Do ensino à performance, mulheres se dedicam às artes e à transformação da sociedade

Independente da idade ou da condição social, todas são capazes de fazer boa arte. – Fotos: Andrezza Mariot

No campo das artes, todos podem aprender e exercer uma das muitas atividades que elas proporcionam, com qualidade e eficiência. E por milênios, as mulheres têm sido protagonistas, seja na música, na dança ou teatro, mostrando que são capazes de tocar um instrumento, compor, executar uma performance e ensinar, proporcionando a muitos uma forma diferente de ver o mundo.

Uma dessas artes é a música, que ao contrário do que muitos pensam, não é algo elitista, um privilégio relegado para poucos, mas sim algo para todas as pessoas. Independente do gênero, da idade ou da condição social, todos são capazes de aprender e fazer música. Não é questão de ter talento, mas disciplina e dedicação.

Essa é a filosofia seguida por Augusta Pacheco, que tem uma vida inteira dedicada a essa arte, sua paixão desde criança. Ela amava assistir filmes, desenhos e séries na TV e ficava apreciando as trilhas sonoras orquestradas. Aos 11 anos, teve a oportunidade de ingressar na escola de música, onde mesmo sentindo dificuldades com aquele universo relativamente novo em sua vida, persistiu e se tornou uma exímia violinista.

Em 2007, ingressou como aluna do IBVM, permanecendo até por volta de 2010, quando saiu para fazer faculdade de História. Mas em 2013, foi chamada a retornar, dessa vez, como professora de violino, função que desempenha desde então, além de ser violinista nas orquestras Sinfônica e de Câmara do IBVM.

“A grande mudança para mim foi quando entrei no instituto. Ali aprendi que eu não tinha que estudar por mim mesma, na minha velocidade, mas sim estudar para acompanhar o meu grupo, para poder fazer tudo certinho. E foi aí que eu percebi o que eu queria para a minha vida”.

Uma arte transformadora

A pianista Claribel Puentes também tem na música uma ferramenta fundamental de transformação em todas as áreas. Ela aprendeu a tocar antes mesmo de aprender a ler, graças ao incentivo de seus pais, que legaram a ela e aos seus irmãos um ambiente voltado às artes. Hoje é professora licenciada em Música, com mestrado em Ciência da Educação.

Claribel está há quatro anos no IBVM, atuando como professora de música de piano e recentemente assumiu a coordenação pedagógica do instituto. Ao se deparar com crianças, adolescentes e até idosos estudando e aprendendo música com ela, a musicista teve certeza de que aquele era o caminho certo que deveria seguir.

“A música muda a forma de pensar, de ver o mundo e até a si mesmo. Não é algo que se impõe, mas que começa dentro da pessoa e logo se exterioriza. E aí você tem bons cidadãos que só farão o bem à sociedade. Pois através da música, se desenvolve a responsabilidade e o companheirismo. Um sentido de pertencimento, que lhe dá segurança”, disse.

Tanto Claribel quanto Augusta ressaltam às mulheres que querem também ingressar na música: que apenas lutem por aquilo que acreditam. “Tudo o que você quer é precioso. E por isso, tem valor agregado. Daí a importância da sua luta e do seu esforço para conquistar todos os seus sonhos e objetivos”, ressaltou Claribel.

“Tive uma aluna de 76 anos e ela disse para mim ‘eu quero aprender violino’, pois toda a vida ela quis isso para ela. E ela fez aula comigo e aprendeu. Só parou com as aulas por que teve que sair do estado. Mas ela levou o violino e continua estudando e praticando. Isso mostra que não há limites para o que você quer fazer”, disse Augusta.

“Nunca deixem de sonhar!”

Outra profissional das artes que exerce suas atividades com qualidade, beleza e com um enorme desejo de mudar o mundo é Aila Rebeca, que já tem uma carreira de 15 anos dedicada à dança. Há oito anos atua como professora de dança, além de ser graduada em Educação Física. Já passou por diversos projetos sociais e hoje é professora do Curso de Ballet no Teatro Municipal de Boa Vista.

Dançar sempre foi um sonho. Quando tinha 3 anos, Aila já dizia – com segurança – a todos que queria ser bailarina. Mas, por se tratar de uma arte que demanda um custo um tanto alto, em termos financeiros, ela não começou a estudar na época. E sua família não tinha condições de comprar as roupas e calçados necessários, além das mensalidades dos cursos disponíveis.

Mas através de um projeto social, ela conseguiu ingressar num curso e passou a desenvolver essa arte, começando pelo ballet clássico. Mas logo também passou pela dança contemporânea, como hip-hop, ballet aéreo e jazz.

“A dança é uma arte que abre portas e muda vidas, não apenas no campo profissional. Mas também muda seu jeito de ver o mundo, sua autoestima, a desinibição, a coordenação motora. Quem dança sempre leva a vida de um jeito melhor. É o que a arte proporciona ao ser humano”.

O Curso de Ballet no teatro teve início em janeiro deste ano, mas a proposta já era pauta de conversas há mais de um ano. E quando todo o planejamento se concretizou, Aila abraçou a missão de levar a essência da dança às crianças, principalmente as que estão em situação de vulnerabilidade. “Assim como a dança mudou a minha vida, tenho certeza que vai também mudar a vida delas. Algo que vai impactá-las para sempre”.

Assim como em todas as artes, para a dança não há limites. Aila aconselha que todas as mulheres que desejam aprender devem antes se desprender de todo e qualquer tipo de preconceito, principalmente relacionado a idade e condições físicas, pois para dançar não é preciso ter um “corpo” adequado.

“Minha recomendação é: nunca deixe de sonhar. Nunca ponha empecilhos para aquilo que te faz bem. Para a dança, não existe idade. Não é preciso ter corpo certo para você dançar. Então, se você quer uma atividade que te deixe mais leve, que melhore sua autoestima, a confiança e mobilidade, a dança é o que você precisa”.

Fábio Cavalcante

 

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