As cores dos meses do ano foram instituídas para conscientizar a população sobre diversas doenças. Fevereiro, por exemplo, tem duas cores: roxo, que alerta para o lúpus, a fibromialgia e o mal de Alzheimer; e laranja, que chama atenção para a leucemia. Embora seja considerada uma doença rara, esse tipo de câncer é um dos mais comuns entre adultos. No Brasil, estima-se que até 2025 surjam mais de 11,5 mil novos casos, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
O transplante de medula óssea é uma das principais alternativas de tratamento para a leucemia e outras 80 doenças que afetam o sangue. Para incentivar a doação, a Lei nº 1.326, aprovada na Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) em 2019, concede isenção da taxa de inscrição em concursos públicos estaduais para doadores cadastrados. A norma, de autoria da ex-deputada Lenir Rodrigues, busca ampliar o número de voluntários e reforçar o compromisso social.
“Com o crescimento do número de concurseiros no estado, essa medida pode ter um impacto significativo, reduzindo o déficit de doadores cadastrados e incentivando a solidariedade”, justificou o projeto na época de sua aprovação.
A Lei Federal nº 13.656/2018 foi a primeira a estabelecer esse tipo de benefício no Brasil, ampliando a isenção para pessoas com renda familiar de até meio salário mínimo. Em alguns estados, doadores de medula também têm direito a meia-entrada em eventos culturais e esportivos e atendimento prioritário em estabelecimentos como bancos e supermercados.
Autocuidado é prevenção
A leucemia afeta a medula óssea, responsável pela produção do sangue, conforme explica a médica hematologista Andrea Giordana Araújo. Esse tecido deve gerar três tipos principais de células: leucócitos (células de defesa), hemácias (glóbulos vermelhos) e plaquetas (responsáveis pela coagulação). Quando ocorre uma falha na produção ou uma alteração nos leucócitos, a doença se manifesta.
Existem dois tipos principais da doença: crônica, de evolução mais lenta e com possibilidades de controle; e aguda, que avança rapidamente e pode ser fatal sem um diagnóstico precoce. “Se a detecção não ocorre em estágio inicial e o tratamento não é adequado, o paciente pode não resistir. Quanto antes descobrimos a doença, maiores são as chances de controle e cura”, destacou Araújo.
A leucemia pode ser desencadeada por exposição a substâncias químicas, radiação, fatores genéticos e hábitos alimentares. “Nosso organismo sofre mutações celulares diariamente, mas, em condições normais, o sistema imunológico identifica e elimina essas alterações. Em alguns casos de leucemia, esse mecanismo falha, permitindo o desenvolvimento da doença”, explicou a especialista.
A principal forma de prevenção, segundo a médica, é o autocuidado. Sinais de alerta incluem perda de peso sem motivo aparente, cansaço excessivo, febre recorrente, nódulos no pescoço, sangramentos e manchas vermelhas pelo corpo. “Nada melhor do que a própria pessoa para perceber mudanças no organismo e buscar ajuda médica”, reforçou.
Superação e fé
Em 2024, quase 20 pessoas foram diagnosticadas com leucemia em Roraima, um número considerado elevado por especialistas. A doença não tem faixa etária específica e pode afetar desde bebês até idosos.
O empresário Jheimyson Alves, de 28 anos, recebeu o diagnóstico em setembro do ano passado, após um exame de rotina revelar baixa produção de plaquetas e leucócitos. “Quando vi os resultados, pesquisei na internet e já imaginava o que poderia ser. Me preparei para a situação”, relatou.
Atualmente, ele segue tratamento com quimioterapia e medicamentos, e reage bem às terapias. “Tive poucas reações adversas, o que melhora minha qualidade de vida”, afirmou.
Para Jheimyson, manter a mente positiva é fundamental. “Me apego a Deus, sigo todas as orientações médicas e tento manter a calma. O importante é aceitar o tratamento e confiar na equipe médica para enfrentar esse processo”, concluiu.
Doe vida
Atualmente, Roraima conta com 8.951 pessoas cadastradas no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). Segundo Liliana Bezerra, enfermeira do setor de Captação do Hemoraima, o estado atinge sua meta de novos cadastros anualmente, geralmente até julho, com uma média de 464 novos voluntários por ano.
Para se tornar um doador, é necessário ter entre 18 e 35 anos, estar em boas condições de saúde e não ter histórico de câncer, doenças crônicas, degenerativas ou autoimunes, nem diabetes. O cadastro pode ser feito no Hemoraima, mediante apresentação de um documento com foto. Após preencher os dados necessários, o voluntário realiza a coleta de 5 ml de sangue para análise. Se aprovado, ele permanece no banco de dados até os 60 anos, quando o registro é automaticamente desativado.
A doação de medula pode ser feita de duas formas: por aférese, um procedimento semelhante à doação de sangue, ou por punção, em que parte do tecido é aspirada do osso da bacia. Liliana Bezerra esclareceu alguns mitos sobre o processo. “É um procedimento seguro e realizado apenas em hospitais habilitados. Tanto doador quanto receptor recebem todo o suporte necessário”, explicou.
Ela também reforçou que a doação não traz riscos e pode salvar vidas. “O receptor está numa fila de espera, sem saber o que o futuro reserva. Quem doa tem a chance de levar esperança a alguém, e esse gesto não tem preço. O maior benefício é saber que um simples ato pode significar uma nova chance para outra pessoa”, concluiu.