Coluna C & T: Organização de dados estruturais: síntese – Daniel Nascimento-e-Silva

]A primeira etapa dos da organização dos dados estruturais permite que se tenha uma lista de todos os componentes do fenômeno em termos absolutos e relativos. São ocorrências absolutas a quantidade de vezes que aquele componente é citado, enquanto as relativas são o produto da divisão da frequência absoluta do componente pela somatória de todas as frequências de todos os demais componentes. A primeira fase de organização permite uma visão panorâmica de todas as partes do fenômeno. Desde as maiores, que são representadas matematicamente pelas que apresentam maiores frequências, até as minúsculas, que são aquelas que apresentam apenas uma citação ou ocorrência. Isso vale tanto para os dados de natureza bibliográfica quanto para os de natureza empírica. Nunca é demais repetir que a finalidade das questões estruturais é conhecer todas os componentes do fenômeno, um a um. No caso dos dados bibliográficos, a intenção é saber o que a ciência já encontrou e estabeleceu como componente efetivo do fenômeno; no caso dos empíricos, a finalidade é comparar com a literatura para fazer avançar a ciência e permitir o início da prototipagem. Vejamos como são feitas as sínteses dessas descobertas.

Uma síntese é sempre uma representação pictórica onde se pode perceber cada um dos componentes do fenômeno o mais próximo possível da realidade. Uma fotografia é uma maneira de retratar a realidade de forma mais precisa, tanto para fenômenos visíveis quanto invisíveis, como as realidades que existem apenas no espectro do infravermelho. Mas nem tudo na realidade pode ser fotografado. Esse é o caso de fenômenos como a motivação e a satisfação humanas, os fatores que impactam a aprendizagem matemática de crianças, dentre inúmeros outros. A síntese é a grande descoberta visivelmente representada. E a forma mais comum de se fazer essa representação é através de organogramas, que é outra forma de fazer relação pai-filho-neto, muito comum na engenharia de produto e planejamento e controle de produção.

Essa figura mostra, no topo, o fenômeno em si. Cadeira, por exemplo. Logo abaixo aparecem as grandes partes, como Encosto, Assento e Estrutura, todas ligadas ao fenômeno Cadeira por linhas cheias, que representam relação de dependência. Se cada parte contiver subpartes (e quase sempre têm), elas são representadas em caixas abaixo da parte a que estiverem vinculadas. Em linguagem científica, Cadeira é o fenômeno; Encosto, Assento e Estrutura são as dimensões analíticas; e as subpartes de cada parte são as categorias analíticas. Em linguagem de engenharia, Cadeira é o pai do Encosto, Assento e Estrutura e avô de cada subparte, enquanto Encosto, Assento e Estrutura são pais de suas subpartes. Este é apenas um exemplo de como a síntese dos dados estruturais precisam aparecer. O que vale, consequentemente, é a criatividade do cientista em deixar compreensível o todo e suas partes.

Com base nessa arquitetura teórica que a síntese torna visível, que é o balanço da literatura, elaboram-se os testes de realidade. Os testes de realidade têm o desafio de aferir se aquela arquitetura teórica realmente funciona da forma prevista. Se não funcionar, novos testes serão necessários até que a realidade confirme a validade daquilo que se tem em forma estrutural. Note-se que esse teste e reteste tem o poder de fazer avançar o conhecimento científico ao mesmo tempo em que habilita o conhecimento das partes efetivas da futura tecnologia e o estabelecimento de um sequenciamento lógico de sua materialização. Isso significa, por outro lado, que dados empíricos também terão que ser coletados para a confecção da estrutura empírica do fenômeno e, posteriormente, da tecnologia. Note-se, também, que estrutura é sempre a representação de cada parte do todo com seus respectivos vínculos.

Há inúmeras técnicas e procedimentos disponíveis para a confecção de sínteses estruturais. Os mais famosos (mas muito pouco conhecidos de fato) são a análise fatorial exploratória (AFE) e confirmatória (AFC). A AFE faz duas coisas maravilhosas. A primeira é que ela reduz o número de variáveis de dezenas e centenas para algumas poucas dezenas. Para isso, ela calcula a correlação de cada variável na composição do comportamento do fenômeno. Quem influencia mais, tem mais carga fatorial. Depois, organiza essas variáveis em grupos, por afinidade, que os cientistas chamam de fatores. Os fatores fazem convergir as correlações e sintetizam as correlações das variáveis de seus componentes. Assim, cada fator é uma dimensão analítica, em linguagem científica, e cada variável, suas categorias. Veja que fantástico: tem-se aqui, matematicamente, o todo e suas partes. A segunda maravilha é decorrente da AFC: que reduz ainda mais o número de variáveis e fatores, deixando apenas aqueles que realmente são importante na determinação do comportamento do fenômeno. São os chamados modelos de equações estruturais. Aqui medem-se não apenas correlações das categorias para as dimensões, mas também das dimensões para as demais e para o todo. E a síntese é um desenho ao mesmo tempo estrutural, matemático e estatístico.

A finalidade de toda organização de dados é gerar a representação que mais se aproxime da realidade do fenômeno sob estudo. É como se fosse uma espécie de fotografia. Acontece, contudo, que a maior parte dos fenômenos da realidade não permitem serem fotografados. Os cientistas, então, utilizam diversos recursos que permitam tal representação. Isso é tão importante que não deve sair da mente de ninguém. E isso se reveste de mais importância quando se tem como desafio materializar uma tecnologia, porque, além do entendimento típico da ciência, é necessário que a síntese permita a engenharia do protótipo. A representação, portanto, precisa ser precisa na identificação das partes e subpartes quanto nas suas determinações matemática e estatística. As sínteses estruturais são ferramentas fundamentais nesse intuito.

(*) Daniel Nascimento-e-Silva, PhD, Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

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