
O cigarro ilegal domina o mercado de Roraima como em nenhum outro estado da região Norte. Hoje, 83% dos cigarros vendidos no estado são ilegais. Em outras palavras, a cada dez cigarros comercializados, apenas dois são de origem legal. O volume movimentado por esse comércio clandestino é alarmante: 1,3 bilhão de unidades ilegais em 2024, gerando um faturamento de R$ 342 milhões para o crime organizado.
Além de alimentar redes criminosas, essa economia paralela impõe perdas significativas ao estado. Só em 2024, a evasão fiscal em Roraima provocada pelo mercado ilegal de cigarros chegou a mais de R$ 103 milhões, recursos que poderiam ser aplicados em educação e segurança pública. Os dados são da mais recente pesquisa do Instituto Ipec, que faz um raio-X do mercado ilegal de cigarros no Brasil. O levantamento é encomendado pelo Fórum Nacional contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP).
A rota do Suriname no avanço do contrabando
De acordo com especialistas, a rota alternativa do contrabando via Suriname impulsiona o mercado ilegal na região. O caminho marítimo tem se consolidado como uma alternativa vantajosa aos criminosos, reduzindo riscos de apreensão nas fronteiras terrestres tradicionais.
O trajeto é o seguinte: do Paraguai, os cigarros passam pela Bolívia e o Chile, onde iniciam o transporte marítimo pelo Porto de Iquique. Depois, dão a volta no Canal do Panamá até chegarem ao Suriname, de onde alcançam as cidades do Norte e Nordeste.
Uma logística complexa e cara, mas que parece compensar para os contrabandistas. O presidente do FNCP, Edson Vismona, aponta para a íntima relação entre mercado ilegal de cigarros e o crime organizado: “não por acaso essas organizações também estão ligadas ao tráfico de drogas e armas, que, sabe-se, utilizam a mesma logística, incentivando a violência e afetando a segurança pública não só nas fronteiras, mas nas cidades de todo o País.”
Cenário nacional
O avanço do cigarro ilegal é reflexo da crescente estrutura do contrabando no país, que já domina 32% do mercado de cigarros, de acordo com o Ipec. A pesquisa indica, também, que o crime movimentou 34 bilhões de unidades de cigarro ilegal no Brasil em 2024. O montante é avaliado em R$ 9 bilhões. O levantamento estima que o contrabando de cigarros tenha causado um prejuízo de R$ 7,2 bilhões com evasão fiscal, apenas em 2024. Na soma dos últimos 12 anos essa quantia chega a aproximadamente R$ 105 bilhões.
Fábricas clandestinas
O mercado ilegal de cigarros é tão vantajoso que as organizações criminosas fabricam, em território nacional, verdadeiras cópias das marcas de cigarro paraguaias mais contrabandeadas. Ano passado, a polícia fechou 9 dessas fábricas. Em geral, a fabricação acontece em grandes galpões, com mão de obra paraguaia e submetida a condições extremamente precárias de trabalho.
Os criminosos utilizam maquinário profissional capaz de produzir milhões de maços de cigarros. Nos últimos 13 anos, foram mais de 64 fábricas desativadas em todo o país. Juntas, elas têm um potencial de faturamento anual de R$ 4 bilhões.