Ministério da Saúde já capacitou 230 profissionais para administrar o medicamento tafenoquina no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami. O território foi o primeiro do país a receber a tecnologia, com uma remessa inicial de 4 mil esquemas de tratamento da malária e já foi utilizado em 21 pacientes.
O novo medicamento é um dos avanços mais substanciais dos últimos anos no combate à doença. A grande vantagem é que, enquanto o medicamento mais antigo precisa ser administrado ao longo de 14 dias, a tafenoquina deve ser tomada uma única vez, contribuindo para a diminuição das chances de recaída. O tratamento aumenta a adesão dos pacientes e é o novo aliado do Brasil na busca pela eliminação da malária.
“A tafenoquina vai nos ajudar bastante. Ela significa maior eficiência no tratamento, com menos abandono. Depois do terceiro dia é muito difícil o indígena tomar o medicamento. Eles param e não estão totalmente curados”, explica o médico sanitarista Oneron de Abreu Pithan, que atua no controle da malária no DSEI Yanomami.
A previsão é que os casos de malária na Terra Indígena (TI) comecem a cair já a partir do segundo semestre deste ano. A expectativa é da coordenação de combate à doença que atua na região. A redução será possível após uma série de investimentos do Ministério da Saúde em aumento da oferta de tratamento, busca ativa de casos e combate à transmissão.
De acordo com Oneron, o número de casos registrados em 2023 foi reflexo do aumento do diagnóstico. Segundo ele, houve uma subnotificação de 5 mil casos entre 2019 e 2022. “A malária é uma doença infecto parasitária. A presença do homem infectado, infecta o mosquito, que infecta outras pessoas. Não existiam vetores contaminados como agora”, salienta.
O médico é categórico: a presença de garimpeiros impactou duramente a disseminação da doença. Além disso, falhas no controle entre 2019 e 2022 prejudicaram a conjuntura. Neste período, os casos só foram notificados quando o paciente estava em estado grave e já havia transmitido a doença em seu ambiente.
“Foi um impacto sanitário muito forte. Houve regiões que há três anos estavam sem nenhum tipo de controle, de assistência. Nesses primeiros momentos a expectativa é que se notifique mais casos, mas a tendência é que ocorra melhora nos níveis de transmissão a partir do segundo semestre”, observa e emenda: “nesse período a lacuna foi muito grande, houve a permissão da entrada do garimpo. O garimpo ocupou o espaço que o Estado deveria ocupar”.
O território Yanomami tem a maior demanda de malária do país. Segundo estatísticas do Ministério da Saúde, 54% da malária indígena vem da região e 75% dos casos mais graves ocorrem no povo Yanomami.
Atuação com o governo estadual
Em Roraima, cinco municípios, que contam com a presença Yanomami, concentram os casos de malária. A situação é crítica em Amajari, Alto Alegre, Iracema, Caracarai e Mucajaí.
A atuação do Ministério da Saúde, por meio do DSEI Yanomami e do DSEI Leste Roraima, que atende sete povos, em conjunto com o governo estadual, tem permitido a estruturação de um trabalho que reduzirá os casos da doença.
Gerson Castro, responsável do governo estadual pelo combate à malária em Roraima, salienta que houve uma reestruturação no controle da doença e que isso permitiu uma maior interação entre os agentes públicos.
“A parte técnica é muito boa. O que faltava antes de 2023 era um apoio do governo federal para que as coisas acontecessem dentro do território Yanomami. A coalizão de forças para que o trabalho acontecesse dentro do território foi primordial para nosso avanço”, defende.
Gerson lembra que antes de 2023 não havia notificação de malária na região. “Agora, os profissionais estão trabalhando dentro do território. Não é que cresceu o número de casos, mas são as equipes fazendo seu trabalho no território”, pondera e completa: “temos uma melhora na integração da atenção básica e os DSEIs. Antes, tínhamos muita dificuldade. Estamos caminhando no sentido progressivo, houve uma aproximação”, conclui.
Brasil Saudável
O Brasil foi o primeiro país do mundo a lançar uma política governamental para eliminar ou reduzir, como problemas de saúde pública, 14 doenças e infecções que acometem, de forma mais intensa, as populações em situação de maior vulnerabilidade social. Essa é a proposta do Brasil Saudável, programa do governo federal. Com a iniciativa, o país estabelece um marco internacional, alinhado à OMS, às metas globais estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 e à iniciativa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para a eliminação de doenças nas Américas.
A meta é que a maioria das doenças sejam eliminadas como problema de saúde pública: malária, doença de Chagas, tracoma, filariose linfática, esquistossomose, oncocercose, geo-helmintíase, além de cinco infecções de transmissão vertical (sífilis, hepatite B, doença de Chagas, HIV e HTLV). Também o cumprimento das metas da OMS para diagnóstico, tratamento e redução da transmissão da tuberculose, hanseníase, hepatites virais e HIV/aids.
O Brasil Saudável surgiu da criação do Comitê Interministerial para a Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente (CIEDDS), uma ação inédita que, desde a sua instituição, em abril de 2023, reforça o compromisso do governo brasileiro com o fim de doenças e infecções determinadas e perpetuadas pelos ciclos da pobreza, da fome e das desigualdades sociais no país.
A instalação dessas medidas é parte da premissa que garantir o acesso apenas ao tratamento em saúde não é suficiente para atingir essas metas. É preciso propor políticas públicas intersetoriais que sejam voltadas para a equidade em saúde e para a redução das iniquidades, fator diretamente ligado às causas do problema.
Otávio Augusto | Ministério da Saúde