Trajetória de sucesso: ex-vendedora de cocadas investe em cosméticos masculinos e impulsiona expansão de barbearias

Com um olhar visionário, a autônoma Rebeca Andrade arrisca empreender no ramo da beleza para homens, onde poucos enxergavam oportunidades de crescimento, e se torna maior distribuidora em Roraima; migrantes também investem no setor para se manterem no Brasil. – Foto: Nonato Sousa
 
Por Marilena Freitas

 

A determinação empreendedora sempre foi parte integrante da vida de Rebeca Andrade, uma jovem de 26 anos que decidiu fazer a diferença no mercado. Há seis anos, ela mergulhou de cabeça na indústria da beleza, especificamente, no segmento de barbearia, deixando sua marca pioneira em Roraima ao fundar a Mundo Barber, uma empresa revolucionária no ramo de cosméticos masculinos. Mas antes da jornada de sucesso, ela chegou a vender cocadas pelas ruas de Boa Vista.

“Eu queria trabalhar pra mim, mas não sabia com o quê. Cheguei a fazer um trabalho informal para iniciar neste empreendedorismo, que era vender cocada e doce de leite na rua, numa térmica”, relembra a trajetória.

Antes de se mudar para Roraima, Rebeca morava em Rondônia, onde trabalhava de carteira assinada como assistente de dentista. Foi o contato com um parente que fez ela enxergar a indústria da beleza para o público masculino.

Rebeca Andrade: “O Sebrae é um parceiro que todo empreendedor precisa ter, independente do segmento que ele atuar” – Foto: Nonato Sousa

“Eu decidi investir no mercado para os homens porque eu percebi essa carência no Estado, diferente do que a gente vê para o público feminino que há bastante oferta. E hoje, os homens estão se cuidando mais”, explicou a intuição empreendedora. Após analisar o mercado e fazer estudos de investimentos, a jovem mergulhou de cabeça nos shampoos, cremes, pomadas e outros produtos masculinos para cabelo e barba.

A aposta foi certeira. Mas o verdadeiro ponto de virada para Rebeca veio quando ela se conectou ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/RR), três anos após iniciar sua jornada como Microempreendedora Individual (MEI). Ao seguir as orientações do Sebrae, Rebeca testemunhou um crescimento notável de seu negócio.

“O resultado foi surpreendente com um crescimento de 40%. Passei de MEI para ME [Microempreendedora] e a empresa tomou outra proporção. Foi quando senti a necessidade de entender algo mais interno na parte organizacional, pois ainda era muito amadora por não ter formação que pudesse me ajudar nesse aspecto”. Por indicação de amigos empresários ela procurou o Sebrae e participou dos projetos ALI [Agente Local de Inovação] e Sebrae Beleza, entre outros, como missões empresariais e Empretec, um programa de formação de empreendedores reconhecido mundialmente.

“A gente só vem fortalecendo essa parceria, porque nós, empresários, não podemos parar de estudar nunca. Se eu não tivesse estudado meu público talvez hoje continuaria sendo MEI ou até mesmo vendedora de cocadas”, reforça Rebeca sobre a necessidade de qualificação. “Essa parceria [com o Sebrae] não sai cara porque há muitos cursos que são até gratuitos”.

Para se enveredar na arte de empreender, é preciso entender a engrenagem que move o empreendedorismo. Segundo ela, o Sebrae pode colaborar. “O investimento do empresário comparado ao que promovem é muito baixo por conta da qualidade e da quantidade de ferramentas que oferecem”.

Graças a sua dedicação, ao apoio e a orientação recebida, Rebeca transformou sua visão em realidade, alcançando um crescimento notável e estabelecendo-se como uma líder no mercado de cosméticos masculinos em Roraima. Sua história é um testemunho inspirador do poder do empreendedorismo aliado ao suporte certo.

Cresce demanda masculina por produtos de higiene e beleza

A procura por cosméticos voltados para o público masculino cresceu. – Foto: Nonato Sousa

Apostar no segmento masculino da indústria da beleza mostrou-se uma estratégia assertiva. Uma pesquisa publicada pela Grand View Research apontou que a indústria da beleza voltada para cuidados masculinos foi avaliada em US$ 30,8 bilhões em 2021 e apresenta estimativa de crescimento de 9,1% ao ano entre 2022 – 2030, com previsão de até US$ 78,6 bilhões em 2024.

Segundo Rebeca, ao adentrar no mercado da beleza, ficou evidente que os investimentos estavam predominantemente voltados para o público feminino. No entanto, à medida que a economia evolui, também mudam os padrões de comportamento.

“Ao observar essa lacuna no mercado, percebi a oportunidade de atender uma demanda crescente. Os homens estão cada vez mais conscientes da importância dos cuidados pessoais para a autoestima e bem-estar. Vi uma lacuna na região e encarei como uma oportunidade de ser uma das pioneiras e ingressar nesse segmento exclusivo para o público masculino. Estou orgulhosa de ser uma pioneira nesse sentido”, afirmou a empresária.

A Mundo Barber distribui cosméticos para cerca de 700 barbearias em todo o estado, com a capital Boa Vista liderando o consumo. No entanto, a presença da empresa se estende por todos os municípios, e alguns dados chamam a atenção.

“Há dois municípios em destaque,como Caracaraí e São João do Baliza, ambos na região Sul do Estado,que estão experimentando um crescimento significativo. Atendemos também a Vila São Silvestre, em Alto Alegre, que já conta com duas barbearias, e outras vilas emergentes que estão investindo nesse setor”, revelou a empresária.

Profissionalização de barbeiros e busca por segurança jurídica para as empresas

Instituto Mundo Barber – Foto: Nonato Sousa

A visão estratégica da empresária foi o impulso para expandir a distribuição de produtos para barbearias. Buscando inovação no mercado, atrair mais clientes e retribuir, de certa forma, o apoio dos clientes na expansão da loja, ela decidiu fundar uma escola voltada para a formação de novos profissionais. A concepção do Instituto Mundo Barber reflete os ditados populares “é dando que se recebe” e “quanto mais faço as pessoas felizes, mais feliz eu me torno”, reproduz Rebeca.

A jogada magistral do Instituto é proporcionar formação profissional para barbeiros iniciantes e qualificar aqueles que já atuam na área. A lógica é simples: quanto mais profissionais qualificados no mercado, maior a demanda por produtos. O resultado foi imediato, e a empresária visionária abre uma nova turma a cada mês, onde os alunos são instruídos sobre a história da barbearia, ergonomia, biossegurança e gestão.

Rebeca Andrade. – Foto: Nonato Sousa

“Já formamos 12 turmas de 10 alunos iniciantes em barbearia, totalizando 120 novos profissionais. Oferecemos cursos avançados e enfatizamos a importância da gestão e do gerenciamento, orientando os alunos a ingressarem nos cursos oferecidos pelo Sebrae. Muitos de nossos alunos saem empregados, pois a demanda por profissionais qualificados é alta”, contou a empresária.

Um dos desejos da empresária é ajudar a regularizar o maior número possível de empresas do ramo de barbearia. Com experiência em ambos os lados da equação, Rebeca está bem posicionada para mostrar que “o caminho para o sucesso empresarial passa pela segurança jurídica e pela regularização”, como ela mesmo diz.

O Instituto Mundo Barber também abraça a responsabilidade social. “Nós apoiamos o projeto Resgatando Vidas, que trabalha com dependentes químicos, levando os alunos do Instituto para oferecer serviços de barbearia uma vez por mês”, acrescentou.

Barbearias aquecem economia na zona Oeste de Boa Vista

Fabiano Santos: “Na época as ruas eram de barro e como não havia salão, eu resolvi empreender”. – Foto: Eduardo Andrade

A zona Oeste de Boa Vista concentra a maior parte das empresas no ramo de barbearia. O bairro com mais estabelecimentos é o Cidade Satélite, seguido do Senador Hélio Campos e Asa Branca. Fabiano dos Santos é pioneiro no Cidade Satélite. Em 2007, quando mudou para o bairro, rapidamente identificou uma demanda por serviços de beleza e decidiu empreender.

“Na época as ruas eram de barro e como não havia salão, eu resolvi empreender. Todo mundo [homens, mulheres e crianças] cortava o cabelo e fazia barba no meu salão. Eu era o único. Cresci e comprei um terreno mais estratégico para o comércio”, contou.

A indústria da beleza floresce no bairro Cidade Satélite, emergindo como o principal polo deste segmento em Boa Vista. Dados da Receita Federal revelam que em todo o estado de Roraima são 1.397 salões – deste total, 1.256 são MEI – e, só na capital existem, atualmente, 1.271 empresas ativas.

Aposentada Maria do Nascimento: “O bairro cresceu muito e o salão com a barbearia sempre foi um sucesso”. – Foto: Eduardo Andrade

Embora tenha começado de forma informal, Fabiano buscou apoio do Sebrae para formalizar o negócio. “Após abrir a empresa, corri atrás dos meus objetivos. Hoje, sei administrar, atender e crio muitos empregos”, orgulha-se Fabiano. “Aprendi muito, e graças a Deus, sou um empresário bem-sucedido!”

Moradores afirmam que salão mudou a cara do bairro

O sucesso contínuo do salão de Fabiano é atribuído à sua abordagem centrada no cliente e à manutenção da simplicidade. Para aqueles clientes mais antigos que não podem ir até o salão, Fabiano faz visitas domiciliares.

Maria do Nascimento, de 77 anos, aposentada, é uma das primeiras clientes de Fabiano. Devido à idade, ela prefere ser atendida em casa.

O motorista Francisco Xavier: “O comércio de Fabiano realmente mudou a cara do lugar, trazendo um grande progresso”. – Foto: Eduardo Andrade

“Eu já cortava o cabelo com Fabiano antes de me mudar para o bairro. Eu trazia toda a minha família, e sempre havia uma fila grande. Quando me mudei pra cá quase não havia nada aqui, apenas algumas poucas casas. Desde então, o bairro cresceu muito, e o salão com a barbearia sempre foi um sucesso, gerando muitos empregos”, relembra a mulher.

Segundo a cliente fiel, muitos migrantes que passaram por lá abriram os próprios salões. “Fabiano fez muito por este bairro. Ele é um verdadeiro empreendedor de sucesso”, compartilhou Maria.

Francisco Xavier Araújo, motorista, também testemunhou a evolução do bairro ao longo dos anos. “O comércio de Fabiano realmente mudou a cara do lugar, trazendo um grande progresso. Ele é um cara que trata todo mundo de forma igual, com muita simpatia”, afirmou o morador do bairro desde 2005.

Migrante da Venezuela monta próprio salão após cinco anos como funcionário

Franluis Tochom: “Trabalhei cinco anos no salão e decidi abrir meu próprio salão”. – Foto: Eduardo Andrade

Com a crise na Venezuela, Roraima tornou-se a principal porta de entrada para migrantes que buscam refúgio no Brasil, sendo o quinto país que mais recebe refugiados, conforme a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Parte foi realocada para outras regiões do Brasil, enquanto outros permaneceram em Roraima, iniciando uma jornada em busca do recomeço perto do país natal.

O apoio governamental foi fundamental para implementar políticas públicas que aliviassem o sofrimento dos refugiados, mas o verdadeiro acolhimento veio das mãos de pessoas como Joões, Marias e Fabianos, que desempenharam um papel crucial em ajudar esses migrantes a reconstruir suas vidas.

Fabiano, com 17 anos de experiência no setor, gerou e continua gerando muitos empregos, incentivando os funcionários a empreenderem por conta própria. Franluis Tochom, um migrante venezuelano de 32 anos, é um exemplo desse sucesso. Ele chegou em Roraima no final de 2016 em busca de oportunidades e trouxe na bagagem habilidades de barbeiro. Inicialmente, planejava juntar algum dinheiro e retornar à Venezuela, mas acabou se tornando um microempreendedor, estabelecendo-se e construindo uma vida nova.

Franluis Tochom. – Foto: Eduardo Andrade

“Quando cheguei, foi difícil. Trabalhei alguns meses na construção civil antes de ir para o salão de Fabiano. Depois de fazer um teste, fui contratado porque o cliente gostou do meu corte. Trabalhei lá de setembro de 2016 até 2021, cinco anos. Decidi então abrir meu próprio salão”, relembrou Tochom, que hoje é um dos clientes da Rebeca.

Ainda com sotaque de estrangeiro, Franluis contou à reportagem que após decidir empreender procurou o Sebrae para fazer o cadastro como MEI. “Eles [analistas do Sebrae] vieram me visitar três vezes, forneceram orientações e eu fiz os cursos online que eles oferecem, o que me ajudou muito a entender as ferramentas empresariais”.

Fabiano fica orgulhoso em saber que contribuiu para melhorar a vida social e econômica das pessoas, principalmente dos migrantes em situação de vulnerabilidade. “Fico feliz em poder ajudar e saber que eles seguiram em frente nesta jornada empreendedora”.

Foto: Eduardo Andrade
Foto: Eduardo Andrade
Foto: Eduardo Andrade
Foto: Eduardo Andrade
Foto: Eduardo Andrade

Veja também

Topo