Coluna Voz & Valor – por Carol Padilha

Coragem que Move Rorainópolis: O Protagonismo das Mulheres que Transformam a Cidade

Rorainópolis tem uma força que não aparece nos relatórios econômicos, mas movimenta a cidade todos os dias: a coragem das mulheres que empreendem. Entre o aroma do café fresco, o colorido das roupas expostas e o movimento das clientes nas lojas, há muito mais do que rotina — há propósito, gestão e impacto social.

O empreendedorismo feminino vai além de vender ou faturar. É sobre liderar a própria vida, gerar valor e transformar a comunidade, mesmo diante de desafios estruturais. Dados recentes mostram que, embora mulheres abram negócios na mesma proporção que homens e muitas vezes sejam mais escolarizadas, seus empreendimentos faturam menos, têm lucros menores, enfrentam taxas de juros mais altas e baixa diversificação. Ainda assim, elas seguem lutando para construir sonhos e negócios sólidos.
Histórias que inspiram

O Café da Morena está localizado na Br 174 km 212 centro – Rorainópolis

Albaniza Lima, 45 anos, casada e mãe de dois filhos, é dona do Café da Morena Expresso há 7 anos. Desempregada como pedagoga, enxergou na experiência com cafés da manhã uma oportunidade de negócio na cidade, enfrentando desafios relacionados a finanças e estrutura do espaço.
“Cada xícara servida é um pedacinho do meu sonho que se realiza. Ter meus filhos e meu esposo trabalhando comigo é minha maior conquista”.

Cada detalhe — do registro do caixa ao atendimento no delivery — reflete gestão prática e propósito. Albaniza mostra que o conhecimento empírico, aliado a pequenas ações diárias, constrói negócios com forte potencial de impacto econômico. Ela sonha em expandir, ter um espaço próprio e, eventualmente, franquear a empresa.

A Pretinha Modas está localizada na Rua Anauá, 2569, Rorainopolis.

Eliane Andrade, 42 anos, abriu a Pretinha Modas há 12 anos, realizando o sonho de infância de empreender. Vinda de uma família de baixa renda, com 15 irmãos, aprendeu cedo a lutar pelos próprios sonhos.

“Desde criança eu sonhava em ter minha própria loja, vestir mulheres como se fossem eu. Lembro que muitas vezes me vestia com roupas doadas, e isso despertou em mim o desejo de um dia poder escolher e oferecer as roupas que eu quisesse vestir. Cresci com esse sonho no coração — estudei, trabalhei muito e aprendi com cada desafio. Em 2013, senti que era a hora certa de tornar esse sonho realidade e abri minha tão desejada loja de moda feminina. No começo tive medo de não dar certo, mas tinha uma certeza: se eu não tentasse, nunca saberia se aquele sonho poderia se tornar real. Hoje, com 12 anos de história, seguimos firmes e cada vez mais consolidados no setor de vestuário feminino. E é uma alegria imensa ver outras mulheres se sentirem lindas com as peças que um dia eu também sonhei vestir”, conta ela.

Eliane enfrentou medos financeiros, dificuldades na definição do nicho e desafios na gestão inicial com sua irmã. Com resiliência, ela reconstruiu o negócio tijolo por tijolo, investindo em conhecimento e assumindo controle total da gestão. Hoje, possui ponto próprio, amplia suas vendas presencialmente e online, e ainda administra uma chácara com cacau e banana, conciliando vida pessoal e profissional com apoio familiar.
“Empreender é um ato de coragem, e isso nós mulheres temos de sobra.”

A POWER SPORTS está localizada na Avenida Ayrton Senna, 2571, Rorainopolis.

Eloilde Correia Monteiro Leal, 45 anos, casada e mãe de quatro filhos, chegou a Rorainópolis em outubro de 2020 com o sonho de empreender inspirado em seu pai, um grande empreendedor do Maranhão. Abriu a POWER SPORTS, loja de roupas esportivas, onde trabalha com o esposo e uma funcionária, e já está há 4 anos no mercado.

No início, Eloilde enfrentou enormes desafios: sem capital de giro e sem poder de comprar a prazo, precisou superar barreiras familiares, burocráticas e financeiras, como a obtenção da inscrição estadual e a liberação de crédito junto às fábricas.

“Muitas vezes eu amamentava minha filha na loja e, quando chegava cliente, tinha que interromper para atender e realizar vendas. Foi um momento muito difícil, mas eu superei”.

Ela também precisou lidar com clientes com crises de ansiedade e críticas externas, aprendendo que não se deve parar diante dos obstáculos. Hoje, Eloilde conta com bom estoque e investe constantemente no crescimento da empresa.

“Ser mulher empreendedora é romper todas as barreiras, crer em Deus e nunca desistir. Quando realmente queremos algo, assumimos nosso protagonismo”.

O cenário que poucos veem

Histórias inspiradoras como essasnos mostram a força do empreendedorismo feminino. Mas, por trás dessas conquistas, muitas mulheres ainda enfrentam desafios significativos para empreender. Segundo o Data Sebrae:

• 76% têm dificuldade em equilibrar os cuidados com a família e a gestão do negócio;

• Apenas 61% recebem incentivo de seus parceiros;

• 61% sacrificam momentos pessoais para atender à família;

• Cerca de 25% já sofreram discriminação de gênero;

• E, diariamente, dedicam em média 3,1 horas a cuidados familiares e 2,9 horas a tarefas domésticas — quase o dobro do tempo dos homens.

Esses números revelam o que não se vê nas vitrines nem nas fachadas das pequenas empresas. Por trás de cada marca, há jornadas de sacrifício, persistência e fé — histórias de mulheres que transformam limites em força.

No campo da gestão estratégica, isso se traduz em barreiras reais — desde o acesso ao crédito até a dificuldade de profissionalizar a gestão do negócio.

Na fase inicial do empreendimento, a sobrevivência depende de habilidades práticas como negociação, vendas, controle de capital de giro e criatividade para contornar restrições. Com o amadurecimento do negócio, entram em cena ferramentas de gestão que fortalecem a operação: controle financeiro, processos organizados, contratação de pessoal, registro de clientes, gestão de estoque e presença digital.

O acesso à informação, às linhas de crédito e às redes de apoio — sejam familiares, clientes, parceiros ou políticas públicas de incentivo — é o que diferencia a sobrevivência do crescimento. Essas mulheres aprendem, na prática, que disciplina e resiliência também são ferramentas de gestão poderosas.

Em Roraima, os negócios liderados por mulheres já representam mais de 28% do total de empreendimentos formais. Em Rorainópolis, essa presença se destaca em setores estratégicos como alimentação, vestuário, hotelaria, beleza, construção civil, entre outros. Albaniza, Eliane e Eloilde fazem parte de um movimento que, só na última década, gerou empregos, movimentou a economia local e inspirou outras mulheres a também acreditarem em seus sonhos.

Para fortalecer esse cenário, programas de capacitação, linhas de crédito específicas e parcerias estratégicas podem transformar inspiração em resultados concretos, impulsionando o crescimento dos negócios femininos na região.

Empreender, para uma mulher, vai muito além de abrir uma empresa — é um ato de coragem e resistência. Simone de Beauvoir nos lembra que a mulher se torna protagonista de sua própria história ao romper barreiras históricas.

Em Rorainópolis, isso se manifesta em cafés, lojas de roupas, salões de beleza e pequenos comércios que sustentam famílias inteiras e movimentam a economia local.

“Quando você compra no Café da Morena, na Pretinha Modas ou na Power Sports, não está apenas consumindo — está fortalecendo a economia da cidade e celebrando o protagonismo feminino que move Rorainópolis”.

Lições de Gestão Feminina

Gestão é cuidado – administrar um negócio exige o mesmo olhar atento de quem cuida de uma família.

Resiliência é estratégia – reinventar-se diante da crise é gestão em sua forma mais humana.

Rede de apoio é poder – embora muitas vezes a caminhada seja solitária, nenhuma mulher precisa empreender sozinha; o sucesso se multiplica quando é compartilhado.

Hábitos consistentes geram resultados – pequenas ações diárias constroem negócios sólidos.

Propósito dá direção – ter um sonho claro orienta decisões e mantém a motivação mesmo nos dias mais difíceis.

O empreendedorismo feminino não pede licença — ele acontece.
E você? Vai assistir ou vai agir?

(*) Carol Padilha é Empreteca, Administradora, Empreendedora, Dama Comendadora, Especialista em Gestão, Neurociência para Negócios, Psicologia Positivia. Apaixonada por ajudar pessoas a resolverem problemas complexos e a enxergarem sentido em suas jornadas.
Nota de Rodapé: Nesta coluna, trago reflexões que unem Gestão, Empreendedorismo, comportamento humano e experiências do cotidiano para inspirar você, leitor, a atravessar seus desafios com mais consciência, coragem e sentido

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