Combate ao machismo e assédio a mulheres militares nas corporações é destaque em último dia de Enerp

Sediado pela ALE-RR, evento debateu diversas pautas relevantes para policiais e bombeiros ao longo de três dias. – Fotos: Jader Souza e Nonato Sousa | SupCom/ALE-RR

Esta sexta-feira, 12, foi o último dia do XV Encontro Nacional de Entidades Representativas de Praças (Enerp), sediado pela Assembleia Legislativa (ALE-RR), no Plenário Deputada Noêmia Bastos Amazonas. Promovido pela Federação Nacional dos Praças (Anaspra) e Associação dos Policiais e Bombeiros Militares de Roraima (APBM/RR), o evento, que teve início na quarta-feira, 10, com transmissão da TV Assembleia (57,3) e YouTube, debateu diversos pontos relevantes para as categorias e expansão da carreira.

Coronel Camila Paiva, primeira oficial feminina do CBM de Alagoas

A palestra “Os impactos da desigualdade de gênero no acesso e desempenho da carreira militar” foi o tema central da primeira parte do evento e teve o intuito de refletir um assunto que, até pouco tempo, não era discutido dentro das instituições militares, conforme a ministrante, coronel Camila Paiva, primeira oficial feminina do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas.

“Essa discussão é importantíssima, justamente para a gente saber como é que essas desigualdades e estereótipos de gênero vêm a contribuir positiva e negativamente para o desempenho da atividade militar. Como é que nós, enquanto profissionais de segurança pública, podemos minimizar essas desigualdades e buscar uma prestação de serviço de excelência para a nossa população?”, questinou a oficial, acrescentando que só é possível alcançar tais objetivos se as mulheres também tiverem um tratamento digno, respeitoso e com as mesmas oportunidades e direitos dentro da corporação.

Último dia de encontro debateu machismo e assédio às mulheres dentro das instituições militares

Ainda segundo a coronel, o fato de o número de mulheres dentro desses órgãos ainda ser visivelmente menor, é um reflexo da realidade de que, por anos, a elas não foi dada a oportunidade de ocupar esses espaços – apenas em 2002, foi autorizada a participação feminina em concurso público para a área no estado de Alagoas.

“O preconceito contra a mulher policial ainda existe. Será que ela não ocupa esses locais porque não tem condições e a genética dela não permite ou por que isso não foi estimulado e ela não foi preparada paral tal? A gente precisa refletir isso para que aquela mulher que faz parte da instituição tenha dignidade, seja respeitada, se capacite e preste um serviço de excelência para a sociedade, que é o nosso público-alvo”, concluiu.

Após a palestra, a discussão em torno do machismo no ambiente militar seguiu. Foi aberto o direito de fala aos convidados, tanto aos que compuseram a mesa quanto ao público, que parabenizaram e corroboraram o discurso de Paiva, além de deixarem contribuições baseadas em suas vivências.

Houve ainda a palestra “Mentalidade inquisitória no processo penal militar: injustiça epistêmica”, com os palestrantes professor Wanderley Alves, ex-policial militar, advogado e mestre em Direito; e Raul Marcolino, policial militar e advogado especialista em Direito Penal pela Escola Paulista de Magistratura.

Elisângela Bonifácio Menezes, tenente do CBM de Sergipe

A tenente Elisângela Bonifácio Menezes, do Corpo de Bombeiros de Sergipe, contou que a palestra foi riquíssima, porém, não a surpreendeu por conhecer essa realidade.

“Nós temos esse machismo, que não posso dizer que é uma doença, mas um mau comportamento, e ela conseguiu, de uma forma educativa, levar para todos que acompanharam. Muitas vezes, os homens não se veem [como machistas], acham que não estão se comportando mal, que é normal, e isso não é. A gente não quer ver que temos um mundo que é dividido. Se a nossa própria Constituição Federal diz que temos direitos e deveres iguais, por que que a gente vê, no nosso dia a dia, esse comportamento querendo diferenciar e, na maioria das vezes, menosprezar?”, questinou.

Balanço

O presidente da Anaspra, Marco Prisco Machado, avaliou o encontro como proveitoso e destacou que as expectativas foram superadas.

Soldado Prisco, presidente da Anaspra

“Saíram daqui muitas informações e propostas, inclusive PEC [proposta de emenda à Constituição] do duplo vínculo aqui no Estado. Vários deputados se comprometeram a dar celeridade a isso, que é muito importante. O senador Davi Alcolumbre também se fez presente e abriu uma porta de diálogo e de agenda com ele lá em Brasília. Foi um grande evento e saímos daqui fortalecidos. Quero agradecer, em nome de todo mundo, o presidente da ALE-RR, Soldado Sampaio. Sem ele, nada disso aqui teria acontecido”, concluiu.

Para a presidente da Associação de Policiais e Bombeiros Militares de Roraima, sargento Quésia Barreiro Mendonça, a reunião possibilitou a abertura de novos horizontes para ambas as classes.

“Hoje foi um dia muito especial e enriquecedor com a palestra da coronel Camila, que veio de outro estado nos ensinar, deu uma aula para todos nós sobre quebrar paradigmas. As mulheres vão ficar onde elas quiserem. Para a gente, foi tudo muito produtivo e de trocas. Minha eterna gratidão a todos que participaram e, principalmente, a Deus, porque Ele nos proporcionou esses três dias maravilhosos”, contou.

Presidente da APBM, Quésia Barreiro Mendonça

A programação segue à tarde, a partir das 15h, com uma assembleia geral da Anaspra, restrito às entidades filiadas. Às 20h, ocorre o encerramento com atividade cultural. Os registros fotográficos dos três dias de evento podem ser conferidos no Flickr da Assembleia Legislativa neste link.

O que é

O Encontro Nacional de Entidades Representativas de Praças (Enerp) é um evento organizado pela Associação Nacional de Praças (Anaspra) em parceria com a Associação dos Policiais e Bombeiros Militares de Roraima (APBM-RR). Conforme o presidente da Anaspra, Marco Prisco Caldas Machado, o encontro abriu possibilidades de diálogo com o governo federal para apresentar as demandas das categorias.

O principal tema deste ano foi “Valorização profissional: policiais e bombeiros militares essenciais na segurança pública da sociedade”. O XV Enerp conta com o apoio da Assembleia Legislativa do Estado de Roraima, que tem atuado para garantir melhores condições de serviço aos policiais que se refletem diretamente na sociedade.

Suzanne Oliveira

 

 

 

 

 

 

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