública.
“Ser política é muito difícil, mas é a única forma de mudar o mundo. Lembre-se: não faz nem 200 anos que a mulher pode frequentar a escola. Em 1932, conquistamos o direito de votar no Brasil. Em 1962, as mulheres deixaram de precisar de autorização do marido para trabalhar. Isso foi há muito pouco tempo. A primeira delegacia da mulher surgiu em 1985. Só em 1988 a Constituição Federal reconheceu a mulher com direitos iguais aos homens. E foi em 2021 que se criou a lei para coibir a violência política contra a mulher”, pontuou.
Para além dos desafios de gênero, a parlamentar defende uma atuação política feminina ampla e abrangente.
“Não tem espaço esperando mulher na política. Mulher não deve baixar a cabeça! O lugar da mulher é aonde ela quiser chegar. Ela é corajosa e competente, mas também é cheia de medo”, afirmou. “A função da mulher na política vai além da política de proteção às mulheres: é construir escola, pontes. Para isso, é preciso muita coragem”, complementou a deputada, que chegou a Roraima em 1978, grávida do segundo filho, para assumir o cargo de técnica de planejamento no então Território Federal.
Reconhecimentos
A programação da sessão especial contou com diversos reconhecimentos. A deputada Aurelina Medeiros foi homenageada com uma videobiografia, que retratou sua trajetória política e seu compromisso com a luta pelos direitos das mulheres, e recebeu uma placa pelos préstimos à política roraimense.
As servidoras mais antigas da ALE-RR também foram homenageadas por seus anos de dedicação ao Poder Legislativo: Ana Rita Alves Barreto; Lucineide Coutinho de Queiroz; Maria Eliane Gomes Leite; Jucilene A. Gomes dos Santos; Maria Cristina E. Xavier Coelho; Maria Aurilena de Lima Fagundes; Silvia Maria Macedo Coelho; Salete Soares da Silva; Maria Raimunda Alves Melo; Maria Jaime L. Menezes; e Gizelda Pinheiro de Barros.
Também estiveram presentes na solenidade: os parlamentares Coronel Chagas (PRTB), Isamar Júnior (Podemos), a primeira-dama do Poder Legislativo, Franci Araújo, representante do Ministério Público Estadual, Lucimara Campaner, representante da Defensoria Pública do Estado, defensora Terezinha Muniz, a titular da Setrabes (Secretaria do Trabalho e Bem Estar Social), Tânia Soares, a diretora da Polícia Integrada, delegada Giuliana Nicolino Castro Lima, a presidente da Liga Roraimense Contra o Câncer, Magnólia Rocha, representante indígena do povo Macuxi, Iterniza Pereira Andre, alunos das escolas estaduais Lobo D’Almada e Monteiro Lobato, entre outras autoridades e membros da sociedade civil.
A sessão contou com um momento cultural conduzido pelo grupo de dança Jazz Arte e foi transmitida ao vivo pela TV Assembleia (57.3), pela Rádio Assembleia (98,3FM) e pelas redes sociais do Poder Legislativo (@assembleiarr). As fotos do evento podem ser acessadas na página do Flickr.
Suellen Gurgel