Meninas Mães: especialistas alertam sobre impactos e riscos de gravidez na adolescência em podcast da ALE-RR

Roraima lidera ranking de maior taxa de natalidade entre crianças e jovens de 10 a 19 anos. – Fotos: Jader Souza | SupCom/ALE-RR

Os impactos, riscos e consequências de uma gravidez na adolescência foram os focos do podcast “Meninas Mães”, uma iniciativa da Superintendência de Comunicação do parlamento estadual, transmitida ao vivo pela TV Assembleia (57.3) e redes sociais (@assembleiarr), nesta sexta-feira (14). O bate-papo foi o terceiro de 2025.

Em 2010, foi aprovada na Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) a Lei n⁰ 782, que institui a campanha permanente sobre prevenção à gravidez na adolescência, com a divulgação de informações durante este mês. Conforme a mediadora do podcast, a diretora de TV e Rádio da ALE-RR, Camila Dall’Agnol, a Casa não pode se eximir de debater sobre o tema.

“Uma das causas para isso é a falta de informação. Então quanto mais conseguirmos agregar em um programa só, melhor. A gravidez na adolescência em alguns estados tem caído, mas, em Roraima, ocorre o inverso e nos preocupa. Enquanto poder público, é imprescindível discutir esse tema”, enfatizou Dall’Agnol.

Mediadora Camila Dall’Agnol destacou que falta de informação é um dos fatores para aumento de adolescentes grávidas.

Depoimento emocionante

O estúdio de Rádio Márcia Seixas (FM 98,3) recebeu profissionais de saúde e direito que esclareceram sobre os perigos para a integridade física e mental da gestante ainda nessa fase, além dos benefícios garantidos por lei.

No entanto, antes das falas dos convidados, houve a apresentação do primeiro depoimento do podcast. Medo do julgamento das pessoas e da reação da mãe permearam os sentimentos da jovem Sara Michele Gouveia, ao descobrir que seria mãe aos 15 anos de idade. A estudante também relatou que sofreu no início por causa do abandono do pai da criança, que apenas a registrou.

“Ele falava que eu não seria uma boa mãe, entre outras coisas. Com isso, fui seguindo sem ele. Foi desesperador no início, por causa da minha família. Estou conseguindo dar conta e, graças a Deus, minha mãe me ajuda. Não recomendo engravidar muito cedo, porque foi muito difícil. Estou fazendo faculdade, mas quero conseguir logo um emprego e poder dar o melhor ao meu filho”, contou emocionada.

Psicóloga Sirlene Santos falou sobre pontos que mais causam sofrimento à gestante adolescente.

A psicóloga Sirlene Santos falou sobre os pontos que mais causam sofrimento à gestante adolescente. “Você não vai poder curtir um momento no qual poderia ser feliz. Você é tomada pelo medo, insegurança, por abrir mão de sonhos, por ter responsabilidades que não tinha antes. Isso gera um sofrimento muito grande, que repercute tanto para ela quanto para a evolução do bebe e após o nascimento”, analisou.

Conforme a enfermeira Giliane Nascimento Lima, o medo gerado nessas jovens faz com que elas escondam a gravidez e não façam o pré-natal, o acompanhamento médico que garante a saúde da mãe e do bebê.

“A gente capta gestantes que iniciam tardiamente e as consequências são ruins, porque ela não terá um acompanhamento de qualidade. Além disso, há a questão de várias mulheres que abrem mão de seus sonhos por causa do amor ao filho. Foi uma etapa da vida que ela teve que congelar, devido a uma situação não planejada”, pontuou.

‘A gente capta gestantes que iniciam tardiamente o pré-natal e as consequências são ruins’, contou a enfermeira Giliane Nascimento Lima.

Riscos à saúde

Dados do Ministério da Saúde apontam que as regiões Norte e Nordeste são as que apresentam maiores índices de adolescentes grávidas. Desde 2022, Roraima lidera o ranking de maior taxa de natalidade entre crianças e jovens de 10 a 19 anos. O fato contribui para outro dado alarmante: o de mortalidade infantil.

A médica obstétrica e ginecológica Eugênia Glaucy Moura alertou os principais riscos à saúde de ambos nesse período, como pressão alta e desnutrição, podendo a mãe apresentar trabalho de parto prematuro, já que o corpo da adolescente está em processo de formação.

“Aumenta, principalmente, a incidência de morte materna. A saúde da mãe está comprometida quando ela engravida, porque a estrutura do corpo ainda não está preparada para receber a gravidez. De 10 a 19 anos, ainda existem situações no organismo que precisam sofrer mais amadurecimento, sem contar com o abalo emocional. Então se observa que a demanda dentro da maternidade com relação a grávidas adolescentes é assustadora”, destacou.

Médica Eugênia Glaucy Moura alertou principais riscos à saúde da mãe e bebê nesse período.

Garantia legais

Os direitos que envolvem as adolescentes gestantes também foi destaque. A defensora pública do Estado Beatriz Dufflis explicou sobre a legislação que tipifica como crime relações com meninas menores de 14 anos, mesmo consentidas.

“Necessariamente, haverá um estupro de vulnerável. A faixa de pena que o Código Penal traz é mais grave. Se estamos tratando de uma criança de até 14 anos de idade, não há o que se falar em consenso. Quando passamos da faixa até os 18 anos, pode-se discutir se houve ou não aceitação e a faixa da pena é diferenciada”, informou.

Dufflis alertou que qualquer profissional de saúde que se depare com casos de violência sexual, tem o dever de notificar às autoridades policiais. “Quem não o fizer, pode incorrer em omissão e responder profissionalmente por isso”, disse.

Houve também depoimentos de dois servidores da ALE-RR que passaram por essa situação muito jovens, o da produtora de TV Thays Cunha e do editor de imagens Elielton Kanys. Ambos foram pais aos 15 anos. Thays falou dos receios e dificuldades enfrentados nessa época e como está se redescobrindo na idade adulta. Já Elielton abordou a questão de enfrentar seus medos e assumir responsabilidades para si muito cedo para não faltar nada à criança.

Defensora pública Beatriz Dufflis explicou sobre crime e direitos que assistem às jovens.

Dados

Na ocasião, foram apresentados dados divulgados pelo Ministério da Saúde sobre o decréscimo de mães adolescentes no Brasil, na faixa de 15 a 19 anos, entre 2010 e 2020 e ainda uma pesquisa da distribuição das idades de mães de filhos nascidos vivos por cor. Conforme a pesquisa, os maiores casos a partir dos dez anos de idade incidem em meninas indígenas, seguidos de pardas, pretas e brancas.

Para quem não conseguiu acompanhar ao vivo, o podcast está disponível na íntegra no canal do Poder Legislativo no YouTube. Posteriormente, estará nas plataformas de streaming de áudio Spotify e Deezer.

Suzanne Oliveira

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