
Por Willians Dias e Taígo Araújo
A Daterra Mirante é mais do que um ponto comercial em Boa Vista, capital de Roraima. O empreendimento, idealizado por Andria Valença e Lincoln Valença, se tornou um espaço de circulação da arte indígena, do artesanato roraimense e da valorização de saberes tradicionais. O que começou como uma pequena loja voltada para viajantes, hoje é uma vitrine cultural que conecta produtores locais a pessoas de diferentes partes do mundo.
O negócio surgiu em 2018, motivado pelo desejo de criar um ambiente que desse protagonismo aos artistas e artesãos da região. No início, a proposta ocupava uma área no Aeroporto Internacional de Boa Vista – Atlas Brasil Cantanhede, aproveitando o fluxo constante de passageiros para apresentar peças autorais, muitas vezes produzidas por mãos indígenas, e sempre acompanhadas de contexto e história.
Com a mudança na administração do aeroporto e a consequente saída do local, os fundadores precisaram repensar o futuro da marca. Segundo Lincoln, a saída inesperada abriu novas possibilidades e aproximou o projeto da paisagem urbana e turística da cidade.
“A gente passou por um processo judicial. Ainda conseguimos permanecer lá por mais um ano, por necessidade mesmo, seguimos com a operação até onde foi possível. Antes do aeroporto ser concluído, passamos por uma obra no Parque do Rio Branco e dissemos: “Cara, é aqui””, disse.
A instalação da loja em um ponto de visibilidade, o mirante do Rio Branco, deu início a uma nova fase. Com um público mais diverso, a marca precisou adaptar os produtos e a comunicação. De acordo com Andria Valença, a identidade visual ganhou força, e a curadoria passou a focar ainda mais em peças que representassem a riqueza cultural roraimense, sem abrir mão do compromisso com a acessibilidade de preços.
“A nossa loja funciona como uma curadoria. A gente está ali cuidando de cada peça, de cada artista que expõe com a gente. Explicamos a origem dos produtos, fazemos questão de que o cliente conheça a história por trás de cada item”, afirmou.
Conforme a empresária, uma das missões da Daterra é abrir espaço para quem esteve à margem da economia criativa: indígenas, artistas independentes e pequenos produtores locais.
“As pessoas conseguem encontrar ali a diversidade cultural que existe no nosso Estado, e eu diria até da Venezuela, porque também temos obras de artistas venezuelanos. Temos vários pequenos setores onde expomos produtos de diferentes artistas e produtores, cada um com sua identidade e estilo”, ressaltou.

Elo entre comunidades tradicionais, arte e turismo
A empresa está em constante renovação de parcerias com artesãos indígenas, já que muitos apenas passam por Boa Vista e não permanecem na cidade por muito tempo. Além de atender o público que frequenta o mirante, a Daterra se tornou referência para quem procura lembranças significativas.
Por isso, o espaço se consolidou como um lugar onde presentes simples ganham valor simbólico por representarem a identidade dos povos originários. “Temos esculturas com vários tipos de madeira. Temos telas de grande proporção, né? Então, assim, é isso que a gente gosta”, destacou Lincoln.
O alcance do projeto cresceu também por meio de ações culturais. A Daterra atua como produtora, promovendo eventos e abrindo espaço para experiências presenciais entre artistas e visitantes. Esse diferencial aproximou ainda mais o público dos processos criativos e fortaleceu os laços com o turismo.
O trabalho de Andria Valença à frente do negócio rendeu reconhecimento em nível estadual. Ela passou a integrar o Sebrae Delas, iniciativa voltada ao empreendedorismo feminino. De acordo com a coordenadora do programa em Roraima, Kamila Gabriele, a iniciativa oferece suporte e capacitação à comunidade.

“O Sebrae oferece soluções que essas mulheres incluídas no projeto têm a possibilidade de acessar, e com isso conseguem alavancar seus negócios e gerar outras oportunidades. Elas se conectam com comunidades, com outras mulheres, e também compartilham o conhecimento que trazem da vivência do dia a dia como empreendedoras. Isso gera uma troca muito rica e ajuda a construir essa grande rede que temos hoje de mulheres empreendedoras”, explicou.
Conforme a empresária, a experiência no programa tem sido transformadora, contribuindo para o amadurecimento do negócio e trazendo novas visões sobre o que ainda pode ser desenvolvido.
“O Sebrae faz esse atendimento, tem prestado essa assessoria, ajudando para que a gente possa melhorar o nosso negócio. E o legal é que tudo é feito com base na perspectiva da loja, na filosofia da loja, no que a gente quer”, disse Andria.
Economia criativa em expansão
Dados divulgados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), apontam que Roraima conta com cerca de 5.400 empresas cuja atividade principal está ligada à economia criativa. Desse total, 66% operam como Microempreendedores Individuais (MEI). Os números também mostram que aproximadamente 98,7% das empresas do setor são de pequeno porte.