Braile: Alunos e servidores da Escola Centenário aprendem técnica de leitura inclusiva

A ideia é que as cerca de 500 pessoas que atuam na unidade de ensino aprendam a ler em Braille para promover a inclusão dos alunos com deficiência visual. – Fotos: Giovani Oliveira

Trabalhar a inclusão social é o principal objetivo de três professoras da Escola Municipal Centenário de Boa Vista, idealizadoras do projeto “Braille na Escola”. Isso porque a unidade de ensino localizada no bairro Aparecida, zona Leste de Boa Vista, conta atualmente com 34 alunos com deficiência, sendo duas alunas com deficiência visual. E agora, todos na escola, entre alunos e servidores, vão aprender a técnica de leitura.

As educadoras Tatielle Moreira, Taíse Campos e Andreia Pereira decidiram criar o projeto com a proposta de compartilhar com os alunos e com toda a comunidade escolar o ensino da leitura Braille, que utiliza apenas os dedos. Isso para envolver principalmente as alunas Lara Bianca, de 6 anos, que está no 1º ano do Ensino Fundamental; e Sofia Vitória, 8 anos, do 3º Ano do Ensino Fundamental.

Segundo Tatielle, professora de Libras, a ideia surgiu quando ela ficou doente e precisou se ausentar. “Após eu retornar para a escola, a professora Taíse, que dá aula para Lara, me procurou e viu a necessidade de incluir mais as pessoas, para que essas crianças com deficiência pudessem ter uma atenção maior. E a ideia é levar esse conhecimento para todos”, disse Tatielle.

Além de promover o ensino de uma linguagem inclusiva aos alunos, que envolve aprender o alfabeto pela leitura Braille e também a escrita dos seus nomes, o projeto também faz com que todas as crianças da escola se relacionem melhor com as alunas com deficiência visual.

Lara Bianca nasceu sem a visão, mas isso não a impede de fazer o que mais gosta: ir para a escola, estudar e também fazer novos amigos. A professora Taíse, da sala de recursos multifuncionais, conta que para conhecer a aluna, é preciso se apresentar, deixar ela tocar no rosto e braços e falar o que está vestindo.

“A Lara é uma pessoa encantadora, comunicativa, querida, doce e paciente. Tudo nela é com calma e ela tem muita curiosidade de saber como é o mundo. Ela quer tocar no rosto, saber a roupa que a pessoa está vestida, quais são as cores. Lara é uma pessoa como qualquer um de nós, com opiniões, gostos e olha que ela tem até uma personalidade forte. É uma criança que enriquece a nossa história e a nossa escola”, afirmou a professora.

Também criadora do projeto, Andreia Pereira acredita que esse projeto é fundamental para tornar a escola um ambiente mais agradável e inclusivo a todos, especialmente aos alunos com alguma deficiência. “A ideia é que as nossas alunas sem visão, por exemplo, sintam que esse sistema que elas aprendem pode ser usado por qualquer pessoa”, disse.

O projeto na prática

Lara, acompanhada das três professoras, agora vai regularmente às demais salas de aula, para mostrar aos colegas que todos podem aprender o sistema Braille. Uma delas é Isabel Karine Pereira, de 9 anos, que também está aprendendo a linguagem inclusiva.

“É um pouco difícil, mas com o tempo nós vamos aprendendo. E eu vejo que é importante conhecer a Lara, porque ela não consegue ver. E na hora do recreio temos que ter um cuidado com ela. Já somos amigas”, disse a estudante, que está no 4º ano do Ensino Fundamental.

De acordo com a gestora da escola, Jamile Frota, todas as salas de aula terão uma placa com o alfabeto em braile e toda a escola será adaptada para que a comunidade escolar possa conhecer melhor essa metodologia de ensino.

“As crianças estão gostando de conhecer o sistema braille, porque é uma ferramenta nova para elas. E a nossa ideia é essa: fazer com que todos aprendam”, explicou a gestora.

Educação especial

Atualmente, a rede municipal de ensino conta com 1.150 alunos com deficiência matriculados nas escolas e os educadores promovem metodologias diferenciadas para o aprendizado de cada criança.

Para atendê-los da melhor forma e garantir também um ensino de qualidade, o município desenvolve iniciativas como as mais de 60 salas de recursos multifuncionais e no Centro Municipal Integrado de Educação Especial, que são adequados para atender esse público que apresenta algum tipo de deficiência: física, intelectual, auditiva, visual, transtornos globais de desenvolvimento e, também, em casos de crianças com altas habilidades/superdotação.

Recentemente, a prefeitura adquiriu o programa Tix Letramento, um equipamento bem completo que trabalha com diversas deficiências e, dependendo de cada caso, é possível desenvolver várias atividades com as crianças. O recurso vem para somar ao atendimento especializado, com os professores que trabalham nas escolas da capital.

O equipamento tem acionadores, em que a criança pode utilizar o teclado, ou dependendo da necessidade que ela apresente, também pode utilizar o acionador por pressão de ar, por meio de uma bexiga, o botão Tix, além do acionador por piscadela, que é encaixado nos óculos da criança, em que ela pode escrever, piscando com os olhos.

Wandilson Prata

 

 

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