
“Empreender sem agredir a natureza”, foi com essa filosofia e com raízes fincadas no campo e os olhos voltados para a inovação, que a engenheira agrônoma Vera Lucy Brandão encontrou na agroecologia e nos saberes tradicionais um caminho de transformação. Proprietária da YuPrimavera, marca roraimense que combina ciência, tradição indígena e empreendedorismo feminino, Vera é uma das expositoras do Inova Amazônia Summit 2025, realizado pelo Sebrae Amapá, em Macapá.
A história da YuPrimavera começou de forma inusitada, como um plano para desviar o desperdício.

“Eu estava esperando a produção do café, que é o meu cultivo principal, mas enquanto isso comecei a aproveitar os pés de cupuaçu que já existiam no meu sítio”, conta Vera. A venda da polpa, no entanto, não compensava: “Comercializava a R$ 10 o quilo, colhia cerca de 300 kg por safra, o que dava R$ 3 mil por ano. Se dividir isso por 12 meses, é uma renda muito baixa. Foi aí que percebi a necessidade de agregar valor”, conta Vera.
Então, Vera percebeu que precisava inovar, e decidiu aproveitar a safra de cupuaçu de novas maneiras, com criação de um doce que hoje faz sucesso em Roraima: a jujubinha de cupuaçu. Inspirada por um antigo projeto da Embrapa, o “Cupuaçuporte”, e por sua própria realidade sem acesso a energia elétrica, Vera adaptou a receita original para algo mais acessível à sua comunidade, dando o tom e o sabor que hoje é comercializado por ela.
“Minha primeira profissão foi dona de casa. Isso me deu intimidade com a panela. Lá no sítio não tinha refrigeração, então precisei adaptar tudo. Criei uma versão que se conserva em temperatura ambiente, tem boa durabilidade e um sabor ainda mais marcante”, explica.
A inovação deu certo e hoje a jujubinha ultrapassa fronteiras regionais e internacionais e é um dos carros-chefes da marca.

O apoio do Sebrae
Formalizada em 2024 como microempreendedora individual (MEI), a YuPrimavera nasceu com apoio direto do Sebrae. “Eu estava no sítio quando recebi uma mensagem do Laércio, um antigo colaborador do Sebrae. Foi ele quem me apresentou o Inova Amazônia e todas as oportunidades que existiam. Antes disso, eu não fazia ideia desse mundo empresarial”, relembra.
A escolha do nome da empresa também carrega identidade:
“‘Yu’ significa ‘floresta’ em macuxi. ‘Primavera’ é uma forma de tratamento carinhosa entre parentes indígenas. Juntando os dois, temos ‘floresta da prima Vera’, que representa nosso modo de produzir e viver”, define.
Vera adota o sistema agroflorestal como base de produção. “Trabalhamos no ritmo da natureza. Só processamos o que a floresta nos oferece no momento. Agora, por exemplo, estamos no auge da colheita do cupuaçu, então trouxemos a jujubinha. Também trouxemos café produzido em parceria com outros agricultores da minha comunidade, já que a nossa safra já foi toda comercializada, então nos apoiamos muito nesse sentido, se alguém da comunidade tem o produto, nós trazemos também para comercializar.”
A agricultura sintrópica — método que aprendeu durante a graduação em agronomia, inspirada pelo pesquisador suíço Ernst Götsch — é o alicerce da empresa. “É possível, sim, trabalhar com a natureza e não contra ela. E ela nos devolve tudo em dobro.”
No Inova Amazônia Summit 2025, Vera apresenta não apenas produtos, mas uma filosofia de vida: empreender com propósito, valorizando o território, os saberes tradicionais e a biodiversidade da Amazônia.Vera
Giovanna Lima